A Polícia Federal deflagra, na manhã desta segunda-feira (22), a 23ª fase da Operação “Lava Jato”, denominada de “Acarajé” – em alusão a dinheiro em espécie. O marqueteiro João Santana – das campanhas da presidente Dilma Rousseff e da campanha da reeleição do ex-presidente Lula, em 2006 – é o alvo principal dessa fase da operação. O inquérito investiga supostos pagamentos de U$ 7 milhões – o que hoje equivale a R$ 28 milhões – ao marqueteiro pela Odebrecht em paraísos fiscais. Em nome do publicitário possui, inclusive, um mandado de prisão a ser cumprido, no entanto, ele se encontra fora do país.
Cerca de 300 policiais cumprem um total de 51 mandados, sendo 38 de busca e apreensão, seis de prisão temporária e mais cinco conduções coercitivas. A ação ocorre no Estado de São Paulo (capital, Campinhas e Poá), no Rio de Janeiro (capital, Angra dos Reis, Petrópolis e Mangaratiba) e Bahia (Salvador e Camaçari). A operação tem relação com o avanço das investigações de registros apreendidos com um dos investigados.
A Lava Jato chegou a João Santana por meio de anotações encontradas no aparelho celular de Marcelo Odebrecht, preso desde junho do ano passado, na 14ª fase da Lava Jato. Na mensagem a um executivo da empresa, Marcelo alerta: “Dizer do risco cta suíça chegar na campanha dela”. A partir de então, foram instauradas investigações para rastrear contas no exterior que teriam Santana como destinatário final do dinheiro.
Outro fato que chamou a atenção dos investigadores foi um documento manuscrito enviado por Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro, ao consultor Zwi Skornicki que apontou duas contas, uma nos Estados Unidos e outra na Inglaterra. O consultor é representante da Keppel Fels, estaleiro de Cingapura que prestou serviços à Petrobras e seria o operador da propina paga pela empresa no país. A Keppel Fels firmou contratos com a Petrobras entre 2003 e 2009 no valor de US$ 6 bilhões.
Em despacho na semana passada, o juiz Sérgio Mouro negou pedido dos advogados de João Santana para ter acesso às investigações justificando que o rastreamento financeiro demanda sigilo, sob risco de dissipação dos registros ou dos ativos. “Como diz o ditado, o dinheiro tem ‘coração de coelho e patas de lebre'”, escreveu o magistrado.
No sábado (20) os criminalistas Fábio Tofic Simantob e Débora Gonçalves Perez, informaram ao juiz Sérgio Mouro que seus clientes estavam à disposição dele “para prestar todos os esclarecimentos necessários à descoberta da verdade” e que ouvi-los em caráter preliminar poderia “evitar conclusões precipitadas e prevenir danos irreparáveis que costumam se seguir a elas, mormente porque neste caso os prejuízos extrapolariam o conturbado cenário político brasileiro, pois os peticionários estão hoje incumbidos da campanha de reeleição do Presidente Danilo Medina, da República Dominicana”.
Os advogados também afirmaram que a Lava Jato “foge completamente ao perfil de investigados que não são nem nunca foram funcionários públicos; não são nem nunca foram empresários com contratos com o poder público; não são nem nunca foram operadores de propina ou lobistas.” Segundo o advogado, Santana e a mulher são “jornalistas e publicitários de formação” de renome internacional no marketing político. “Cada centavo que receberam na vida sendo fruto exclusivo de seu trabalho absolutamente lícito.”
Os presos serão conduzidos para a superintendência da Polícia Federal de Curitiba, no Paraná, onde devem permanecer à disposição da Justiça.
Histórico
A operação “Lava Jato” foi deflagrada em março de 2014 mirando um grupo de doleiros, entre eles Alberto Youssef que delatou o esquema de corrupção na petroleira.
* Com Estadão Conteúdo