Na pele de Danda, de ‘I Love Paraisópolis’, Tatá Werneck arranca risadas do público com suas ‘dandices’. Na entrevista a seguir, Tatá fala sobre a discriminação do humor, diz que está praticamente casada com o namorado, Renato Góes, e rejeita o rótulo de celebridade. Tatá também disserta sobre o lado ruim da fama e lembra que já teve que pedir para apagar uma foto dela tirada dentro do hospital, quando estava tomando soro: “Tive que levantar do soro e pedir por favor para a pessoa apagar”.
O que eu quero dizer é o seguinte: ninguém criticou o seu talento como atriz. Houve um pré-conceito antes do personagem estrear porque as pessoas acharam que seria uma nova Valdirene. E elas viram que não era isso. Pouquíssimas pessoas ainda associam você a Valdirene.
Na verdade, as pessoas me conhecem como apresentadora e eu venho fazendo coisas doidas: a Valdirene é uma doida e a Danda também. Aí colocam tudo em um pacote só. Eu procurei fazer uma outra personagem que também é ‘fora da casinha’, só que em outro tom. Valdirene era dez vezes acima da Danda.
Você está se divertindo?
Sim. Muito. Ainda mais porque o elenco ficou muito amigo. Foi de cara. Muitas vezes a equipe tem que falar “Tá bom. Tatá e Bruna (Marquezine) parem de rir”. Porque a gente tem muita intimidade. Eu, Bruna, Maria Casadevall, Caio Castro, Alexandre Borges… A gente se diverte demais. Eu só fiz duas novelas, mas as pessoas falam que poucas vezes viram uma novela com o clima tão bom. A gente é muito parceiro.
Você acredita na ingenuidade da Danda ou ela está querendo se dar bem?
Ela não é ingênua. Ela é bem esperta, mas é sem noção. Ela tem um senso de justiça, mas dentro do que ela considera justo.
A Danda tem a autoestima lá nas alturas. Como é a sua autoestima?
Cara, minha autoestima também é muito boa. Na verdade, autoestima tem a ver com criação, com amor, com afeto, com você se amar. Não tem a ver com nada além disso. Ninguém é capaz de ferir a minha autoestima porque eu sei o meu valor, eu sei a namorada que eu sou, sei a filha que eu sou. Eu me valorizo pra caramba. Não tenho autoestima baixa de maneira alguma. Por exemplo, tirar foto para revista é a coisa que mais me deixa constrangida porque eu geralmente sempre brinco em foto, quero fazer uma careta… Mas eu tenho que me levar a sério nesses momentos e eu desperto um outro lado meu.
Sim. Outro lado que as vezes as pessoas nem sabem que existe. Como a vaidade da Tatá, né?
As pessoas viram pra mim e perguntam: “Tatá, você é comediante. Então como é o namoro?”. Parece que eu sou um E.T. e que existe um alien que vai sair da minha orelha. A questão é que eu não tenho vaidade em cena. Eu lembro que em ‘Amor à Vida’ eu falei para o Maurinho (Mauro Mendonça Filho): “eu quero que você me coloque para fazer coisas que nenhum atriz toparia fazer por vaidade”. Eu fiz coisas superloucas. Fiquei pelada e abri um espacate. Não tem como fazer humor se você tiver a vaidade da pessoa física antes da pessoa jurídica.
A Tatá pessoa física quando não vai encarnar um personagem, quando tem que posar como Tatá, está mais desinibida hoje em dia?
Mais desinibida?
É. Para fazer fotos, essas coisas.
Não. Eu tenho muita vergonha de fazer fotos. Eu lembro que a primeira capa que eu fiz foi da ‘Gloss’ e o fotógrafo falou: “faz tal pose”. Eu fiz foto sensual para a ‘GQ’ também. Eu tenho esse lado, mas as pessoas não estão acostumadas a ver e já olham com estranhamento. O estranhamento não é nem meu, porque eu tenho esse lado também. Só que não é esse lado que as pessoas compram de mim.
Você acha o preço da fama alto?
É alto.
Qual a pior parte desse preço?
Acho que é as pessoas te julgarem por qualquer coisa. Eu não deixei de fazer nada que eu fazia antes. Nunca pensei: “não posso sair isso porque vai sair na mídia”. Mas qualquer coisa que você faça, as pessoas te julgam.
Não é bem assim. Você deixou de beijar em público, por exemplo…
Eu nunca beijei em público. Eu nunca beijei meu namorado na frente dos meus pais, por exemplo. É uma questão de criação. Eu lembro da Grazi. Eu a assistia no ‘Big Brother’ e ela beijava o namorado com a mão na boca, eu acha o máximo. Eu acho invasivo você ficar beijando na frente dos outros. É uma questão mesmo de criação. Eu fui criada de uma maneira muito conservadora. Se eu estivesse assistindo à TV com meu pai e tivesse cena de beijo na novela eu ficava nervosa. Eu lembro que as minhas amigas podiam sair antes dos 18 anos pra ir na boate e uma vez eu falei que ia fazer isso e meu pai disse que ia me denunciar porque é contra a lei. Meus pais são muito corretos. Eu sempre andei muito na linha. Em tudo. Nunca usei drogas, nada. Sempre fui muito certinha.
E o namoro? Está bom?
Está bem.
O seu namorado mora com você?
É. Praticamente.
Você gosta?
Claro.
Então é vida de casado?
É. Eu me considero casada. Ai, tô com medo, Leo. Vai virar título. Eu morro de medo disso. Mas é que eu não fico por ficar, eu não sou assim. Nunca assumo ninguém…
Quanto tempo você demorou para assumi-lo?
Não sei. Eu conheci no Carnaval.
Um amor de Carnaval que durou, viu…
É. Mas é porque eu não encaro Carnaval dessa forma de ‘amigas, festa’. Eu trabalhei o Carnaval inteiro.
Eu me lembro que na coletiva da novela você não quis falar. Não foi?
É… E eu lembro que assim que eu comecei a namorar eu fui dar entrevista, minha assessora falou que eu não precisava falar e eu disse: ‘é, eu não quero falar mesmo’. Isso porque eu queria falar do meu trabalho, que é mais importante. E eu lembro que o jornalista perguntou: ‘E como está seu namorado?’. E eu respondi: ‘Está bem’. (risos). Eu gostaria de ter mais essa esperteza de não expor.
No Carnaval, eu recebi a informação de que você estava namorando e falei com você. Você pediu para eu não publicar e eu atendi o seu pedido. Você tem um cuidado muito grande com isso, né?
É porque eu faço tanta coisa… Eu tenho projeto social, eu sempre falo dele. Mas se eu falo alguma coisa de namoro, ninguém mais fala do meu projeto social. Nos sites só vai ter ‘Táta Werneck está namorando’.
O projeto social todo mundo já conhece, Tatá.
As pessoas querem consumir muito mais a vida pessoal que um projeto bacana. Se sai que a atriz tem um projeto, quase ninguém se interessa. A intimidade dos outros é muito interessante. Por isso que eu tenho muita vontade de me preservar. Mesmo às vezes não conseguindo, eu tenho muita vontade. Um exemplo, eu até exagero no relacionamento com minhas fãs. Conheço todas, sei o nome, sou amiga, converso, falo em chat. Eu tenho pânico de avião. No aeroporto eu estou sempre muito nervosa porque eu fico desesperada. Ainda assim sempre tiro foto com todo mundo no aeroporto e as pessoas ficam dizendo que estou séria. Mas é porque eu estou nervosa, quase com taquicardia e as pessoas não entendem. Eu tive um período de saúde complicado esse ano. Tive muitas crises renais… Todas as vezes em que eu fui internada, como nesta última vez, eu estava no soro e tinha gente tirando foto minha. Eu tive que levantar do soro e pedir por favor para a pessoa apagar a foto. A minha avó também esteve internada recentemente e eu estava no hospital e fizeram um filme meu inteiro lá. Esse lado é muito difícil. E também é difícil não agir como você agiria normalmente porque você está na mídia. Por exemplo, outro dia postei uma foto com essa minha mesma avó, ela tinha acabado de se curar de um câncer, fiz uma homenagem e tal. Aí chegou um cara e me xingou. Eu respondi a ele: ‘Como assim?’. Já saiu no jornal escrito: ‘Tatá Werneck bate boca na internet’. Lidar com essas pessoas sem identidade, que se escondem atrás de uma arroba e podem falar o que quiser também é difícil. Mas também tem o lado maravilhoso, que é gigantesco.
A pior ofensa para você é falar que o sucesso subiu à cabeça?
Eu acho isso inaceitável. Quando você conquista algo pelo qual você lutou a vida inteira, mesmo que saibam o quanto você batalhou e lutou, as pessoas esperam pelo momento em que elas vão poder falar que você mudou. Justifica tudo. Para eles, não estou séria porque sou humana ou porque alguém da minha família está doente. Estou assim porque estou famosa. E não é nada disso.
Mas você conhece casos de atores em que a fama subiu à cabeça?
Conheço muitos. Isso é uma armadilha porque não é real. É uma ilusão temporária. Mas conheço muitas pessoas, próximas inclusive, que acreditaram nessa mentira. É uma pena.
Você alerta essas pessoas?
A pessoa que se deslumbra não percebe. Já tive amigos próximos que eu falei “acho que você está acreditando em coisas que não são reais”. Mas quando chega nesse estágio, a vida mostra depois de um tempo. Mas também conheço pessoas que não mudaram nada, tipo o (Fábio) Porchat, que conheço desde que nós dois éramos ferrados, e ele continua do mesmo jeito.
A impressão que eu tenho é que daqui a alguns anos você vai largar a televisão, viver só de teatro, sabe? Não vai aguentar essa pressão da fama.
Eu nunca vou largar a televisão se eu tiver oportunidade. . Mas essa coisa de estar no lugar de celebridade é muito estranho. Eu não sou uma celebridade. Eu sou a mesma pessoa e tenho problemas como todas as pessoas. Quando colocam você em um lugar em que você não pode errar, eu acho isso estranho. E eu não sou safa pra essas coisas. Eu vejo as pessoas dando respostas… Você já me entrevistou várias vezes… Eu tenho medo até de mentir.
Humorista sofre um risco maior em relação a carreira que um ator normal porque tem o risco de ficar estigmatizado com um personagem único. Você tem medo de ficar estigmatizada como ‘a maluquinha’?
Não tenho nem resposta para isso. Eu acho que humor é muito discriminado. Ele é considerado um braço da interpretação. É quase um primo pobre da interpretação. As pessoas dizem: ‘Ah, ela faz humor. Quero ver fazer drama’. Ninguém chega para um ator dramático e diz: ‘Bom, Cássia Kiss, você é foda (eu acho ela uma gênia!),mas faz agora uma comédia’. No humor, parece que a gente tem que estar sempre provando alguma coisa o tempo inteiro. Eu estudei muito, fiz 20 anos de teatro, fiz faculdade.
E o projeto do seu programa? Você não ia ter um programa na TV Globo?
Não. No ano que vem eu vou fazer a novela ‘Haja Coração’, do Daniel Ortíz, na Globo. Esses dias saiu que a Globo tinha me afastado para me aprimorar porque meu nome não estava não sei aonde. Eu fui conversar com a direção e eles também viram essa notícia e pensaram que eu tinha desistido. Uma notícia que não é verdadeira toma uma proporção… São mentiras que se tornam verdade para muita gente. Foram falar isso porque eu tenho contrato com o Multishow também e a novela vai ser no mesmo período da minha gravação. Nós estamos alinhando essas agendas para que eu consiga fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Mas você está no ‘Vai que Cola’?
Eu estou. Esse ano também. Agora no final de ‘I Love Paraisópolis’ eu já começo a gravar em paralelo o Vai que Cola. O ‘Vai que Cola’ termina dia 3 de novembro para mim e no dia 4 eu já começo a gravar meu filme.
Como é o filme?
É um filme sobre uma mulher com TOC (transtorno obsessivo compulsivo). O nome é provisório. Por enquanto, é ‘A Felicidade’. Aí eu termino o filme e em janeiro já começo a me preparar para a novela. E faço a novela junto com o ‘Tudo pela Audiência’.
Me conta mais do filme. Você tem TOC?
Não. Quando eu era criança eu tinha muitas superstições, mas não era TOC. Mas eu já tive um amigo muito próximo que tinha e eu fiquei muito instigada porque é uma situação que a vontade de controlar foge do seu controle. E isso vira uma coisa sistemática. Então eu vi esse meu amigo que era absolutamente talentoso, em situações que eram ao mesmo tempo engraçadas e muito dolorosas. Uma pessoa que não conseguia apagar uma luz. O filme fala um pouco sobre isso, sobre essa vontade de tudo dar certo.
É um filme de humor?
É humor, mas a minha personagem não é de humor.
Encarar o TOC com humor também é meio preconceituoso, né?
Eu não vou fazer esse filme como se fosse de humor. Talvez vendo de fora algumas situações possam ser engraçadas, mas eu não vou fazer comédia.
Então você não tem férias até quando?
Até novembro do ano que vem. Depois de ‘Amor à Vida’ eu também parei só por dez dias, que eu viajei pra África e pra Croácia.
Você está rica, Tatá?
Ai, Leo, que pergunta. Não estou rica. Não posso parar de trabalhar e tal. O que eu acho muito legal na minha profissão é que se eu ficasse milionária eu ia trabalhar cada vez mais. Eu ia produzir mais as minhas coisas, eu ia investir. O legal da nossa profissão é que a gente ama muito o que faz.
Como você lida com dinheiro?
Eu tenho uma culpa católica grande. Eu gasto muito com amigos. Tipo, vem amigos para a minha casa. Eu gosto de ter momentos bons, viajar, mas não sou uma pessoa gastadora. Não entro em uma loja e compro uma parada caríssima.
Tem mais alguma coisa que você queira falar?
Vê o que você vai colocar do namoro, pelo amor de Deus.
Fonte: Portal LJ