Quase cinco meses depois do rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Samarco, pesquisadores ainda tentam avaliar o tamanho da tragédia ambiental. Parte da lama que vazou está se depositando no fundo do mar, na foz do Rio Doce, provocando mudanças na vida marinha.
Não é só água que mudou de cor. O fundo do mar também. Uma amostra foi coletada a 30 metros de profundidade, no solo do oceano. A camada mais superficial está coberta com a lama de rejeitos de minério. E quanto mais raso, mais lama: em outro pedaço do solo do fundo do mar, que estava a dez metros de profundidade, a lama já é bem mais espessa.
“Todo esse material mais alaranjado é o material que veio com o rejeito da Samarco, normalmente o material seria com uma coloração mais amarronzado ou mais cinza”, explica um pesquisador.
Na profundidade de até 20 metros, os pesquisadores calculam que há dois centímetros de lama acumulada no fundo.
Assim que os rejeitos de mineração chegaram ao mar, em novembro, o índice de metais ficou elevadíssimo. Havia 20 vezes mais ferro que o normal, 10 vezes mais alumínio, e 5 vezes mais cromo e manganês.
Mas como choveu no começo do ano na bacia do Rio Doce, aumentou a vazão do rio e a concentração de metais diminuiu na água. A lama que estava em suspensão foi para o fundo.
Os bentos são animais bem pequeninhos, que em maioria só se consegue ver com uma lupa vivem no fundo do mar, exatamente no local onde a lama está sendo depositada na foz do Rio Doce. Os bentos compõem a base da cadeia alimentar, por isso os pesquisadores acreditam que a lama com rejeitos de minério já mudou o ecossistema da região.
Além dos bentos, também estão na base da cadeia alimentar outros organismos minúsculos, fitoplânctons e zooplânctons, que vivem na água. E a variedade dessas espécies também foi afetada. Antes da lama, os pesquisadores já tinham identificado 60 espécies na foz do Rio Doce. Depois, só foram encontradas 25.
“Você está alterando a base da cadeia alimentar, e isso é importante para a ictiofauna que são os peixes que estão ali, os crustáceos, que podem ter sua dieta alterada e aí ir embora, por exemplo”, diz o geólogo Alex bastos.
Nove professores da Universidade Federal do Espírito Santo estão pesquisando os efeitos da lama no mar de regência.
“A pergunta é: esse ecossistema vai ter condições de algum momento retornar o que ele era antes? Isso vai demorar alguns anos para a gente responder”, diz Alex
A Samarco declarou que faz levantamentos diários da água em 34 pontos do oceano E que a maioria das amostras está de acordo com a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente. A empresa afirmou também que 87% dos rejeitos ficaram retidos na região onde se forma o Rio Doce.
Fonte: Portal Jornal Nacional