O ‘Mariana Godoy Entrevista’ desta sexta-feira (25) recebeu presidente do Instituto Teotônio Vilela José Aníbal e o presidente do PT do estado de São Paulo Emídio de Souza para discutir o cenário de crise política instaurado no Brasil.
Começando a entrevista, Aníbal disse, quando questionado se o PSDB acredita que o governo Dilma está chegando ao fim, que o partido “pensa que de fato nós caminhamos para um desfecho dessa situação”: “Considerando a gravidade da situação, que se comece a pensar como fazer no dia seguinte de tal modo que se crie condições para o Brasil respirar (…) Acho inclusive que a presidente não governo, ela tenta prolongar essa agonia dela. O Brasil está sem governo”. Para Aníbal “a Lava Jato mostra que este sistema acabou”.
Emídio afirmou que “não é preciso milagre” para salvar o governo Dilma: “É preciso responsabilidade para salvar o futuro de nosso país”. Emídio condenou o possível abandono do PMDB do governo e afirmou que, desde que Dilma venceu a última eleição, “ela não consegue governar. A oposição não aceitou a derrota”. O presidente do PT-SP disse que “a presidenta se esforçou o máximo que ela podia se esforçar. É evidente que ela também tem responsabilidade (…) Mas a verdade é que a oposição não aceitou o resultado das urnas. Quer fazer um terceiro turno o tempo todo (…) Isso foi ruim para o país, desestabilizou não só a política, mas a economia”.
O presidente do PT-SP disse que “a maioria [no Congresso] se constrói”. “O que a Lava Jato deixou claro é que o sistema político do Brasil faliu. Não é o PT que acabou, foi o sistema político brasileiro que acabou (…) Primeiro para se ter um impeachment teria que ter um motivo claro, e o motivo para a Dilma não é claro”. Questionado se as pedaladas fiscais são motivo suficiente, Emídio disse que “se for cassar a Dilma por essa razão, um governante do país não fica em pé”, citando que Fernando Henrique Cardoso também fez o mesmo.
Indagado por telespectadores, Aníbal disse que “não sabe” se o governador de SP Geraldo Alckmin fez pedalada fiscal. Aníbal disse que “a cada dia que passa o país está sangrando” para justificar a saída da presidente. Para justificar a falta de cooperação entre governo e oposição, Aníbal lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique “tentou diversas vezes”, mas que “com o PT não existe diálogo”: “Não há credibilidade possível com ela [a presidente Dilma]”. Para Aníbal, Dilma não irá renunciar, mas que o impeachment é uma certeza.
Emídio disparou: “falar que Dilma não tem credibilidade, então quem tem? Michel Temer tem? Eduardo Cunha tem? O PSDB, que ajudou agravar a crise econômica não aprovando medidas necessárias e apostando no ‘quanto pior, melhor’, tem credibilidade? (…) Precisamos dialogar em torno de construir maiorias, não ir na lógica do ‘toma lá, dá cá’ que está em vigor há muitos anos (…) Nós precisamos ter gesto de grandeza, e gesto de grande exige renúncia de todo mundo”. Emídio disse que acredita que parte da imprensa possui um “lado político”: “Ela tem que tratar informação com seriedade, não da forma como está agora”.
Aníbal condenou a fala de Lula de que a “Lava Jato está impedindo o país de crescer”: “O estelionato eleitoral começou no dia seguinte à vitória da Dilma. No dia seguinte ela deu anúncios de que iria tomar medidas muito mais duras do que havia anunciado”. O presidente do Instituto Teotônio Vilela defendeu o legado de Fernando Henrique Cardoso e “depois não podia parar, tinha que continuar. E depois com a situação favorável que tinha devia continuar”.
Emídio acredita que “com a Dilma, nós temos segurança de que a Lava Jato. Ela transcorreu tranquilamente nas 26 fases que tivemos até aqui (…) Os instrumentos criados para combater a corrupção, o instituto da delação premiada, foram criados durante a administração do PT (…) Minha preocupação é esse arranjo no Congresso, essa liderança de Eduardo Cunha, permitir que políticos corruptos conduzam o impeachment, não vá criar problemas futuros”.
Para Aníbal, “a Lava Jato é irreversível. Ela continuar qualquer seja o governo, por uma razão: o povo quer (…) O questionamento aos políticos é uma unanimidade fortíssima (…) E isso vai propiciar a reforma política. Acabar com estes custos, esses gatos de campanha política no Brasil. (…) Eu acho que a Lava Jato continua, a reforma política vai vir”.
Sobre as delações envolvendo Aécio Neves, Aníbal disse que todas as vezes elas foram arquivadas. Ele refutou a pergunta de que a “polícia escolhe um lado para investigar”. “Não há nenhuma pressão no sentido de condena fulano, isenta ciclano (…) A situação aproveita para dizer que quando é com o Aécio, libera. Pois não possuem provas para continuar”. Para ele, “o problema mais grave que temos não é Eduardo Cunha, é esse governo que está aí. Eduardo Cunha não resiste depois que este governo cair”.
“Base da democracia é a existência dos partidos políticos. Sem partidos, sem Parlamento, não temos democracia”, afirmou Aníbal. Ele disse ainda que a democracia não deve retroceder “com um impeachment a toque de caixa”, como definiu Mariana Godoy. “Não tem nada de toque de caixa, o Brasil não aguenta mais (…) O país está parando, os negócios não estão sendo realizados”, afirmou Aníbal.
Emídio lembrou a fala do presidente do Senado, Renan Calheiros: “Impeachment sem razão clara tem outro nome. Ele não falou, mas é claro que é golpe”. O presidente do PT-SP defendeu a ida de Lula para a Casa Civil pois ele é necessário para “reconduzir o país”. Emídio disse que “o povo julga nas eleições”, tentando diminuir a força das manifestações.
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