A desinformação é um problema sempre presente na discussão sobre a descriminalização da maconha, especialmente quando o tema é o uso recreativo. Para saber mais sobre o assunto, confira algumas dúvidas frequentes respondidas pelo psiquiatra Luís Fernando Tófoli, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro e articulista de Mente e Cérebro.
Adolescentes são mais propensos à dependência?
Luís Fernando Tófoli: Sim, mas especialmente quando são expostos de forma descuidada. A resposta neurobiológica ainda está em construção, mas parece estar associada a uma imaturidade dos circuitos cerebrais que conseguem conter e circunscrever outros circuitos, que são associados às vivências prazerosas, vinculadas ao neurotransmissor dopamina. Note, porém, que há variações culturais que podem modular essa experiência. Se o ambiente “ensina” o consumo consciente, os riscos podem ser menos graves.
Prejudica a aprendizagem?
Sidarta Ribeiro: Embora alguns estudos sobre o assunto não tenham detectado prejuízos acadêmicos em jovens que fazem uso precoce, há evidências de que o uso precoce e abusivo pode propiciar síndrome amotivacional, depressão e desengajamento escolar. Também é importante lembrar que muitas vezes os estudos que investigam o suposto impacto da maconha não controlam para fatores sociais, olhando só para o uso da droga em si, esquecendo que o ambiente social e familiar da pessoa é um importante fator de risco ou proteção.
Deixa as pessoas “burras”?
L.F.T.: Alguns estudos que indicaram associação de uso precoce com queda no QI estão sendo questionados por novos estudos que incluem variáveis sociais na análise, e não somente o uso ou não da droga.
Deixa as pessoas apáticas?
L.F.T.: A chamada “síndrome amotivacional” não está comprovada. Sua ideia surgiu provavelmente da associação entre apatia e uso de maconha, mas desconheço dados que possam rejeitar a hipótese de que a associação possa ser inversa, ou seja, a de que pessoas que, por diversas razões, são apáticas, tenham maior tendência a fumar maconha. Mais uma vez, valores sociais, que muitas vezes não são medidos nos estudos, parecem também estar em jogo nessa questão. No geral, porém, o consenso dos especialistas parece entender que a grande maioria dos fumantes de maconha não tem síndrome amotivacional.
O que pais, educadores e adolescentes devem saber sobre maconha?
S. R.: Acho crucial que os pais saibam que a maconha comprada na rua é contaminada e degradada, além de conter doses desconhecidas de canabinoides. O segundo aspecto relevante é compreender que para a maior parte dos adolescentes a maconha não oferece grande risco, mas para uma minoria psicologicamente vulnerável o uso da maconha é perigoso e deve ser enfaticamente desencorajado. Também é importante que os pais saibam que não existe uma maconha, mas várias maconhas, com características muito diferentes.
Fonte: Viver Mente