As candidatas a postos nos conselhos municipais na Arábia Saudita iniciaram suas campanhas eleitorais neste domingo (29/11). Esta será a primeira vez que mulheres poderão votar e concorrer em uma eleição no país.
Segundo dados oficiais, cerca de 865 mulheres estão entre os 6.140 candidatos às eleições locais que serão realizadas no dia 12 de dezembro. Dois terços dos postos nos 284 municipais do país estão disponíveis aos candidatos. O outro terço será ocupado por pessoas indicadas pelo governo.
A participação das mulheres nas eleições, como eleitoras e candidatas, foi decretada em 2011 pelo então rei Abdullah. O monarca, que morreu em janeiro, ordenou que 20% dos membros do Conselho Shura, espécie de Parlamento do Reino, sejam mulheres.
Apesar de poderem votar e serem votadas, as candidatas estão proibidas de realizar comícios públicos com a participação de homens, informou o porta-voz da comissão oficial das eleições, Jadeeh al-Qahtani. “A candidata só poderá se comunicar com o eleitorado através de um circuito de TV”, declarou al-Qahtani através de seu perfil no Twitter. “Seu porta-voz poderá comunicar com os eleitores homens em seu lugar.”
Candidatos e candidatas estão proibidos de usar suas fotos em material eleitoreiro durante os 12 dias de campanha. Eles deverão portanto investir nas redes sociais para se comunicarem com seus eleitores.
Aljazi al-Hossaini, candidata ao conselho municipal da capital Riad, disse à AFP que focará seus esforços na campanha pela internet. A candidata Sameera Abdullah al-Shamat, na cidade de Jeddah, também irá fazer uso de seus perfis no Twitter, Instagram e Facebook para angariar votos. “Minha filha e meus dois filhos estão cuidando disso”, disse ela à AFP.
As primeiras eleições municipais na Arábia Saudita foram realizadas em 2005, e pela segunda vez em 2011. Nas duas ocasiões, as mulheres eram proibidas de participar.
“Votarei nas mulheres mesmo sem saber nada sobre elas”, afirmou Um Fawaz, professora na cidade de Hafr al-Batin. “Pra mim, o fato de elas serem mulheres é suficiente.”
A Arábia Saudita tem 1,5 milhão de eleitores registrados, e estima-se que 136 mil sejam mulheres. O país tem um dos regimes mais severos com relação à discriminação de gênero e à opressão das mulheres. As decisões delas dependem legalmente da aprovação de um homem, em geral o pai ou marido. Mesmo as que trabalham em órgãos do governo são obrigadas a contar com a supervisão de um “guardião” para realizar transações e negociações oficiais.
A ativista Loujain Hathloul, que havia anunciado sua candidatura, afirmou hoje que seu nome não consta na lista de candidatas. “Fui eliminada como candidata para as eleições municipais”, escreveu em seu perfil no Twitter. “Irei entrar com uma objeção através dos canais apropriados.”
Hathloul ficou mais de dois meses presa após tentar entrar dirigindo na Arábia Saudita através da fronteira com os Emirados Árabes Unidos. Mulheres são proibidas de dirigir no país.