(ANSA) – Eliel Passoni perdeu um irmão, uma cunhada e dois sobrinhos em um dos maiores desastres naturais deste século na Itália, a passagem do ciclone Cleopatra pela Sardenha, em novembro de 2013, mas nem por isso guarda rancor.
Ignorando até há pouco tempo que uma mulher está sendo julgada pela morte de seus parentes, o agricultor de Divinolândia, cidade de 12 mil habitantes situada no interior de São Paulo, diz que não vê culpados pela tragédia que o afastou para sempre de parte de sua família.
Izael Passoni, de 42 anos, sua mulher, Cleide Mara Rodrigues, 39, e seus dois filhos, Weriston e Laine Kellen, 21 e 17, dormiam no porão onde moravam, no município sardo de Arzachena, quando as inundações causadas pelo Cleopatra encheram o imóvel de água em poucos minutos. Com a única via de fuga bloqueada, eles não conseguiram escapar.
Na última quinta-feira (7), Nicolina Brunetta Poggianti, de 70 anos, começou a ser julgada por homicídio culposo pelas quatro mortes. Ela é a dona do porão alagado e o havia cedido gratuitamente para a família brasileira, que passava por dificuldades financeiras e em troca do aluguel cuidava da vila onde fica o imóvel, também de propriedade da ré.
Eliel só ficou sabendo da existência do processo às 18h30 desta sexta-feira (8), em conversa por telefone com ANSA Brasil. “Se tiver isso daí, é sem intenção nossa”, afirma o irmão de Izael, homem do campo, mas que tentou a sorte na Itália em busca de melhores condições de vida.
Quando morreu, estava no país europeu havia oito anos. Primeiro, ele foi sozinho. Depois, levou o restante da família. O plano era voltar ao Brasil no fim de 2014, mas Cleopatra não deixou. Para Eliel, quase dois anos e meio após a tragédia, é como se ainda estivessem por lá. “‘Não é verdade’: é mais ou menos assim. No meu caso, eu até penso que eles estão pra lá, que não vieram ainda. Mas com o tempo isso vai passando também.”
A Procuradoria de Tempio Pausania, cidade vizinha a Arzachena, acusa Poggianti porque o porão não era “habitável”. Além da porta de entrada, o imóvel tinha uma segunda possível rota de fuga, uma passagem que dava para os andares superiores da vila, mas estava bloqueada pela proprietária. Os Passoni não tinham a chave. “Nós não condenamos ninguém. Meu irmão foi pra lá porque quis ir. Se eu estivesse lá, se eu pudesse livrar a mulher, eu não condenaria ela não. Tinha os direitos, tudo bem, mas eu não quero condenar ninguém”, diz Eliel.
Ao todo, o ciclone Cleopatra deixou 19 mortos na Sardenha – incluindo os quatro brasileiros -, provocou a evacuação de 493 pessoas e causou um prejuízo estimado em mais de 100 milhões de euros. A primeira audiência do processo sobre a família Passoni foi realizada na última quinta-feira, mas a próxima só deve ocorrer em 26 de maio. (ANSA)