No dia 24 de janeiro de 1954, o São Paulo venceu o Santos, fora de casa, por 3 a 1, com gols marcados por Maurinho, Albella e Negri, e sagrou-se campeão paulista da temporada de 1953, marcando a conquista do sétimo troféu estadual da história do clube.
AS PUBLICAÇÕES DA ÉPOCA
A TRAJETÓRIA DA CONQUISTA
O Tricolor iniciou o torneio no dia 19 de julho com uma goleada de 6 a 1 sobre o Comercial, da Capital, no Pacaembu, com direito a trinca de gols de Maurinho. No fim de semana seguinte, 3 a 0 para o Tricolor sobre o XV de Jaú. Contra o outro XV, o de Piracicaba, o São Paulo deixou escapar a vitória, no dia 2 de agosto: 1 a 1. O resultado não abateu os são-paulinos. Pelo contrário, motivou! O time emplacou 14 vitórias seguidas na competição!
Vale destacar as vitórias por 3 a 1 no Palmeiras, no dia 13 de setembro; por 2 a 0 na Portuguesa, no dia 27 de setembro; por 1 a 0 sobre o Corinthians, sete dias depois; e a goleada de 4 a 1 no Santos, no dia 17 de outubro. Apesar da extrema qualidade da linha ofensiva representada, principalmente, por Maurinho, Albella e Gino, autores, respectivamente, de 17, 16 e 15 gols pelo Tricolor no torneio, o forte da equipe na verdade era o seu conjunto, ou melhor, o padrão de jogo encontrado por Jim Lopes, que pode ser visto na escalação mais comum do time:
Poy; De Sordi e Mauro; Pé de Valsa, Bauer e Alfredo Ramos; Maurinho, Albella, Gino, Negri e Teixeirinha. Esse foi o alinhamento que mais vezes foi repetido em toda a história do São Paulo – história, esta, composta por mais de seis mil jogos. Foram 15 escalações assim formadas, 14 delas válidas pelo Paulistão de 1953 (ou seja, metade das partidas da equipe na competição).
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ZEBRA, OU MELHOR, ELEFANTE
Quando Lopes necessitava proceder com alguma mudança, apenas uma ou outra peça era alterada, pontualmente. Com esse padrão, o time venceu 11 vezes, empatou uma (contra a Ponte Preta, no dia 29 de novembro, que quebrou a série de 14 vitórias consecutivas) e perdeu duas. A primeira derrota, por sinal, e que pôs fim à bela série invicta de 19 jogos, foi uma tremenda surpresa, uma baita zebra. Aliás, na verdade, um imenso elefante!
No dia 13 de dezembro de 1953, o São Paulo foi ao Gigante de Madeira, em Lins, enfrentar o Linense, que terminaria aquela edição na 10ª posição, entre quinze participantes. De lá o Tricolor voltou para São Paulo com uma derrota de 4 a 1 na bagagem. Detalhe: estava 4 a 0 até os 49 minutos do segundo tempo, quando Gino fez o gol de honra do Tricolor.
Ninguém acreditou. Nem mesmo os torcedores locais, que fizeram uma festa homérica na cidade, mas sem, ao que se sabe, paquiderme algum a desfilar pelas ruas da cidade, como diz a lenda que se espalhou pelo meio esportivo, anos depois – o elefante era a mascote do Linense.
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A LUTA PELO TÍTULO
Depois desse choque, sobrou para o Nacional, que acabou goleado no Pacaembu por 4 a 0, seis dias depois. A rotina vencedora parecia ter se reestabelecido com mais uma vitória sobre o XV de Jaú por 3 a 1, em “casa”, na antevéspera de Natal. Depois das festas de fim de ano, entretanto, e talvez por causa das ceias caprichadas e merecidas, o São Paulo acabou perdendo para a Portuguesa, por 1 a 0, no dia 3 de janeiro de 1954. Nada comprometedor.
A marcha pelo título continuou inabalável. Vitória por 2 a 0 sobre o Juventus, no dia 9 de janeiro, e por 3 a 2 sobre o Guarani, no dia 16. O troféu poderia ser, então, conquistado com duas rodadas de antecipação, no jogo contra o Santos, na Vila Belmiro, um dia antes do aniversário de 400 anos da cidade de São Paulo (e, ora, o mais importante, de 24 anos do próprio Tricolor).
A tábua de classificação apontava, naquele momento, o São Paulo como líder da competição (aliás, o ponteiro da disputa, isolado, desde a sétima rodada), com 44 pontos ganhos, e o Palmeiras, na segunda posição, com 40 pontos, restando três partidas para os dois clubes.
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Nos jogos seguintes, se o Tricolor encararia o Santos fora de casa, o Palmeiras receberia a Portuguesa. Depois, o São Paulo poderia ter um difícil embate com o Corinthians, na penúltima rodada, enquanto o Palmeiras se teria com o Linense, nos próprios domínios. Por fim, a última rodada do certamente envolveria justamente os personagens do Choque-Rei.
A esperança do time do Parque Antártica era contar com um tropeço são-paulino, talvez com uma ajuda corintiana, e se manter vivo até o confronto direto, em que poderia empatar a pontuação e levar a decisão do título para o supercampeonato: um jogo desempate entre os dois times.
Agora, para os tricolores comemorarem o título, o quanto antes, bastava derrotar o time santista e o Palmeiras não vencer a Portuguesa. Caso o impasse persistisse, com vitórias de ambos, um mero empate do Tricolor com o Corinthians seria o marco final da disputa do Paulistão de 1953, independentemente dos demais resultados.
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MOMENTOS DECISIVOS
Empolgada, a torcida são-paulina desceu a Serra em peso: mais de 20 mil pessoas compareceram à caravana organizada pelo Tricolor, por ônibus e por trem especial, para a decisão do título, mesmo sem saber se conseguiriam entrar no estádio (o comunicado do clube era claro: sem direito a ingresso – mas ninguém se importou).
Independentemente de garantias, os relatos dos jornais indicam que a massa tricolor era predominante no Estádio Urbano Caldeira. E ela não se decepcionaria. No primeiro tempo, o jogo foi até um pouco equilibrado, e aberto, por ambas as partes, até que, aos 21 minutos, Maurinho sofreu falta cometida por Feijó, a dois metros da entrada da área. O próprio ponta são-paulino assumiu a cobrança e, atravessando a barreira, a bola por ele disparada atingiu as redes santistas, abrindo o placar a favor do Tricolor.
Pouco depois, aos 29 minutos, Maurinho encontrou Albella à altura da intermediaria do time local. O argentino, então, driblou o seu marcador, avançou sozinho até a entrada da área e, frente a frente com o goleiro, não teve dificuldades para despachar a pelota para o fundo do gol e ampliando a vantagem são-paulina para 2 a 0.
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O líder do campeonato vacilou apenas aos 36 minutos: depois de cobrança de escanteio, Álvaro, de cabeça, descontou para o time da casa. Nada que tenha ameaçado o controle e o ritmo de jogo por parte dos tricolores. Na verdade, a partida no segundo tempo caiu em volume ofensivo, com os santistas deixando o ataque de lado e os são-paulinos cadenciando a troca de passes.
Ao que tudo indica, o mesmo ocorria no Pacaembu, entre alviverdes e rubro verdes. A partida na capital paulista, porém, estava alguns minutos atrasada em relação à disputada na Vila Belmiro, sabe-se lá por qual motivo. Desta maneira, quando Juan José Negri marcou o terceiro tento são-paulino, sacramentando a vitória do Tricolor aos 36 minutos da segunda etapa, a peleja paralela apontava, provavelmente, um 1 a 1 no placar. Mas por pouco tempo. Aos 30 minutos da segunda etapa do jogo na Paulicéia, o Palmeiras anotou mais um gol, com Berto.
Esse resultado levava tudo a mais uma rodada, pelo menos.
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APREENSÃO E COMEMORAÇÃO
Desta maneira, ao soar o apito final do árbitro Antônio Musitano, no Estádio Urbano Caldeira, os tricolores se mantiveram contidos. Felizes pelo resultado, ainda confiantes, mas contidos. Correram então para os vestiários, onde escutaram, via rádio, os minutos finais do jogo que ainda lhes interessava.
Aí, aos 36 minutos, a torcida da Portuguesa comemorou, tímida, o gol de Julinho Botelho, que empatou aquela partida. Ao passo que os tricolores, no balneário ou nas arquibancadas da Vila Belmiro, explodiram de alegria!
Os minutos passaram rapidamente e tudo o que perdurou foi a imensa festa tricolor. O São Paulo assim se sagrou Campeão Paulista de 1953!
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Ainda em júbilo, o capitão Bauer concedeu as primeiras palavras à imprensa enquanto ainda trocava de roupa, lembrando da pressão e cobrança surgida após tantos jogos invictos e as inesperadas e esparsas derrotas ao longo do torneio.
A conquista certamente foi ainda mais especial para ele, embora o atleta nunca relembrasse a dolorosa contusão sofrida em 1952. Foi uma imensa volta por cima, depois de muitos terem cogitado que o craque não teria mais condições para jogar futebol.
Jim Lopes, por sua vez, desabafara, afirmando que a conquista havia sido “contra tudo e contra muita coisa estranha”, mas que estava “contente por ter colaborado dentro do possível para o São Paulo conquistar o título de campeão na temporada de 1953”.
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Foi a primeira conquista são-paulina após o inesquecível time de Leônidas e companhia, que faturou cinco canecos nos anos 1940. Curiosamente, o último troféu recebido pelo Rolo Compressor veio em cima do Santos, em uma vitória também por 3 a 1, naquela vez, no Pacaembu, em 1949.
Daquele time consagrado, restaram de titulares apenas Mauro, Bauer e Teixeirinha nessa campanha. Este último, por sinal, estabeleceu um recorde que se mantém até hoje: o atacante é o maior campeão paulista do clube em todos os tempos, com seis títulos (1943, 1945, 1946, 1948, 1949 e 1953).
Assim, no dia 25 de janeiro de 1954, quando o Município de São Paulo celebrava o quarto centenário de existência, quem ainda comemorava mesmo, e muito, era a torcida são-paulina, feliz pelo sétimo grande título de sua história.
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FESTA E ENTREGA DE FAIXAS
Ainda como parte das festividades, o campeão paulista enfrentou o campeão carioca, o Flamengo, em dois jogos de entrega de faixas. No Maracanã, no dia 28 de janeiro, o São Paulo repetiu o placar de jogo contra o Santos: 3 a 1 nos rubro-negros, com gols marcados por Teixeirinha, Maurinho e Negri.
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O jogo de volta, no Pacaembu, ficou para depois do confronto com o Corinthians, que queria carimbar as tais faixas. Sem chance! Mais uma vez ostentando uma vitória por 3 a 1, com tentos anotados por Negri, Teixeirinha e Gino, o Tricolor deixou os corintianos a passar vontade.
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Depois de derrotar o Flamengo, novamente, desta vez por 1 a 0, no dia 4 de fevereiro, o São Paulo encerrou a participação do clube no Campeonato Paulista que para toda a história ficaria conhecido como seu vencendo também o Palmeiras, por 2 a 1, no Estádio Municipal, no dia 7 de fevereiro. Este foi o fim da temporada de 1953 para o Tricolor do Canindé, ou, já poderíamos dizer, do Tricolor do Morumbis?
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JOGO DO TÍTULO
24.01.1954
Santos (SP), Estádio Urbano Caldeira (Vila Belmiro)
SANTOS Futebol Clube 1 X 3 SÃO PAULO Futebol Clube
SFC: Barbozinha, Hélvio e Feijó; Pascoal, Formiga e Zito; Del Vecchio, Orlando, Álvaro, Vasconcelos e Tite. Técnico: Antoninho.
Gol: Tite, 36′/1.
SPFC: José Poy; De Sordi e Mauro; Pé de Valsa, Bauer e Alfredo Ramos; Maurinho, Gustavo Albella, Gino Orlando, Juan José Negri e Teixeirinha. Técnico: Jim Lopes.
Gols: Maurinho, 21′/1; Gustavo Albella, 29′/1; Juan José Negri, 36′/2
Árbitro: Antônio Musitano
Renda: Cr$ 510.915,00
Público: Desconhecido
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CAMPANHA
Fase única – Turno
19.07.1953 – 6 X 1 – COMERCIAL Futebol Clube (São Paulo – SP)
26.07.1953 – 3 X 0 – Esporte Clube XV de Novembro (Jaú – SP)
02.08.1953 – 1 X 1 – Esporte Clube XV de Novembro (Piracicaba – SP)
09.08.1953 – 4 X 1 – NACIONAL Atlético Clube (SP)
16.08.1953 – 1 X 0 – Clube Atlético JUVENTUS (SP)
22.08.1953 – 1 X 0 – Associação Atlética PONTE PRETA (SP)
30.08.1953 – 3 X 0 – GUARANI Futebol Clube (SP)
05.09.1953 – 4 X 1 – Clube Atlético YPIRANGA (SP)
13.09.1953 – 3 X 1 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)
19.09.1953 – 4 X 2 – Clube Atlético LINENSE (SP)
27.09.1953 – 2 X 0 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
04.10.1953 – 1 X 0 – Sport Club CORINTHIANS Paulista (SP)
11.10.1953 – 2 X 0 – Associação Atlética PORTUGUESA (Santos – SP)
17.10.1953 – 4 X 1 – SANTOS Futebol Clube (SP)
Fase única – Returno
01.11.1953 – 2 X 0 – COMERCIAL Futebol Clube (São Paulo – SP)
08.11.1953 – 4 X 2 – Esporte Clube XV de Novembro (Piracicaba – SP)
15.11.1953 – 3 X 0 – Associação Atlética PORTUGUESA (Santos – SP)
29.11.1953 – 0 X 0 – Associação Atlética PONTE PRETA (SP)
06.12.1953 – 1 X 0 – Clube Atlético YPIRANGA (SP)
13.12.1953 – 1 X 4 – Clube Atlético LINENSE (SP)
19.12.1953 – 4 X 0 – NACIONAL Atlético Clube (SP)
23.12.1953 – 3 X 1 – Esporte Clube XV de Novembro (Jaú – SP)
03.01.1954 – 0 X 1 – Associação PORTUGUESA de Desportos (SP)
09.01.1954 – 2 X 0 – Clube Atlético JUVENTUS (SP)
16.01.1954 – 3 X 2 – GUARANI Futebol Clube (SP)
24.01.1954 – 3 X 1 – SANTOS Futebol Clube (SP)
31.01.1954 – 3 X 1 – Sport Club CORINTHIANS Paulista (SP)
07.02.1954 – 2 X 1 – Sociedade Esportiva PALMEIRAS (SP)
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O ELENCO VENCEDOR
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CLASSIFICAÇÃO FINAL
Time | PT | JG | V | E | D | GM | GS | SG | |
1 | São Paulo FC | 50 | 28 | 24 | 2 | 2 | 70 | 21 | 49 |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
2 | SE Palmeiras | 43 | 28 | 19 | 5 | 4 | 85 | 45 | 40 |
3 | SC Corinthians P | 38 | 28 | 15 | 8 | 5 | 60 | 45 | 15 |
4 | A Portuguesa D | 33 | 28 | 13 | 7 | 8 | 60 | 45 | 15 |
5 | Guarani FC | 31 | 28 | 12 | 7 | 9 | 39 | 34 | 5 |
6 | AA Ponte Preta | 28 | 28 | 10 | 8 | 10 | 42 | 36 | 6 |
7 | Santos FC | 27 | 28 | 12 | 3 | 13 | 60 | 52 | 8 |
8 | EC XV de Piracicaba | 27 | 28 | 10 | 7 | 11 | 58 | 55 | 3 |
9 | Comercial FC | 26 | 28 | 10 | 6 | 12 | 45 | 44 | 1 |
10 | CA Linense | 25 | 28 | 10 | 5 | 13 | 51 | 61 | -10 |
11 | EC XV de Jaú | 24 | 28 | 10 | 5 | 13 | 52 | 64 | -12 |
12 | CA Ypiranga | 19 | 28 | 6 | 7 | 15 | 39 | 64 | -25 |
13 | CA Juventus | 19 | 28 | 6 | 7 | 15 | 34 | 66 | -32 |
14 | AA Portuguesa (Santos) | 19 | 28 | 6 | 7 | 15 | 34 | 53 | -19 |
15 | Nacional AC | 10 | 28 | 3 | 4 | 21 | 42 | 86 | -44 |
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Por Michael Serra / Arquivo Histórico João Farah