“Isso aqui é só uma experiência, é um livro que a gente só olhou a capa, ainda não abrimos nem a primeira página. E a capa foi: Encontro das Mulheres Yawanawá”, foram com essas palavras impactantes que a cacique Maria Júlia Yawanawá descreveu um marco histórico para o povo: o Primeiro Encontro das Mulheres Yawanawá, que aconteceu na última terça-feira, 27, na Aldeia Mutum, uma das 17 aldeias que se localizam ao longo do Rio Gregório, em Tarauacá.
O encontro reuniu 14 anciãs e mulheres de todas as aldeias do povo Yawanawá, e foi um momento de emoção, troca de experiências e de reencontro, já que muitas delas não se encontravam a anos. “Eu fiquei muito feliz de ter esse encontro desde a minha Aldeia Matrinxã, até a Aldeia Sagrada, a gente se encontrou, as anciãs faziam tempo que não se encontravam e isso foi muito importante. Eu vou sair tão feliz aqui da Aldeia Mutum por ter encontrado todas as mulheres Yawanawá”, disse Lêda Yawanawá que esteve participando do encontro.

O governo do Estado do Acre esteve apoiando o evento por meio da Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi), uma demonstração de valorização das tradições indígenas e do apoio a esse nova fase das mulheres Yawanawá. “Nós estamos muito felizes com o encerramento do Primeiro Encontro das Mulheres Yawanawá. Foi um momento de fortalecimento da história. Esse momento foi proporcionado com o apoio do governo, por meio da Sepi, e esse olhar sensível de valorização ao trabalho das mulheres é uma tarefa que será tido como um trabalho contínuo”, destacou a diretora da Sepi, Nedina Yawanawá, que esteve acompanhando o evento.

O objetivo do encontro foi de trazer a reflexão de “Quem somos nós? Qual é o nosso papel?”, principalmente para as mulheres mais jovens, que escutaram atentamente a história de vida e os conselhos deixados pelas anciãs.

“Eu acredito que o trabalho só está começando e é um trabalho muito grande. Eu quero aqui agradecer ao Governo do Estado do Acre na pessoa da secretária Francisca, por ter essa sensibilidade, esse olhar de respeito por um trabalho que está sendo feito pelas mulheres. Se não fosse esse apoio, talvez não teríamos conseguido”, frisa a cacique Maria Júlia Yawanawá.

Outro importante e emocionante momento do encontro foi a chegada da líder espiritual Hushahu Yawanawá, que estava em um retiro espiritual de um ano, período em que aprofundou seus conhecimentos e práticas tradicionais. Admirada por todas, com uma postura delicada, mas imponente, Hushahu foi aquela que abriu caminhos para as mulheres Yawanawá e, além de lutar para que se mantivesse, renovou as artes do povo.

“Eu não sabia se ainda estaria aqui me encontrando com a minha família. Hoje, toda essa beleza que eu vejo no rosto de cada mulher nas pinturas, nos adereços, foi o sonho de quando eu entrei na dieta. Eu pensei no futuro e estou vendo o futuro agora. Foi uma jornada muito forte e muito profunda na minha vida, quando eu me despertei foi uma loucura”, destacou.
Para a liderança Maria Júlia, o trabalho que Hushahu vem desenvolvendo a 20 anos é um resgate da autoestima e do papel da mulher Yawanawá. “O trabalho que ela desenvolveu desde 2005, decidindo ir para a floresta, fazer uma dieta, ir em busca de novos conhecimentos. Ela desbravou um mundo que abriu portas de libertação, de consciência da beleza, da confiança que a mulher precisa ter em si”, celebra a cacique.
A arte é o coração que move os Yawanawá

Além do Primeiro Encontro das Mulheres Yawanawá, a Aldeia Mutum também foi palco da maior exposição de artesanato da história do povo, isso porque reuniu artesãs de todas as aldeias. Embalada por músicas e danças tradicionais a exposição foi visitada por pessoas do Brasil e do mundo que estavam de passagem pelo território.
“A arte é como um coração que nos move, ela está em tudo: na música, nas pulseiras, na pintura”, destacou a cacique Maria Júlia, idealizadora do evento.

Pulseiras, brincos, tornozeleiras, colares, anéis, quadros, vestimentas e outros acessórios foram expostos no local, sob o olhar atento da anfitriã Hushahu Yawanawá. “A minha missão aqui na Terra é deixar os tesouros das memórias dos ancestrais para a nossa geração. Eu aprendi o que eu podia tirar da floresta para começar a criar a nossa arte, eu fui testando e foi aí que eu comecei a trazer esses novos modelos para as nossas artesãs”, explicou.
Para Aldenísia Yawanawá, da Aldeia Amparo, o artesanato é uma forma de comunicação para as mulheres indígenas. “Cada mulher trouxe o seu trabalho, mostrou o seu trabalho, como são suas lutas de hoje. Mudou um pouco, mas eu acho que tudo que vimos agora são as nossas histórias que estamos expondo”, destaca.
The post Povo Yawanawá celebra sucesso do Primeiro Encontro das Mulheres Yawanawá, na Aldeia Mutum appeared first on Noticias do Acre.