Presidente do Santos em exercício à época da polêmica transação que tirou Neymar do Santos e colocou o brasileiro no Barcelona, Odílio Rodriguez teve de comparecer, nesta quarta, à 5ª Vara Federal de Santos, no centro da cidade, para a Justiça colher seu depoimento sobre suposta sonegação de impostos durante as negociações, concretizada em maio de 2013.
Odílio chegou para a audiência acompanhado de quatro advogados e não falou uma palavra até entrar no prédio da Justiça Federal por volta das 13h50. Depois de aproximadamente quatro horas, o ex-dirigente do Peixe deixou o local fugindo da imprensa. Com passo acelerado, Odílio se dirigiu à garagem do prédio e evitou o contato com os jornalistas.
Segundo o jornal O Globo, a audiência foi um pedido feito pela Justiça espanhola a Justiça Federal no Brasil, em São Paulo. Por isso, nesta quarta-feira, um promotor e um juiz espanhol acompanharam todo o depoimento de Odílio por vídeo conferência. Um tradutor passou em tempo real todos os esclarecimentos prestados em Santos para as autoridades.
A princípio, Neymar da Silva Santos, pai do jogador, e Nadine Gonçalves da Silva Santos, mãe, também estavam intimidados a comparecer, mas não foram vistos no local. O depoimento dos dois, assim como do próprio jogador, já foi recolhido em Madri, em fevereiro, e talvez isso tenha tornado desnecessária a presença de ambos em Santos nesta quarta.
Atual presidente do Santos, Modesto Roma Júnior, e seu vice, César Conforti, também haviam disso convocados, mas a audiência da dupla foi cancelada, segundo informou a assessoria do clube à Gazeta Esportiva na noite de terça. A atual diretoria santista entende que o clube foi lesado com a transferência e tem mais a receber do que os 17 milhões de euros repassados na ocasião por cessão de parte dos direitos econômicos de Neymar.
Assim, em 29 de maio de 2015, entrou com um processo de demanda arbitral da Fifa contra o jogador, seu pai, o Barcelona e a empresa de Neymar pai, em busca de uma indenização, já que foi provado pela justiça espanhola que o da Catalunha gastou, na verdade, aproximadamente de 90 milhões de euros pelo atleta.
Todo o imbróglio envolvendo Neymar é investigado na Espanha em dois processos distintos. Um pela Receita Federal de Madri e o outro do Tribunal Provincial de Barcelona. Já no Brasil, o craque e seu pai respondem por sonegação fiscal e falsidade ideológica.
Entenda o caso
No momento do anúncio da contratação de Neymar, em meio de 2013, o Barcelona revelou o pagamento de € 57,3 milhões. Deste valor, o Peixe, dono de 55% dos direitos econômicos do atleta à época, recebeu € 17,1 milhões, mas teve de repassar € 6,8 milhões ao grupo Sonda e € 800 mil ao grupo Teisa, por normas contratuais.
Porém, a Audiência Nacional da Espanha, que funciona como Ministério Público do país europeu, descobriu que ao menos € 83 milhões foram envolvidos na transação do brasileiro.
O Santos, então, entende que tem direito a diferença de € 57,3 milhões, valor declarado inicialmente, e os € 83 milhões, a quantia descoberta pela Justiça espanhola. Vale lembrar, no entanto, que dos € 26 milhões ‘ocultos’, o clube teria direito a 55%, fatia referente aos direitos econômicos do time da Vila Belmiro antes da venda ser concretizada.
Mesmo diante dos fatos contratuais, o valor pretendido pelo Peixe com a ação ainda não pode ser calculado, pois se somam indenizações por danos, com juros corrigidos, e despesas com o caso.
O prazo para uma definição também é impreciso, e a advogada contratada pelo clube, Fátima Bucker, adiantou que não espera uma resolução em menos de seis meses.
Na Espanha
No acordo entre a empresa de pai de Neymar, Santos e Barcelona, milhões de euros foram distribuídos para várias partes. Ficou acertado o pagamento de 40 milhões para a N&N Sports, além de 17,1 mi ao Santos, e luvas de 10 mi ao atacante. Outros 2,7 mi foram para agentes intermediários e 2 mi em acordo com a N&N para monitorar promessas. Mais 7,9 mi para o Barcelona ter prioridade sobre três promessas e 4 mi em direitos de imagem. Toda a operação custou, portanto, 86,2 milhões de euros.
A Audiência Nacional entende que Sandro Rosell, presidente do Barcelona na situação, tentou disfarçar o alto custo do negócio com pagamentos divididos, tendo Josep Maria Bartomeu como cúmplice. O tribunal espanhol solicitou a prisão dos dois dirigentes pelas irregularidades. Bartomeu pegou dois anos e três meses de detenção e Rosell, que renunciou ao cargo diante das polêmicas sobre a chegada do camisa 11, teve a pena pedida de sete anos e três meses.
Além de toda a polêmica, contratos confidenciais que provam que Neymar entrou em campo pelo Santos na final do Mundial de Clubes de 2011, justamente contra o Barcelona, já vendido ao clube espanhol, em negócio feito pelo pai do jogador, também foram revelados recentemente.
Fonte: Gazeta Esportiva