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Por Guilherme Guarche e Odir Cunha, do Centro de Memória
A bola veio rolando rente à grama, mansamente, dos pés de Pelé. Seguiu uma trajetória oblíqua, de fora para dentro, em direção ao ângulo direito da grande área. Carlos Alberto Torres, que já conhecia essa jogada do Santos, projetou-se à frente e acertou a pelota em cheio, com o lado externo do pé direito, em um chute forte, rasteiro, transversal, que estufou as redes de Albertosi. Esse gol, o quarto da goleada sobre a Itália na final da Copa de 70, foi a última pincelada do saudoso futebol arte. Seu autor, considerado o melhor lateral-direito de todos os tempos, completaria 75 anos neste dia 17 de julho.
Os maiores nomes da história do futebol, como o brasileiro Pelé e o holandês Johan Cruyff, definem o carioca-santista Carlos Alberto Torres como insuperável em sua posição. O principal narrador esportivo do Brasil, Galvão Bueno, vê no lateral, além da categoria, um espírito de liderança que não existe mais:
Não temos ninguém que se aproxime, que possa chegar perto de exercer essa liderança com a naturalidade que ele exercia, em uma geração que nunca tivemos igual no futebol brasileiro. Buscar outro Carlos Alberto Torres é impossível, mas tem que se espelhar nele.
Carioca de Vila da Penha, onde nasceu em uma segunda-feira, 17 de julho de 1944, Carlos Alberto Torres, ou “Capita”, apelido que ganhou por ter sido o capitão da Seleção Brasileira na Copa do México, em 1970, veio do Fluminense para o Santos no início de 1965, aos 20 anos – apesar dos irados protestos da torcida tricolor, que ameaçou colocar fogo na sede do clube, em Laranjeiras, para impedir o negócio.
Contratado por CR$ 200 milhões, na transação mais cara do futebol brasileiro até ali, Carlos Alberto já trazia na bagagem o título de campeão carioca de 1964 e a medalha de ouro conquistada nos jogos Pan-americanos de 1963, em São Paulo.
Estreou no Santos em 29 de abril de 1965, uma quinta-feira, marcando um dos gols da goleada de 9 a 4 no amistoso contra o Remo, em Belém, com renda recorde de 50 milhões de cruzeiros. Nessa partida, em que o ponta-esquerda Abel, vindo do América/RJ, também fez a sua estreia no Santos, Pelé marcou cinco gols.
No Alvinegro Praiano, Carlos Alberto assumiu de imediato a lateral-direita, posição antes ocupada por Ismael. Alto (1,82m), técnico, de estilo elegante e muita personalidade, revelou-se um dos primeiros laterais modernos, com vocação para apoiar o ataque e marcar gols. Permaneceu no Santos até o final de 1970, foi emprestado por um ano ao Botafogo/RJ, mas retornou à Vila Belmiro, onde permaneceria até 1975.
Nessa segunda passagem pelo Santos, trocou a lateral-direita pela zaga, formando dupla ora com o gaúcho Vicente, ora com o paulista Marinho Peres, com quem ganhou seu último título paulista, em 1973, em uma equipe que ainda contava com Pelé.
Carlos Alberto Torres fez 443 partidas, marcou 40 gols e conquistou dez títulos oficiais com a camisa do Santos: os Paulistas de 1965/67/68/69/73, os Brasileiros de 1965 e 1968, o Torneio Rio-São Paulo de 1966 e as Recopas Sul-americana e Mundial de 1968.
Ao sair em definitivo do Alvinegro, em 1975, Carlos Alberto defendeu Flamengo, Fluminense e New York Cosmos, este último ao atender um pedido especial de seu dileto amigo Pelé. Ao encerrar a carreira, em 1982, tornou-se técnico, dirigindo 16 equipes, do Brasil e do Exterior, algumas delas mais de uma vez.
Pela Seleção Brasileira , jogou 61 partidas e marcou nove gols. É o segundo jogador santista que mais defendeu o Selecionado, atrás apenas de Pelé, que jogou 113 partidas pelo Escrete enquanto era jogador do Santos. Na Copa do México, Carlos Alberto se tornou o segundo santista a erguer a Taça Jules Rimet. O primeiro foi Mauro Ramos de Oliveira, capitão da Seleção em 1962, no Chile.
Casado três vezes, o lateral que revolucionou o futebol teve os filhos André e Alexandre Torres com sua primeira esposa, Sueli. Casou-se, depois, com a conhecida atriz Terezinha Sodré, e estava casado com Graça Garbaccio quando, em 25 de outubro de 2016, teve um enfarto em casa e faleceu.
Carlos Alberto Torres andava deprimido com a morte de seu irmão gêmeo, Carlos Roberto, um mês antes. Graça disse que o marido estava triste e nem queria sair de casa. Ela guardou, sem lavar, a camisa que Carlos Alberto usou em sua última participação no programa Troca de Passes, no SportTV, onde o artista responsável pela última pincelada da era do futebol arte era um dos comentaristas.
Fonte: www.santosfc.com.br/carlos-alberto-torres-o-lateral-que-revolucionou-o-futebol
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