O recém-empossado advogado-geral da União (AGU) e ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse hoje (3) que recebeu inúmeras visitas do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), quando comandava o Ministério da Justiça. Apesar de, na época, Delcídio fazer as visitas sob as mais diversas justificativas, Cardozo entende, agora, que o motivo real dos encontros era tentar induzi-lo a atuar contrariamente às delações premiadas firmadas por investigados pela Polícia Federal. Para Cardozo, Delcídio tinha medo de acabar sendo citado em alguma delação.
Nesses encontros, Cardozo disse, que ao ouvir os argumentos de Delcídio, solicitou ao senador que enviasse uma representação pedindo investigação da denúncia. De acordo com Cardozo, Delcídio nunca enviou o pedido. “Delcídio vinha quase que diariamente ao ministério. Meus assessores testemunharam a presença cotidiana dele por aqui. Eu até brincava que ia colocar uma placa com o nome dele em uma salinha. Vinha, aparentemente, por assuntos diversos, mas o que ele mais falava era: ‘temos de ver essa história de os réus estarem sendo pressionados para fazerem delação premiada’”, lembrou Cardozo, em discurso após transmitir o cargo de ministro da Justiça ao procurador Wellington César Lima e Silva.
Segundo Cardozo, Delcídio dava a impressão “de estar defendendo uma causa”, ao dizer que alguns estavam tentando prejudicar o governo. “Agora eu vejo que ele não estava defendendo nada ali, além do fato de não querer essas delações, para não ser prejudicado”. A situação, segundo o ex-ministro, “beirava o insuportável”.
“Cheguei a comentar que o Delcídio estava tendo um surto de espírito republicano”, ironizou Cardozo.
No momento em que Cardozo deu essas declarações, o senador Delcídio do Amaral divulgou nota de esclarecimento em que “não confirma” as informações publicadas em reportagem de hoje (3) da revista IstoÉ.
Da Agência Brasil