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Por Odir Cunha e Guilherme Guarche, do Centro de Memória
O zagueiro central José Manuel Ramos Delgado era um tipo raro. Pela extrema categoria, pela liderança firme e silenciosa, por ser um dos poucos argentinos negros, por continuar jogando muito bem mesmo perto dos 40 anos e por ter conquistado, tão fácil e profundamente, o coração dos santistas.
Nascido em 26 de agosto de 1935, em Quilmes, Ramos Delgado herdou do pai cabo-verdiano o sobrenome Ramos, e o Delgado da mãe (nos países de língua espanhola o sobrenome paterno vem antes do materno).
Em 1956, aos 20 anos, iniciou a carreira no Lanús, uma equipe que nos dois anos seguintes conseguiu ótimos resultados, a ponto de ser denominada Los Globetrotters e ficar perto de conquistar o título argentino. Suas atuações firmes, sóbrias, o colocaram na lista dos convocados para a Copa de 1958, na Suécia, e chamaram a atenção do River Plate, que o contratou em 1959.
Nos seus seis anos de River o clube não foi campeão, mas Ramos Delgado se tornou ídolo mesmo assim. Seu talento para desarmar o adversário sem violência e a classe para sair jogando conquistaram os torcedores.
Mas em 1965, aos 30 anos, considerado em final de carreira pelos dirigentes do clube, acabou indo parar no pequeno Quilmes. Provavelmente já estava planejando sua aposentadoria quando recebeu um telefonema inesperado.
“Era do Santos. O Mauro Ramos de Oliveira estava parando e jogadores como Carlos Alberto, Gylmar e Pelé sugeriram que eu fosse contratato para substituí-lo. Eu conhecia bem os jogadores do Santos, que já tinha enfrentado tantas vezes, mas como poderia imaginar que aquele time que lotava os estádios onde jogasse, iria me chamar?”
Ramos Delgado contou essa história a dois jovens argentinos que o entrevistaram. Falou das qualidades incomparáveis de Pelé, da amizade com os jogadores do Santos e do carinho da torcida. Brincou que, talvez pela cor da pele, tenha sido muito bem tratado e se sentiu como um brasileiro.
Joel Camargo, titular do Brasil, era seu reserva
Uma das façanhas de Ramos Delgado foi se manter titular do Santos, aos 33 anos, e deixar no banco de reservas o jovem Joel Camargo, de 22, na época titular da Seleção Brasileira que se preparava para a Copa de 1970.
Líder que sabia se impor pela técnica e, por que não, também pelo porte atlético de 1,81m e cerca de 78 quilos, Ramos Delgado comandou a defesa do Santos de 1967 a 1972 e conquistou, além de inúmeros torneios importantes, seis títulos oficiais: Campeonatos Paulistas de 1967, 1968 e 1969, Torneio Roberto Gomes Pedrosa/ Campeonato Brasileiro de 1968, Recopa Sul-americana e Recopa Mundial de 1968.
Jogou 323 partidas com a camisa do Santos e marcou apenas um gol, em 26 de maio de 1970, o primeiro, de pênalti, na vitória de 2 a 1 sobre o Allianza, de San Salvador, na América Central – jogo interrompido no segundo tempo devido às fortes chuvas. Naquele dia formou a dupla de zaga com outro craque, Djalma Dias.
Ao sair do Santos, em 1973, o argentino brasileiro ainda jogou na Portuguesa Santista. Em seguida iniciou carreira de técnico nas categorias de base do Santos, passando ao time profissional em 1977 e 1978. De volta à Argentina, treinou 10 equipes, entre elas os grandes River Plate e Estudiantes. Voltou a comandar as equipes de base do Santos de 1993 a 2005.
Ao retornar ao seu país, foi viver em La Plata, com sua esposa, o que se prenunciava uma velhice tranquila. Mas os sintomas do Mal de Alzheimer rapidamente se tornaram severos. O grande zagueiro, um dos melhores e mais queridos que o Santos teve em sua história, faleceu em 3 de dezembro de 2010, aos 75 anos.
Fonte: www.santosfc.com.br/ramos-delgado-o-mais-santista-dos-argentinos
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