Gabriel Pierin, do Centro de Memória
No dia 14 de julho de 1927 o Estádio das Laranjeiras recebeu as valorosas equipes de Santos e Vasco. O time de Vila Belmiro venceu com superioridade. Além da goleada por 4 a 1, o Alvinegro deixaria uma outra marca, tornando-se o campeão da Técnica e da Disciplina.
Aquele desafio interestadual marcava a reinauguração do Estádio das Laranjeiras. A casa do tricolor carioca, a mais antiga do Brasil, tinha passado por uma ampla reforma. Além disso, a bilheteria da partida seria revertida na arrecadação de recursos para a participação brasileira na Olimpíada de Amsterdã no ano seguinte.
Para o Vasco o jogo tinha uma razão especial. Amargurado pela derrota na inauguração de seu estádio, o clube cruzmaltino via no confronto a possibilidade de remissão perante o público carioca.
Menos de três meses antes, em 21 de abril, as mais elevadas autoridades do País e o grande público que lotou São Januário testemunharam uma demonstração descomunal do Santos. O ataque mágico do Alvinegro impôs uma dura derrota aos vascaínos por 5 a 3. O troféu Vitória foi para a Vila Belmiro e hoje adorna o nosso Memorial das Conquistas.
Em julho, o Santos já completava grandes goleadas, se destacava no Campeonato Paulista e foi para o Rio de Janeiro considerado uma das melhores equipes do Brasil. O jornal carioca O Globo reconhecia a superioridade santista ao observar que:
Bem poucas equipes possuirão tão perfeita compreensão do passe e dos segredos todos do futebol. E o Vasco? Foi um quadro que se conduziu esforçadamente, sem todavia conseguir anular a seção magnífica de seus antagônicos.
O árbitro Everardo Martins Tinoco, do Botafogo carioca, apitou a partida da festiva tarde de quinta-feira. O Santos estreou o novo gramado do Fluminense com sua equipe completa: Tuffy, Bilu, David; Hugo, Julio e Alfredo; Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista.
O primeiro gol não tardou. Logo nos primeiros minutos Araken acertou um chute rasteiro no canto esquerdo do goleiro Nelson. Os vascaínos reagiram, mas pararam nas mãos de Tuffy. O goleiro santista fez duas ótimas defesas. Já Nelson não teve a mesma sorte. O goleiro vascaíno não conseguiu evitar outro gol santista. Araken aproveitou o ataque, fintou Itália e marcou mais uma vez.
O jogo foi momentaneamente interrompido para saudar os aviadores patrícios do Jahú, heróis da travessia aérea Gênova-Santos. O esquadrão foi aplaudido e ocupou o pavilhão de honra do estádio para assistir à gloriosa e histórica partida.
Quando o jogo foi reiniciado, o Alvinegro manteve o ímpeto. O atacante Evangelista escorou de cabeça a bola centrada por Omar, assinalando o terceiro tento santista. O primeiro tempo terminou com o placar de 3 a 0.
No intervalo, o Santos ofereceu aos aviadores um fino e artístico cartão de prata com os seguintes dizeres: “Aos bravos aviadores brasileiros, homenagem do Santos FC”. Era um distinto gesto de reconhecimento pela coragem e destreza dos aviadores.
A diretoria vascaína não estava tão animada. Numa atitude de animosidade, seus dirigentes, inconformados com o resultado e temendo um novo fracasso que se anunciava, reclamaram do árbitro e exigiram que este fosse substituído. Apesar da surpresa, o pedido foi acatado e o jogo reiniciado agora com a arbitragem de Paes da Rosa.
O Santos continuou melhor e ampliou a contagem, com Feitiço, após uma eficiente troca de passes. No fim do jogo, o Vasco ainda teve tempo de diminuir a marcar o seu gol de honra.
Mais uma vez o Alvinegro Praiano impunha uma dura derrota aos vascaínos e se firmava como uma das melhores equipes do Brasil. Inconformados, alguns jogadores vascaínos apelaram para a violência e para provocações, mas os santistas agiram como cavalheiros o tempo todo.
Impressionado com o jogo bonito e eficiente e também com a atitude desportiva dos santistas, o jornalista Carlos Gonçalves, do jornal O Globo, chamou o esquadrão paulista de “Campeão da Técnica e da Disciplina”, título que se espalhou pela imprensa carioca e brasileira.
Números e Recordes
Em 1927 o poderoso esquadrão santista ficou conhecido como “Ataque dos 100 gols”. No Campeonato Paulista a linha formada por Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista chegou à marca centenária em 16 jogos, conquistando a incrível média de 6,25 gols por partida. Araken foi o artilheiro do campeonato, com 31 gols, marca histórica no Estadual Paulista, outro recorde para a época.
Fonte: www.santosfc.com.br/o-dia-em-que-o-santos-se-tornou-o-campeao-da-tecnica-e-da-disciplina