Um assunto polêmico ganhou ainda mais força esta semana ao traçar mais um triste paralelo entre homens, mulheres e a pílula anticoncepcional.
Tudo porque um estudo sobre pílulas anticoncepcionais masculinas esbarrou em um problema, digamos, curioso: os mesmos efeitos colaterais sentido por mulheres que fazem uso do método contraceptivo.
Tudo bem que são medicações diferentes que irão agir em corpos de gêneros diferentes. Mas o que revoltou foi justamente a interrupção dos estudos do anticoncepcional masculino ter sido por causa dos efeitos colaterais semelhantes aos que as mulheres já sentem.
Pílula anticoncepcional masculina expõe o sexismo comercial
De acordo com o estudo, a conclusão à qual os médicos chegaram é que, mesmo depois de oito anos de desenvolvimento e eficiência de 96%, os efeitos colaterais que os homens poderiam sentir seriam muito severos.
E por efeitos colaterais, listamos variações bruscas de libido, maior tendência a desenvolver depressão, dor excessiva no local da aplicação, acne e alterações de humor.
Dos 266 homens analisados no estudo, apenas quatro engravidaram suas parceiras durante os testes com a pílula masculina. 75% dos voluntários afirmaram que adotariam o método caso ele estivesse à venda.
Ou seja: a pílula funciona muito bem, mas não pode ser produzida justamente pelos efeitos colaterais que causariam nos homens. Vale repetir que são os mesmos efeitos que as mulheres sentem ao tomarem a pílula feminina.
Machismo ou medicina preventiva?
Mulheres usuárias das pílulas anticoncepcionais disponíveis no mercado têm 23% de chances de desenvolverem depressão. Se tomam pílulas à base de progestógeno, esse número sobe para 34%.
Se as mulheres tiverem entre 15 e 19 anos, o número é ainda maior: 70%. O chocante é que no caso da pílula masculina, apenas 3% possuem maior tendência a desenvolver depressão.
Isso tudo sem contar que existem riscos comprovadamente mais graves para mulheres que já fazem tratamento com pílulas comercializadas, como trombose venosa profunda, AVCs e infarto.
Elisabeth Lloyd, professora da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, citou o machismo velado do estudo em uma entrevista à CNN. Para ela, é um absurdo o estudo ser interrompido por conta do baixo risco de efeitos colaterais em homens.
20% e 30% das mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais sofrem de depressão e têm que tomar medicação para isso. Esse estudo foi interrompido após apenas 3% dos homens relatarem sintomas do problema. É chocante. […] Os riscos de dano à fertilidade não são fatais como os que as mulheres encaram com seus métodos de controle de natalidade.
Quem é o sexo frágil?
Interromper uma pesquisa de anticoncepcional masculino unicamente porque os efeitos colaterais são arriscados é balela. Por que as mulheres passam pelo mesmo problema e tudo está ok?
Será que o sexo frágil é, na verdade, o masculino? Apenas 3% de risco de depressão nunca deve ser comparado à taxa de 20% a 30% enfrentada pelas mulheres.
O estudo, que foi financiado pela Organização Mundial de Saúde e pela CONRAD (em Inglês “Pesquisa e Desenvolvimento de Contraceptivos”), deixa bem claro que a sociedade ainda é extremamente machista.
Na verdade, talvez devêssemos estudar exatamente isso: os benefícios que os homens têm ainda hoje em detrimento das dificuldades que as mulheres sofrem todos os dias no nosso planeta.
Fonte: A Gambiarra