A Unesco escolheu o período de 2021 até 2030 para ser a “Década do Oceano” e chamar a atenção das autoridades do mundo todo sobre a situação do frágil ecossistema marinho.
Essa é mais uma tentativa para alertar sobre o impacto das atividades humanas nos oceanos. Em 2016, um relatório inédito divulgado pela organização revelou o declínio de espécies e a relação com o aumento da poluição.
A iniciativa envolve também incorporar informações científicas ao dia a dia de todos para consolidar a chamada “cultura oceânica”.
“Nós temos 10 anos para conservar o oceano, mas as pessoas não conhecem, entendem e respeitam esse espaço”, diz o Oficial de Projetos da Unesco, Glauco Kimura.
Com esse objetivo, há um esforço para unificar o conhecimento entre pesquisadores e especialistas de todo o mundo para criar um banco de dados amplo e atualizado. Até hoje, apenas 19% da água do planeta foi estudada e catalogada.
“Não adianta estudar só um oceano e não saber o que acontece em outros. A criação desses bancos de dados é muito importante”, diz a bióloga do IOUSP especialista em fitoplâncton microrganismos, Flávia Saldanha-Corrêa.
Lixo nos oceanos
O plástico está presente no cotidiano das pessoas e pode ser considerado um vilão dos oceanos. Muitas vezes, os produtos fabricados com esse material são de uso único e ainda são descartados de forma incorreta. A consequência desse comportamento é um acúmulo desse lixo no planeta.
“A produção em massa do plástico começou em 1950 e vem num ritmo crescente desde então. Dos anos 2000 para cá, a gente já produziu metade de todo o plástico produzido na história”, conta Vitor Pinheiro, coordenador da campanha Mares Limpos, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Além desse tipo de lixo ser produzido em grande volume no mundo, leva mais de 400 anos para ser decomposto na natureza. Como os programas de reciclagem ainda não conseguem processar 100% desse resíduo, o plástico chega até o mar e afeta animais, plantas e microorganismos que vivem na água.
Kimura ressalta a necessidade mudar o manejo do lixo urbanos para diminuir o impacto no meio ambiente. “Enquanto as cidades não investirem em aterros sanitários, economia circular, em transformar o resíduo plástico em ativo econômico, gerando emprego e renda, nós não vamos melhorar a situação.”
Enquanto isso não é uma realidade, o planeta já tem cinco grandes “Ilhas de Plástico” em seus oceanos. A maior fica no Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia, e tem uma área estimada de 680 mil km², o que equivale a área somada dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Esse material boiando na superfície será quebrado ao longo de muito tempo pela ação da água, pelos ventos e pelo sol até ficarem em pedaços minúsculos de até 5mm, os chamados microplásticos. Com uma dimensão tão pequena, o lixo passa a ser confundido com alimento pelos zooplânctons, que são organismos microscópicos que vivem no mar e se alimentam do fitoplâncton. Conforme esse material vai subindo na cadeia alimentar, fica acumulando nos predadores, inclusive nos humanos.
“Essa situação pode causar um colapso na rede alimentar do oceano”, avalia a Flávia. Com o tempo, esses peixes e frutos do mar que são consumidos pelos humanos podem perder o valor nutricional e causar uma queda na quantidade de organismos que podem servir de alimento para as pessoas.
Os especialistas são unânimes ao afirmar que a situação dos oceanos é reversível e que, com investimentos e esforço global, ainda é possível proteger o oceano. Para isso, é necessário que os governos, a população e outras instituições tomem atitudes para buscar uma situação melhor no futuro.
Fonte:R7