Não apenas aplicar, mas gerar conhecimento é o desafio do médico que opta por trabalhar numa área que pode ser considerada os “bastidores” da medicina. Atrás das cenas dos consultórios, estão os laboratórios e a pesquisa clínica, que refletem em benefícios nas atividades de assistência e tratamento de pacientes. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul endossa a importância desse trabalho, através de apoio à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapergs).
Mas o que leva um médico a seguir pelo caminho de pesquisa e inovação? O perfil do profissional é um dos fatores, mas o infectologista Alessandro Pasqualotto, coordenador do Laboratório de Biologia Molecular da Santa Casa e professor da UFCSPA, acredita que quando o jovem ingressa da faculdade não tem uma visão geral das possibilidades da medicina. “Tive sorte de ser estimulado para essa área desde o início do curso, pois tive excelentes professores pesquisadores”, explica.
Básica ou clínica
Para Pasqualotto, a “medicina é a arte do relacionamento”. “O médico que faz o trabalho essencialmente clínico pode não entender tanto de ciência, mas estamos de olho na necessidade social. Lá na ponta, temos o mesmo objetivo, de melhorar a vida do doente”, pondera.
Já para o coordenador do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital São Lucas da PUCRS, Domingos d’Avila, a pesquisa foi uma evolução natural de seu trabalho como nefrologista e professor universitário, que desempenha há mais de 30 anos. Ele lida com pacientes voluntários em testes de medicamentos, um trabalho de grande responsabilidade: “Buscamos melhorias, mas a gente nunca sabe o resultado final do estudo. Pode ser útil para um tratamento ou mesmo danoso. É uma área bastante controlada, mas gera apreensão”, diz.
Criação e venda
Vanguardismo e empreendedorismo andam juntos com a medicina na área de pesquisa. O processo de inovação deve se guiar pelas necessidades sociais e por melhorias nos processos institucionais, sem perder de vista a necessidade de fomento para o trabalho e o que já vem sendo desenvolvido no mesmo segmento. Por isso, após as especializações, doutorado e pós-doutorado em Medicina, Pasqualotto está prestes a começar um curso de MBA.
De outro lado, nem todo projeto tem foco no ineditismo. “Alguns processos já existentes são absorvidos e implementados da melhor forma para nossa realidade”, diz o médico. Exemplo bastante atual disso é o teste para a detecção simultânea dos vírus da zika, dengue e chikungunya, desenvolvido pelo laboratório que coordena. “Já existem testes para esses vírus, mas o método desenvolvido na Santa Casa permite que pacientes internados com suspeita da doença obtenham seus resultados em menos de 24 horas, dentro da própria instituição”, justifica.
D’Avila, por outro lado, que já fora chefe de equipe e participou dos primeiros transplantes de rim em Porto Alegre, não viu dificuldades em assumir uma função administrativa na pesquisa. Ele explica que relatórios e busca de fomento cabem aos médicos investigadores, gerenciados por ele.
Rotinas equilibradas
Mesmo envoltos nos trabalhos de pesquisa e acadêmico, Pasqualotto e D’Avila ainda se dedicam a pacientes e contam ter rotinas bem equilibradas. O nefrologista ainda atende em consultório, mas garante que “tem horário para cada coisa”: “Ainda sobra um tempo para descansar e ler um livro”, brinca.
O pesquisador da Santa Casa, além da expectativa de que seu trabalho retorne aos pacientes, ainda tem o trabalho clínico na enfermaria do Sistema Único de Saúde do hospital junto aos residentes que orienta. Sem a rotina de plantões e sobreavisos, ele classifica como “na medida” o tempo que dedica aos atendimentos.
“Atuo 100% SUS. Nem teria condições de ter um consultório. Gerencio o laboratório, dou aulas e reservo um bom tempo para os residentes e pacientes. Ainda viajo bastante e tenho prazos e relatórios a cumprir com as pesquisas. É um desafio, mas posso dizer que minha rotina não me entedia”, celebra o médico.