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Uma vacina por spray nasal é a nova aposta da Universidade de São Paulo (USP) contra a COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus. O modelo de imunização, já testado em camundongos contra hepatite B, foi redirecionado para tentar frear a disseminação do vírus SARS-Cov-2.
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A equipe, coordenada pelo médico veterinário Marco Antonio Stephano, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, desenvolveu uma nanopartícula a partir de uma substância natural. Dentro dela, foi colocada uma proteína do vírus.
Uma vez administrada, dentro das narinas, espera-se que o corpo produza a IgA secretora – anticorpos presentes na saliva, na lágrima, no colostro e em superfícies do trato respiratório, intestino e útero. “Além de inibir a entrada do patógeno na célula, a vacina impedirá a colonização deles no local da aplicação”, explica Stephano ao Jornal da USP.
A nanopartícula criada pelos pesquisadores possui propriedade muco-adesiva, ou seja, permite que o material permaneça nas narinas de 3 a 4 horas até ser absorvido pelo organismo e ativar a resposta imune. Essa especificidade impede, também, que o antígeno seja expelido pelo organismo por meio de espirros.
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Via de imunização
A imunoglobulina A (IgA) é um anticorpo produzido por plasmócitos – células de defesa diferenciadas a partir dos linfócitos B – quando há um agente invasor, juntamente com outras imunogloblinas, como a IgG. Já a IGA secretora (sIgA) é a imunoglobulina A presente nas secreções e superfícies dos organismos e, devido ao componente secretor, tem a capacidade de atravessar as membranas das mucosas. Desta forma, a IgAs torna-se o primeiro anticorpo a neutralizar o vírus.
Stephano trabalha no desenvolvimento de modelos vacinais na USP desde 2009. O primeiro foi desenhado para imunizar filhotes de cães contra a parvovirose. “Pensamos nos animais que ficam desprotegidos do desmame até a primeira dose da vacina injetável v8, aplicada aos 40 dias de vida”, diz o veterinário.
Logo depois, um aluno de doutorado procurou o pesquisador com a ideia de produzir uma vacina contra a hepatite B. “Testamos em camundongos e, depois de 15 dias, eles estavam imunizados”, comemora. A tecnologia serviu de base para o desenvolvimento da vacina contra a COVID-19.
Stephano destaca que os protótipos devem ficar prontos em três meses, quando será possível iniciar os testes em animais.
Vantagens
A imunização nasal traz vantagens em relação às vacinas injetáveis. É bem aceita por crianças e idosos, não é invasiva e tem menos reações ou efeitos colaterais. “Sempre que se pensa em infecções respiratórias, acreditamos que uma vacina com esse tipo de abordagem é melhor, pois ela gera imunidade no local da aplicação e produz IgA”, explica ao Jornal da USP a imunologista Cristina Bonorino, da Sociedade Brasileira de Imunologia e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Virologistas e imunologistas do Instituto de Ciências Biomédicas, especialistas em nanotecnologia do Instituto de Química da USP, pesquisadores da Plataforma Científica Pasteur-USP, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de uma startup estão envolvidas no projeto. Para garantir a imunização, serão necessárias quatro doses – duas em cada narina, a cada 15 dias.
Os pesquisadores estimam que o produto seja repassado ao público a um custo de R$ 100 reais. “Temos todos os atores necessários para que ele se torne realidade”, finaliza Stephano.
Segundo a OMS, existem pelo menos 100 vacinas contra a COVID-19 em desenvolvimento no mundo. Algumas delas já se encontram na fase de testes clínicos.