Em muitos cursos de inglês é comum aprender sobre literatura e histórias da cultura anglófona, incluindo lendas. Uma das mais famosas é a da Colônia de Roanoke, nos Estados Unidos. Provavelmente você já ouviu falar sobre ela em séries e filmes, ou mesmo em conteúdos de história. Hoje, vamos entender melhor os mistérios envolvendo uma das primeiras tentativas de colonizar o que viria ser os Estados Unidos.
O começo da colônia de Roanoke
Em 1587, um grupo de cerca de 118 colonos britânicos chegou à ilha de Roanoke, na costa da atual Carolina do Norte. Mais tarde, naquele ano, John White, o então governador da nova colônia, navegou de volta à Inglaterra para buscar suprimentos para a colônia.
Mas assim que chegou em terras britânicas, uma grande guerra naval estourou entre a Inglaterra e a Espanha, e a rainha Elizabeth I convocou todos os navios disponíveis para enfrentar a poderosa armada espanhola. Somente em agosto de 1590 John White finalmente retornou a Roanoke, após 3 anos.
Lá, ele havia deixado sua esposa, filha e neta, Virginia Dare, a primeira criança inglesa nascida nas Américas, além de outros colonos. Mas ao chegar, ele não encontrou vestígios da colônia ou de seus habitantes, e poucas pistas do que poderia ter acontecido haviam desaparecido.
As investigações sobre o destino de Roanoke deram início, mas ninguém encontrou uma resposta satisfatória. O nome Croatoan foi encontrado encravado em uma árvore. Este é o nome de uma outra ilha, ao sul de Roanoke, que abrigava uma tribo nativa de mesmo nome.
Talvez, os colonos tenham se mudado para lá, em busca de suprimentos, e podem ter sido mortos pelos nativos americanos.
Outras hipóteses sustentam que, sem recurso para a sobrevivência, eles tentaram navegar de volta para a Inglaterra sozinhos e se perderam no mar. Há também a versão que conta que eles haviam mudado para o interior da Carolina do Norte e integrados a uma tribo amigável.
Decifrando o desaparecimento de Roanoke
Em 2007, começaram os trabalhos para coletar e analisar o DNA de famílias locais para descobrir se eles estão relacionados aos colonos de Roanoke, tribos nativas ou ambos. Até hoje, nada foi determinado.
Escavações revelaram alguns artefatos pertencentes aos colonos, mas muito pouco sobre o que aconteceu com eles. Este é o mistério que intriga os americanos há séculos, suscitando a pergunta: “o que aconteceu com os colonos perdidos da ilha Roanoke?”
Em agosto de 1590, um navio fortemente armado ancorou na Carolina do Norte. John White havia retornado para reabastecer os 118 homens, mulheres e crianças que ele havia deixado na ilha Roanoke, havia 3 anos.
John e seus homens deixaram o navio e remaram em direção à ilha. Os tripulantes tocavam músicas para alertar os colonos de sua chegada. No entanto, ninguém foi avistado, e o único barulho que vinha da ilha era o da própria natureza.
Um grupo desembarcou e atravessou até a floresta para chegar ao assentamento no extremo norte da ilha. Preparando-se para o pior, John White encontrou o povoado deserto, sem uma única pessoa, e cheia de ervas daninhas e trepadeiras brotando onde outrora eram as plantações da colônia.
As casas haviam sido meticulosamente desmontadas e removidas. Pequenos canhões também haviam desaparecido, e a única coisa encontrada foi um baú com pertences pessoais, incluindo os da esposa e filha de John White.
Tudo indicava que os colonos haviam feito uma retirada planejada, com muita organização. Perto do assentamento, John encontrou as letras CRO entalhadas em uma árvore. Mais à frente, em um posto de vigia criado por ele mesmo, em um tipo de cerca feita com estacas pontiagudas, alguém havia esculpido em letras maiúsculas a palavra Croatoan.
Devido a isso, ele supôs que os colonos haviam partido para a ilha de mesmo nome, que ficava cerca de 80 quilômetros ao sul e era habitada por indígenas amigáveis. John White, então, pediu para o capitão de seu navio, Abraham Cocke, que viajasse para Croatoan no dia seguinte.
Durante a noite, uma grande tempestade quebrou os cabos de ancoragem no navio, quase o levando a afundar. Sem as âncoras e as provisões diminuindo e uma tempestade que não cessava, o capitão Cocke decidiu passar o inverno nas Índias Ocidentais e retornar para a ilha apenas na primavera.
Mas vendavais contínuos forçaram o navio para o oceano, e eles tiveram que traçar um caminho para os Açores, sendo obrigados a retornar, depois, para a Inglaterra. Desta forma, nunca descobriram o que havia acontecido com a colônia, e John White nunca mais viu sua família.
Será que os colonos mudaram para a ilha de Croatoan para morar com os nativos, como acreditava John? Ou haviam ele se estabelecido em outro lugar? Se sim, para onde eles foram, e o que aconteceu com eles?
Uma nova análise das evidências sugere que essas possíveis explicações provavelmente estão erradas. O historiador irlandês David Beers Quinn afirma que a maioria dos colonos se mudou para a Baía de Chesapeake mais ao norte do continente.
Um pequeno grupo foi deixado em Roanoke para aguardar o retorno de White. Em 1588, esse pequeno contingente fez as malas, entalhou suas mensagens, e mudou-se para a ilha de Croatoan. Enquanto isso, o restante do grupo principal foi morar com os nativos de Chesapeake, casando-se e criando novas famílias sem conexão com John White ou o grupo que havia ficado em Roanoke.
Essa teoria assume que Croatoan não tinha os recursos para apoiar toda a colônia, e a maioria deve ter sido a favor da mudança para Chesapeake, onde planejavam se instalar e acreditavam que os índios os receberiam em sua comunidade. Atualmente, esta é a teoria amplamente aceita pela maioria dos historiadores americanos.
Porém, existem falhas nesses argumentos. Se o grupo principal de colonos de Roanoke sabiam o tempo todo que o seu destino ficava ao norte, na Baía de Chesapeake, então porque eles ignoraram o encontro com John White, que retornaria em algum momento? Além disso, eles deveriam saber que o caminho para o norte era difícil, dado o clima incerto e as correntes marítimas predominantes na costa.
Sem grandes barcos, seriam necessárias várias viagens para transportar todo o grupo. Outro ponto é, por que eles resolveram deixar talhado o nome Croatoan se a maior parte dos colonos não havia ido para lá?
Nos últimos 50 anos, escavações arqueológicas no sítio histórico Nacional Fort Raleigh, na ilha de Roanoke, não conseguiram encontrar evidências das paliçadas do forte inglês ou da construção do assentamento dos 118 colonos desaparecidos. Isso levou alguns especialistas a concluírem que a erosão costeira havia destruído os restos remanescentes.
Mas novas descobertas feitas no ano de 2009 sugerem que vestígios significativos poderiam ter sobrevivido ao tempo, apesar de não terem sido encontrados. Posteriormente, escavações arqueológicas do Instituto de Arqueologia de James River concentraram esforços recentes em uma área arborizada, perto de uma terraplanagem de 30 metros de largura. Cavando sobre o solo, a equipe descobriu fragmentos de vasos indígenas e europeus da época.
As escavações também recuperaram dois cachimbos e vários caules de árvores semelhantes aos desenhados em gravuras de 1590. Essa proximidade de artefatos e indígenas fornece novas evidências sobre como os colonos ingleses e os nativos compartilharam do mesmo ambiente na região. Então, a Colônia de Roanoke pode, sim, ter sido compartilhada com indígenas do período.
Teorias brutais sobre o destino da Colônia de Roanoke
Mas os pesquisadores ainda não sabem ao certo o que realmente aconteceu com essas pessoas no intervalo de apenas 3 anos. Diversas outras teorias se espalharam ao longo dos séculos. Uma delas defende que existem evidências de que algumas tribos nativas norte-americanas alegaram ter visto os membros da colônia lutando entre si até a morte, devido a uma paranoia coletiva brutal. Essa paranóia teria sido causada por uma doença ou praga desconhecida.
Outros defendem que, por falta de recursos e alimentos, os 118 colonos se canibalizaram. Por fim, uma teoria aponta que eles foram assassinados a mando do chefe indígena Powhatan, famoso por ter sido o pai da verdadeira Pocahontas. Ele mesmo teria confessado a John White que ele era o responsável por uma execução de uma colônia inteira, provavelmente, se referindo a Roanoke.
Mas há quem acredite em teorias menos convencionais, como aquela que conta que os colonos teriam sido transformados em árvores, devido a uma maldição. Outros garantem que eles foram possuídos pelo demônio e transformados em espíritos malignos.
Existe também uma teoria envolvendo extraterrestres. Ela defende que os colonos foram abduzidos por alienígenas. Mas no fim, apesar das incansáveis tentativas de desvendar este mistério, provavelmente jamais saberemos o que aconteceu com a misteriosa Colônia de Roanoke.