Sou um jovem da chamada geração do milênio, um cientista da computação que também escreve livros e tem um blog. Demograficamente falando, deveria ser usuário das redes sociais, mas não é o caso. Nunca tive uma conta de redes sociais. Hoje, isso me torna um caso à parte, mas acredito que muita gente deveria me seguir e abandonar esses serviços. Há muitos problemas relacionados com a mídia social – desde o modo corrói a vida cívica até a sua superficialidade cultural.
Meu argumento aqui, no entanto, é mais pragmático: é melhor cair fora das redes sociais porque ela pode abalar sua carreira. A afirmação, claro, vai contra o atual entendimento do papel da rede social na esfera profissional. Dizem que é importante você ter seu perfil na mídia social pois isto dá acesso a oportunidades que sem ele estariam perdidas, além de apoiar a rede de contatos diversificados que você precisa para avançar.
Muitos de minha geração temem que, sem as redes sociais, ficariam invisíveis para o mercado de trabalho. Num ensaio recente para a New York Magazine, Andrew Sullivan lembrou quando se viu obrigado a atualizar seu blog a cada meia hora. Parecia que todo mundo com conta no Facebook e um smartphone agora se sentia pressionado a administrar a própria operação de mídia, altamente estressante, e que o “antes inimaginável ritmo do blogueiro profissional era agora a única opção para todo mundo”. Acho esse comportamento equivocado.
Numa economia capitalista, o mercado valoriza o que é raro e caro. O uso da mídia social decididamente não segue esse critério. Qualquer adolescente de 16 anos com um smartphone pode criar um hashtag ou responder imediatamente a um artigo viral. A ideia de que, se você se empenhar o bastante nessa atividade pouco valiosa de algum modo vai acrescentar algo muito importante à sua carreira é a mesma que está por trás da duvidosa alquimia que constitui a base de muita panaceia e fraude no comércio.
O sucesso profissional é difícil de ser alcançado, mas não sua mecânica não é complicada. Basicamente, exige, quase sem exceções, que você aperfeiçoe uma aptidão útil e a use em coisas pelas quais as pessoas se interessem. Essa filosofia talvez seja mais resumida no conselho que SteveMartin dava aos aspirantes a humorista: “Seja tão bom que ninguém poderá ignorá-lo”. Se conseguir isso, o resto virá por si, independentemente do número de seguidores no Instagram.
Uma resposta comum a meu ceticismo com a mídia social é a ideia de que “mal não faz” usar esses serviços. Meus críticos argumentam que, além de alguém aperfeiçoar suas habilidades e produzir coisas de valor, por que não se expor e usar as oportunidades e conexões que a mídia social pode criar? Tenho duas objeções a esse raciocínio.
A primeira é que oportunidades interessantes e conexões úteis não são tão raras quanto os adeptos das redes sociais proclamam. Em minha vida profissional, por exemplo, à medida que me valorizei como intelectual e escritor, comecei a ter mais oportunidades do que conseguia administrar. Precisei criar filtros em meu website de modo a reduzir, não aumentar, o número de ofertas e convites que recebo. Minha pesquisa sobre profissionais bem-sucedidos mostra que essa experiência é comum: quando alguém se torna valioso para o mercado, boas coisas passam a acontecer para ele/ela.
Vamos deixar claro: não estou argumentando que novas oportunidades e conexões não sejam importantes, mas que não é necessária ter uma conta no Facebook ativa para atraí-las. Minha segunda objeção diz respeito à ideia de que a mídia social não é prejudicial. Observe que a capacidade de concentração em tarefas difíceis está se tornando cada vez mais valiosa numa economia cada vez mais complicada.
As redes sociais debilitam essa capacidade porque seu propósito é deixar o indivíduo dependente. Quanto mais você a usa da maneira como ela foi desenhada para ser usada, – persistentemente durante as horas em que está desperto – mais o seu cérebro começa a ansiar por um estímulo rápido ao mínimo sinal de tédio. Quando esta conexão um tanto Pavloviana se consolida, fica difícil dar às tarefas a concentração que elas necessitam e seu cérebro não tolera um longo período sem uma nova dose de estímulo.
Na verdade, parte da minha rejeição da mídia social vem do medo de que ela diminua minha capacidade de concentração – capacidade que mais necessito para poder me sustentar. A ideia de propositalmente introduzir em minha vida um serviço destinado a fragmentar minha atenção é algo tão assustador para mim como é terrível a ideia de fumar no caso de um atleta que pratica esportes de resistência.
E deveria ser para você se quer realmente criar coisas que tenham realmente importância. Mas talvez mais importante do que minhas objeções específicas à ideia de que a mídia social não prejudica a carreira é minha inquietação com a atitude mental que esta crença fomenta. Dedicar-se a cultivar seu perfil na mídia social é um enfoque fundamentalmente passivo do sucesso profissional. Desvia o tempo e atenção do trabalho produtivo que é o que importa e leva o indivíduo a convencer o mundo de que ele é importante.
Esta última atividade é sedutora, especialmente para muitos membros da minha geração que cresceram trocando mensagens, mas pode ser desastrosamente contraproducente. A mídia social é melhor descrita como uma coleção de serviços de entretenimento de certo modo triviais que estão atualmente tendo sucesso. Estas redes são divertidas, mas você se ilude se acha que as mensagens, postagens e curtições no Twitter são um uso produtivo do seu tempo. Se deseja seriamente causar um impacto no mundo, desligue seu smartphone, esqueça seu navegador, arregace as mangas e comece a trabalhar.
Por Cal Newport – The New York Times
Fonte:Estadão
Folha Nobre - Desde 2013 - ©