Até quando um ser humano pode viver? Qual é o limite da existência? Esse é um mistério que os cientistas tentavam desvendar e que parece ter chegado ao fim. Um estudo publicado na última edição da revista Nature mostrou que essa idade limite é de 150 anos, que pode ser alcançada em condições normais e com o mínimo possível de eventos estressantes capazes de desequilibrar o organismo. A pesquisa foi realizada por um grupo de cientistas de Cingapura, Rússia e Estados Unidos e envolveu diversas medições dos marcadores sanguíneos nos mesmos indivíduos por quinze anos. Assim, foi possível compreender o padrão de desgaste imposto pelo envelhecimento e a perda progressiva de resiliência, a capacidade orgânica de responder a uma perturbação, resistir aos danos e se recuperar rapidamente.
“O estudo analisa o desgaste fisiológico, estritamente do ponto de vista biológico”, afirma Uiara Ribeiro, médica geriatra e professora da Escola de Medicina da PUC do Paraná. Ela explica que, por exemplo, ao passarmos por uma infecção bacteriana, o corpo demora certo tempo para voltar a funcionar como antes. Dessa forma, conforme as primaveras vão passando, a capacidade natural de nos restabelecer vai se reduzindo. “Ao ponto de ficarmos sem resiliência e qualquer evento estressor que vier poder causar a morte”, pontua a professora. Então, fazendo esse cálculo, os cientistas foram capazes de definir que a capacidade que o organismo tem de adoecer e retornar ao estado de equilíbrio fica em torno de 120 a 150 anos.
Apesar de ser algo impossível para os padrões de vida atuais – a pandemia do novo coronavírus diminuiu a longevidade mundial –, poder viver com qualidade até os 150 anos seria um sonho maravilhoso para qualquer pessoa. É isso que pensa Ouziles Miguel, engenheiro, 85 anos. “Se não for desse jeito, não quero”, afirma, jocosamente. Ele continua com a vida profissional ativa, sempre atrelada a construção civil. “Trabalho como representante comercial e vendedor de equipamentos para edificação”, conta. Com foco na manutenção do vigor físico, por mais de 40 anos Miguel praticou judô e caratê e chegou a ser professor de artes marciais para crianças carentes, “Só parei aos 70 anos por causa de um problema nos joelhos”, conta. Do ponto de vista do envelhecimento natural humano, ele se apresenta como uma pessoa independente. “Só a pandemia conseguiu me segurar em casa por um ano e meio”, afirma. O engenheiro conta que é muito feliz com a vida que tem e, aliada à alimentação balanceada, quer chegar, no mínimo, aos 110 anos.
O estudo da Nature focou em aspectos biológicos da vida humana, mas também serve para reforçar a cartilha médica: quanto antes pudermos adotar um ritmo de vida mais saudável, mais tempo vamos viver bem. Esse é o entendimento que o economista Ascenção Serapião Kouyomdjian, 91, tem na mente. “O ideal é levarmos a vida sem consumo de tabaco e álcool e sempre cultivar as amizades”, diz. Elegante, com 1,69m e 66 kg, Ascenção não atua mais profissionalmente, mas mantém as atividades esportivas. Ele foi jogador de tênis dos 35 aos 70 anos e hoje pratica caminhada e natação. A forma encontrada para garantir equilíbrio e força física, no caso de Ascenção e Miguel, foi a terapia fisioterápica especializada que os dois praticam com regularidade. “Chegamos à conclusão de que a criticidade que leva à morte é uma característica biológica intrínseca do organismo, que não depende dos fatores de estresse e significa o limite fundamental ou absoluto da duração da vida humana”, disse o cientista russo Pyotr Fedichev, que liderou o estudo. Em outras palavras, a nova pesquisa sugere que o ser humano pode viver muito mais anos do que se imaginava. Agora, o que falta, é adequar às necessidades biológicas às condições de vida da maioria da humanidade.
Fonte:Isto é