Odir Cunha, do Centro de Memória
Em 1968 o Santos foi campeão paulista com uma diferença de 11 pontos para o segundo colocado, e isso em uma época em que vitórias valiam dois pontos. Em 1969, na tentativa de manter o suspense até o fim, a Federação Paulista decidiu que, após a fase de classificação, haveria um quadrangular, em turno único, que no dia 21 de junho definiria o campeão do Estado.
Com uma das agendas mais lotadas do futebol, que naquele primeiro semestre de 1969 incluiu paralisar dois conflitos na África, ceder 80% do time para a Seleção Brasileira e disputar as Recopas Sul-americana e Mundial, o Santos não foi tão arrasador na fase de classificação do Paulista, o que deixou os adversários esperançosos.
Dos 26 jogos da fase de classificação o Santos venceu 16, empatou quatro e perdeu seis. Terminou em primeiro do grupo A, empatado com o Palmeiras em pontos, mas com uma vitória a menos. No grupo B, a liderança foi do Corinthians, com 37 pontos, seguido pelo São Paulo, com 36.
Comparado com anos anteriores, era evidente que o Santos não se destacava tanto naquele Estadual. Entre 27 de abril e 11 de maio, em cinco jogos, não obteve uma única vitória. Perdeu para Palmeiras, Portuguesa Santista e Ferroviária, e empatou com América e XV de Piracicaba.
Duas semanas antes do início do quadrangular decisivo, um gol de Edu aos 44 minutos do segundo tempo livrou o time de uma derrota para o Corinthians. E justamente o duelo dos dois alvinegros abriria o quadrangular, mas dessa vez sob uma pressão bem maior, pois uma vitória deixaria o título bem encaminhado.
Com uma equipe com os onze jogadores selecionáveis – toda a defesa da Seleção Brasileira, além de Clodoaldo, Pelé e Edu – o Santos teve a iniciativa e decidiu a partida em apenas 18 minutos, com três golaços: Pelé, aos 25 e 32, e Edu, aos 43, todos no primeiro tempo.
O primeiro de Pelé é uma obra-prima de habilidade, antevisão e domínio absoluto do tempo. Ele recebe o passe alto de Toninho, mata no peito, com um toque dá um chapéu em Ditão e em Luis Carlos, e sem deixar a bola cair arremata para o chão, vencendo o goleiro Lula.
Depois o Rei faria outro, acertando uma bomba após em tabela com Edu; e por último Edu, depois de entortar o pobre lateral Aldecir, mandaria um petardo, quase sem ângulo, para estufar a rede. O adversário só faria o chamado gol de honra aos 22 minutos do segundo tempo.
O campeonato prosseguiu apenas no dia 18, uma quarta-feira, pois no dia 12 a Seleção Brasileira enfrentou a Inglaterra, a campeã do mundo, no Maracanã, no jogo de despedida do goleiro Gylmar. Para essa partida o Santos cedeu nada menos do que oito titulares.
De volta ao Paulista, o Alvinegro Praiano teve de ir ao Parque Antártica se bater com o Palmeiras, que na primeira rodada havia empatado com o São Paulo. Novamente a vitória seria fundamental. Na fase de classificação o Santos perdera os dois jogos para o Palmeiras – 3 a 2 no Morumbi e 1 a 0 na Vila Belmiro –, mas agora até os palmeirenses sabiam que a dificuldade seria bem maior.
O adversário tinha um bom time, com Dudu, Ademir da Guia, César, Artime, mas o Santos, quando motivado, era quase imbatível. Assim, Pelé marcou aos 23 minutos do primeiro tempo, aproveitando lançamento de Rildo; Edu ampliou aos 20 do segundo, driblando da direita para o meio e batendo rasteiro na saída do goleiro, e Toninho marcou o terceiro 12 minutos depois, em uma bola dividida com o goleiro.
Houve ainda um gol de Pelé aos 40 minutos do segundo tempo, aproveitando um passe alto de Edu. A bola cabeceada por Pelé bateu no travessão e quicou dois palmos dentro da meta de Chicão, mas o árbitro Roberto Goicochea não deu o gol e colocou a culpa no bandeirinha José Favilli Neto.
Para a Folha de São Paulo a vitória fez do Santos “o virtual campeão”, pois, segundo o jornal, só uma derrota por 6 a 0 para o São Paulo, na última rodada, tiraria a taça da mão dos santistas. Mas o jornal fez as conta errada. Uma vitória são-paulina por três gols de diferença empataria os times em pontos ganhos, mas o tricolor ficaria com um gol de saldo a mais.
Dessa forma, sem correr riscos e sem sofrer ou marcar gols, o Santos passeou no Morumbi no sábado, 21 de junho, e diante de 36.631 torcedores garantiu o tricampeonato paulista. Com todos os titulares, Antoninho escalou o time com Cláudio, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias e Rildo; Clodoaldo e Negreiros; Edu, Toninho, Pelé e Abel.
Na classificação final, comparado com o Palmeiras, o segundo colocado, o Santos ficou com 41 pontos ganhos, um ponto a mais; 63 gols a favor, contra 50, e saldo de 32 gols, contra 26.
Pelé, com 26 gols, foi o artilheiro do Campeonato Paulista pela décima vez em treze participações. Desde 1955, em 15 títulos disputados, o Santos alcançava sua décima primeira conquista, em uma hegemonia jamais vista no futebol de São Paulo. E com o título de 1969 o Alvinegro completou 13 anos consecutivos como o melhor ataque do campeonato, fazendo jus à fama de time mais ofensivo do mundo.