Em Porto Alegre, uma empregada doméstica de 62 anos espera há quatro meses a confirmação da data de uma ecografia mamária, exame preventivo do câncer de mama. “Entreguei o encaminhamento em maio e, até agora, não foi marcado. Antes, o posto mesmo dava a requisição na hora e a gente só precisava ir até a clínica fazer, mas agora temos de esperar que avisem por telefone do agendamento”, diz a paciente, que não quis ser identificada.
Se a demora já é comum por causa da lista de espera, a situação se agravou há cerca de 20 dias, quando um dos aparelhos de ecografia da capital gaúcha apresentou problemas. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre, “os reparos já foram acionados e o problema deve ser solucionado em até duas semanas”.
O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado com o maior porcentual de aparelhos fora de uso em relação ao total de máquinas existentes nas unidades de saúde gaúchas. São 3.551 equipamentos inutilizados, 7,2% do total.
Em primeiro e segundo lugar na lista dos Estados com mais máquinas sem utilização aparecem Rondônia e Distrito Federal.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Ruffo de Freitas Júnior, a oferta ainda insuficiente de exames de diagnóstico do tumor de mama faz com que muitos casos de câncer sejam descobertos já em estágio avançado. “Temos máquinas velhas, que precisam de manutenção ou de substituição, mas temos também o problema da subutilização dos aparelhos. Os hospitais costumam fazer menos exames do que sua capacidade, por causa da falta de profissionais”, diz. Em todo o País, estão fora de uso 179 ecógrafos e 115 mamógrafos.
*Particular.* Em situações de maior urgência, a demora para conseguir um exame na rede pública leva pacientes a pagar pelo procedimento na rede particular. Foi a alternativa encontrada pelo casal de aposentados Dalva Ferreira Lima, de 74 anos, e Manoel Rodrigo de Lima, de 73, diante da longa espera por um eletroencefalograma para o filho Samuel Barbosa de Souza Lima, de 18 anos, que sofre de dor de cabeça crônica e faz tratamento com um neurologista.
“Ficamos mais de um ano esperando pelo exame, que nunca foi realizado. Como ele estava ficando com o pescoço torto, por causa das dores de cabeça, a gente tirou dinheiro de outras contas e pagou a consulta e o exame particular”, contou Dalva. A família, moradora de Buritama, no interior de São Paulo, teve de desembolsar R$ 450.
Segundo a aposentada, a justificativa dada pela unidade de saúde para a demora no agendamento do exame era de que os equipamentos estavam quebrados e a fila de espera era muito grande. Segundo os dados do Datasus, são 153 aparelhos de eletroencefalograma fora de uso em todo o Brasil.
Investimentos. Questionado sobre o número de equipamentos fora de uso na rede pública, o Ministério da Saúde informou que os aparelhos inutilizados representam 4,7% do total e, embora a manutenção regular dos equipamentos seja de responsabilidade dos gestores de cada hospital, o governo federal investe na melhoria da infraestrutura tecnológica de atendimento.
De acordo com o ministério, só na estrutura de serviços oncológicos foram repassados, no ano passado, R$ 38,3 milhões para a compra de equipamentos. No mesmo período, o governo federal investiu R$ 1,8 bilhão em aparelhos de atenção básica e especializada, valor 51% maior que o aplicado em 2013.
A pasta afirma ainda que, além dos repasses, “realiza compra direta, centralizada, de equipamentos, visando a melhor distribuição e o reforço de determinados serviços no País”. Entre as ações recentes, a pasta destaca a aquisição de 80 aparelhos de radioterapia. Autor: Estadão