O cantor João Bosco, da dupla João Bosco & Gabriel, foi o convidado especial do podcast Folha Nobre, realizado no sábado, 9 de agosto. Em um bate-papo descontraído e, ao mesmo tempo, carregado de emoção com o jornalista Ivan Lara, o artista abriu o coração e, pela primeira vez, contou com riqueza de detalhes sua história de vida, marcada por desafios, fé e perseverança.
Logo no início da entrevista, João Bosco fez questão de destacar que aquela seria uma conversa inédita e especial para ele:
“Por incrível que pareça, no podcast é a primeira vez que eu vou contar minha história.”
O cantor nasceu no Mato Grosso, mas ainda bebê, aos dois anos, mudou-se com a família para Rondônia. Sua infância e adolescência foram vividas no interior, passando por cidades como Rolim de Moura, Santa Luzia, Alto Alegre, São Miguel do Guaporé e São Francisco do Guaporé. Nessas localidades, ele cresceu em meio à vida simples e ao trabalho no campo, o que moldou sua personalidade resiliente. Relembrando esse período, falou sobre o quanto começou cedo na lida:
“Eu com 10 anos já ganhava diária de um homem adulto capinando.”
A entrevista seguiu revelando histórias de superação e momentos que marcaram sua trajetória. João Bosco contou que, aos 12 anos, sustentou a família por seis meses vendendo caldo de cana nas ruas. A cena que ele descreve é um retrato vivo da luta de muitas famílias brasileiras, onde a infância é compartilhada com responsabilidades de adulto:
“Eu sei o que é passar fome, eu sei o que é dividir uma lata de sardinha com os seis irmãos.”
Foi ainda na juventude que a música entrou de forma definitiva em sua vida. Inspirado por cantores evangélicos e envolvido com a igreja, começou a cantar nos cultos, descobrindo ali não apenas um talento, mas também um propósito. Com muito esforço, aos 15 anos gravou sua primeira fita K7, resultado de meses de trabalho braçal. Pouco depois, aos 16, teve a oportunidade de gravar em Goiânia, viagem viabilizada com a ajuda de vereadores e empresários que acreditaram em seu potencial.
A carreira musical passou por diversas fases. Uma das mais significativas foi a dupla Alan & Alex, formada com o irmão. Juntos, conquistaram espaço no cenário gospel, até que, em 2013, a trajetória foi interrompida de forma abrupta. O irmão de João Bosco faleceu vítima de câncer no pâncreas, fato que mergulhou o cantor em um período de profunda depressão:
“Perder meu irmão foi como perder o sonho, perder o mundo, perder tudo.”
Entre pausas, reflexões e dores, veio também o renascimento artístico. O apoio da família e a fé foram essenciais para que ele retomasse a motivação de seguir em frente:
“Deus mostrou para mim que a minha história não tinha terminado ali.”
Depois de um período em carreira solo como Alan Reis, João Bosco decidiu migrar para o sertanejo. Em 2019, nasceu a dupla João Bosco & Gabriel. Logo no início, alcançaram repercussão nacional com a música Alô Ex-Amor, que ganhou força nas plataformas digitais e rádios de todo o Brasil. A pandemia de 2020 interrompeu uma agenda de shows promissora, mas não a determinação da dupla. Canções como Localiza aí Bebe e Assume a Gente mantiveram o nome do projeto em evidência.
Entre os momentos recentes que mais o marcaram, está a apresentação na Exposição de Rolim de Moura. No palco, diante de milhares de pessoas, João Bosco se ajoelhou ao lembrar da própria infância na cidade. A emoção foi inevitável:
“Veio aquele filme na minha cabeça, aquele menino vendendo caldo de cana, engraxando sapato… e eu falei: cara, deu certo.”
Durante o bate-papo, João Bosco também falou sobre princípios que carrega consigo e que considera essenciais em sua vida e carreira:
“Se faltou a fé, faltou tudo.” “Família é a base, é tudo.” “A música é vida.”
Com mais de duas horas de conversa, a entrevista revelou não apenas o artista, mas o ser humano por trás dos palcos. Um homem que construiu sua história sem esquecer de onde veio e que reconhece o papel fundamental de quem o acompanha:
“O artista sem fã não tem carreira… vocês são os nossos patrões.”