O programa “Mariana Godoy Entrevista” desta sexta-feira (8) recebeu a jornalista Mirian Dutra, que teve um relacionamento extraconjugal com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mariana começou a entrevista trazendo imagens de antigas reportagens feitas por Mirian, mas não encontrou as entrevistas: “Eu acho que a TV Globo apagou essas imagens todas. Eu acho que eu não existo para a TV Globo”. Apesar disso, o programa localizou uma imagem de Mirian em um documentário sobre o piloto Ayrton Senna: “A TV Globo apagou minhas imagens, mas isto não tem como apagar”, afirmou a jornalista. Mirian classificou sua saída da emissora como ‘deselegante’: “Foi deselegante você dispensar uma correspondente depois de 25 anos por e-mail. É deselegante”. A jornalista disse que não recebeu nenhuma justificativa e que está procurando emprego na área.
Mirian disse que não foi mandada para fora do Brasil: “A decisão de sair do Brasil foi minha, única e pessoal. Porque tinha dois filhos pequenos e achei que o melhor lugar para criá-los era lá fora. O Brasil, 25 anos atrás, passava a mesma coisa que passa agora, o impeachment. Era o impeachment do Collor”.
Mirian negou que tenha recebido dinheiro para falar sobre a situação com FHC: “A menina [a jornalista da revista Brazil com Z’] foi de uma doçura comigo, foi um bate-papo. O que me moveu a isso: exatamente a falta de matérias minhas na TV Globo. Se eu mandar um currículo agora, quem vai aceitar uma pessoa que não tem uma matéria? E quando você abre o Google só tem sites te insultando? O que você tem que fazer? Tentar limpar o seu nome”.
Sobre o período de silêncio, Mirian disse: “Acho que minha vida privada é minha vida privada, ninguém tem que saber. Eu tenho um cuidado muito grande com a minha vida pessoal, sempre tive e vou continuar tendo.” A jornalista disse que não esperava tamanha repercussão. “Não falei com ninguém. Eles [a imprensa] fizeram um retalho de 25 anos de informações em off, on, virou uma colcha de retalhos e o caldeirão explodiu. E quando eu vi, eu estava exatamente fazendo uma coisa que eu nunca pensei, que é ter que falar da minha vida privada.”
“Eu acho que eu já tenho uma certa idade e tenho uma capacidade de pensar para me deixar ser usada. Nunca ninguém vai me usar. Infelizmente, aconteceu e eu dei essa entrevista, agora espero esclarecer tudo isso com você [Mariana Godoy] e que fique muito claro que eu não recebi dinheiro, que eu não sou milionária, que eu não compactuei com ninguém”, afirmou Mirian.
“Desde que meu filho entrou na escola, ele [Fernando Henrique Cardoso] queria pagar os estudos do Tomás. Eu não concordava com isso, mas depois fui convencida a aceitar, afinal o dinheiro não era para mim, era para a educação. Então eu impus a condição de que ele pagasse a do Tomás e a da Isadora. Pois eu não queria um filho numa escola internacional e outro na pública (…) Era esse dinheiro que entrava para a escola, eu não recebia pois eu tinha trabalho”, explicou a jornalista.
“Os filhos da gente a gente cria, mas depois eles batem a asa. Eu respeito o silêncio do Tomás como o Tomás também respeita a minha postura com relação a todo esse caso”, disse Mirian. Segundo ela, FHC “nunca apresentou os papéis da paternidade”.
Sobre um exame de DNA feito por FHC sem conhecimento de Mirian e que teria dado negativo, a jornalista afirmou: “Não sei por qual motivo nos Estados Unidos interessou ele fazer esse exame. Eu nunca vi esse exame de DNA. O advogado também não recebeu o exame de DNA”. Mirian disse que “tentou tudo” para que ele refizesse o exame: “Independente de qualquer coisa, acho que foi um assunto de adulto tratado com um menino. Podia ter feito o exame de DNA e ter dado negativo, mas ele podia ter falado comigo. É um assunto de adulto isso”.
Mirian acredita que a revelação de seu caso com Fernando Henrique poderia ter causado danos políticos ao ex-presidente: “Eu, como jornalista e conhecendo ele, se saísse alguma coisa naquela época, iria quebrar o eixo dele, que é a família. Então acho que iria afetar sim. Nunca perguntei isso para ele, nunca discuti isso com ele. Acho que a decisão de quando você fica grávida, de manter a gravidez, é da mulher. E foi minha. Produção independente.”
“Eu acho que era uma relação de professor com aluna. Pois eu estudei ele na universidade de jornalismo, acho que era esse tipo de relação. É a coisa mais normal do mundo, a aluna se apaixonar pelo professor ou o professor se apaixonar pela aluna e manterem esse romance. Um romance assim meio inibido por todas as circunstâncias”, contou. Mirian disse que nunca pensou em escrever um livro sobre a história: “Isso é vida privada, uma coisa que tem que ficar com a gente”.
“O que é amar?”, perguntou Mirian ao responder se amou Fernando Henrique. “Acho que a definição de amor é muito relativa, para várias coisas. Pra mim era muito difícil, eu era jornalista e não me sentia confortável. Posso te garantir que não foi uma relação confortável para mim”.
Mauro Tagliaferri perguntou se ela se arrepende do relacionamento e Mirian respondeu: “Eu me arrependo (…) Se o tempo pudesse voltar atrás, eu não deixaria essa pessoa chegar perto de mim”.
Sobre o depoimento na Polícia Federal, a jornalista disse que o processo foi ‘muito cansativo’: “Imaginei que aquilo fosse durar uma, duas horas, mas o delegado estava tentando saber coisas que eu jamais saberia. Eu estou há 25 anos fora do Brasil e praticamente não venho ao Brasil. Ele mesmo comprovou isso com minhas entradas de passaporte. Mas foi muito cansativo. ‘Você sabe se o ex-presidente já tinha alguma pretensão política na época…’, isso é pergunta que se faça? Eu lá sei se ele tinha alguma pretensão política ou não, não sou analista dele. (…) O inquérito é baseado exclusivamente em notas de jornal de muito tempo, de blogs, de sites, de bobagens.” Mirian disse que não procurou sites ou blogs: “Não procuro ninguém, vou perder meu tempo? Ninguém me procura.”
Para a jornalista, o delegado da PF esperava que ela “viesse com uma mala cheia de documentos”. Ela foi questionada sobre imóveis de Fernando Henrique: “Não tenho a menor ideia e, sinceramente, nem me interessa”, afirmou.
A jornalista admitiu que existia uma “pessoa de confiança” entre ela e o ex-presidente: “Eu não tinha contato com ele, não tenho contato há muitos anos com ele.”
Sobre seu apartamento em Barcelona, Mirian explicou: “Os bancos na Espanha financiavam 100%”. A jornalista disse que foi ela quem pagou o imóvel e que não recebeu nenhum presente do ex-presidente, mas disse que o político José Serra teria “fiscalizado” as obras de seu apartamento. Mauro Tagliaferri sugeriu que ele estava lá para ‘fiscalizar’ a jornalista, hipótese refutada por Mirian.
“Jamais pensei em prejudicar qualquer pessoa”, disse Mirian, afirmando “nunca” ter sofrido nenhum tipo de ameaça. Sobre o hackeamento de sua página no Facebook, invadida por um grupo que anunciou a morte da jornalista, declarou: “Não dá para levar a sério”. Mirian disse que seria ‘impossível’ identificar os autores do hackeamento, mas admitiu ter sentido medo: “Assustou todo mundo, me assustou. Tomei um susto muito grande com isso”.
“Eu não conheço nenhuma empresa, até porque tinha contrato com a TV Globo e este contrato era de exclusividade”, disse Mirian quando questionada se assinou contrato com a Brasif. “Se houve este contrato, eu sinceramente não lembro”, completou a jornalista, afirmando que tudo era intermediado por uma pessoa de confiança entre ela e FHC. Questionada se esta pessoa seria Fernando Lemes, Mirian disse que “não gosta de falar de quem já morreu, quem não pode se defender”.
“O Brasil está com tanta dificuldade, com tantos problemas, e o pessoal está preocupado com Mirian Dutra”, disse a jornalista. “Eu entendo desta maneira: o interesse das pessoas, hoje, se a lambança começou, então vamos fazer uma lambança total. Acho que as pessoas estão esquecendo que qualquer coisa que ele tenha feito, prescreveu. Eu não tenho o menor contato com ele e não tenho vontade de manter contato nenhum. Acho que a palavra não é se eu o protegi, eu me protegi. Em momento algum eu tentei proteger qualquer outra pessoa que não fosse eu e meus filhos”.
Mirian desviou quando questionada se tinha conhecimento do envolvimento da família de Fernando Henrique Cardoso no caso do “Panama Papers”.
A jornalista disse que o compromisso que FHC assumiu com Tomás foi o de pagar todos os estudos. Ela disse que o filho jamais lhe pede alguma coisa e é adepto do “mutismo”, da discrição.
“Olhando de fora, como espectador, é uma história triste e dura. Mas, é a história de cada um”, disse Mirian sobre seu relacionamento com FHC.
“Nunca entrei no gabinete do senador Fernando Henrique Cardoso”, afirmou. Sobre a ‘entrevista’ que teria dado afirmando que estava grávida de um biólogo, e não de FHC, a jornalista disse que foi “armada pelo diretor da revista Veja, Mario Sergio Conti”.
Mirian afirmou que nunca foi pressionada pela TV Globo para sair do país ou encerrar a carreira. “Eu comecei a estranhar um monte de coisa. Mas entre você pensar e você afirmar são duas coisas completamente diferentes. (…) Você podia imaginar que a sua presença no Brasil não seria muito agradável, mas nunca ninguém falou nada disso comigo”.
Mirian disse que conversou com a jornalista Mônica Bergamo e contou sobre os documentos que a ligam à Brasif: “Em 2003, durante uma semana, eu a Mônica nos sentamos e falamos sobre a minha vida. Eu tinha medo que pudesse acontecer alguma coisa comigo e nada fosse divulgado. Então ficou um arquivo. Não havia nenhum tipo de compromisso de publicação, não existia nenhum projeto. Foi uma coisa que foi exatamente isso. Uma semana, nós duas, gravam a conversa, e foi isso”.
“Me assusto com a repercussão da entrevista. Acho que fui muito inocente em dar uma entrevista dessas”, contou Mirian.
A jornalista disse que não sentiu qualquer tipo de preconceito profissional por causa de sua relação com FHC: “Ninguém sabia. Eu sempre fui uma mulher independente e livre.” Segundo Mirian, nem seus próprios chefes sabiam: “Podiam desconfiar. Ninguém nunca comentou nada comigo”. Mirian disse que nunca teve sonhos de se casar com Fernando Henrique.
“Eu falei que não lembrava de ter assinado nada”, disse Mirian sobre o depoimento dado à Polícia Federal. A jornalista disse que não está com medo.
“O problema é dele, não é meu. Ele que mandava o dinheiro (…) As pessoas ficam falando que eu provavelmente ganhei muito dinheiro, não. O dinheiro era exato para pagar o colégio de um e de outro”, explicou.
Mirian disse que a relação com o ex-presidente já teve o ponto final: “Foi um rio que passou na minha vida. E secou”.
“Estamos fazendo aqui um exercício da gente esclarecer que ninguém nunca me pediu para sair do Brasil, que eu vendi minhas casas e fui embora pois o Brasil estava exatamente na situação que está hoje”, ressaltou Mirian.
“A sensação que eu tenho hoje é que está tudo muito confuso (…) Mas também ninguém acreditava no impeachment do Collor e aconteceu”, disse a jornalista sobre o atual processo de impeachment.
“Eu não vou voltar mais aqui para dar entrevista, eu volto para a Espanha (…) Eu espero que tenha deixado claro principalmente esta parte, de que eu não fui mandada embora, eu tenho minha vida, não quero incomodar ninguém, não quero que ninguém seja incomodado pela minha presença. Decidi vir depor pois estava ao lado do advogado, tinha a opção de depor na Espanha, mas me senti mais segura por estar ao lado do advogado”, afirmou Mirian, que ainda revelou que “todos serão processados” por ofensas postadas contra ela na internet.
CRÉDITOS FOTOS: ARTUR IGRECIAS/REDETV!