No dia 23 de março de 1930, pela primeira vez na história a torcida tricolor pôde comemorar um gol e uma vitória. Após estrear oficialmente nos campos de futebol no dia 16 de março com um empate por 0 a 0 com o Ypiranga na Chácara da Floresta, o São Paulo goleou o Juventus por 6 a 1 na Rua Javari. O primeiro gol são-paulino foi marcado por Barthô.
O PRIMEIRO GOL
Um pouco frustrados pelo placar final da partida inaugural, os tricolores começaram o jogo pressionando o time da casa. Logo a um minuto, Seixas arrematou com perigo, mas a bola saiu pela linha de fundo.
No lance seguinte, Zuanella, após boa jogada de Luizinho, quase abriu o marcador com um chute forte, que parou nas mãos do goleiro José. Após a saída de juventina, a bola retornou para Seixas, que chutou próximo à trave.
Quando, enfim, o time do Juventus pôde respirar e organizar uma jogada, o médio-central estreante Bino – o primeiro jogador negro da história do São Paulo – interceptou o adversário e lançou Friedenreich mais à frente, próximo à área. O Tigre foi impedido de prosseguir a jogada graças a falta cometida por Segalla, que levou a mão à pelota.
O zagueiro Barthô se apresentou para cobrança a 30 metros do gol e, sem titubear, bateu com segurança, forte. Tão forte que, mesmo resvalando no próprio Segalla e desviando-se da trajetória original, a bola foi aninhar-se nas redes do fundo do gol. Foi o primeiro gol da história são-paulina, anotado aos 11 do primeiro tempo (exatamente às 16h21 daquele 23 de março de 1930).
A PRIMEIRA VITÓRIA
Inaugurado o placar, os tricolores arrefeceram um tanto o ímpeto e o Juventus até organizou alguns ataques, todos travados por Clodô e Barthô antes de levar perigo à meta. Só aos 20 minutos, o goleiro Nestor se fez necessário para a primeira defesa. O lance acordou os tricolores, que voltaram à carga ofensiva.
Aos 33 minutos, porém, uma desatenção são-paulina levou a um contra-ataque dos donos da casa: Moacyr ficou às sós com Barthô, superado pela velocidade do atacante, que rapidamente arrematou para o gol e só não alcançou o intento graças a uma monumental defesa de Nestor. Foi a única grande participação do arqueiro na partida.
Não deixando por menos. Friedenreich recebeu um balão da zaga e passou para Luizinho na direita. O ponta compreendeu o cenário e cruzou de volta para o centroavante, já dentro da área, completar de cabeça para as redes: São Paulo 2 a 0! Placar do primeiro tempo.
O jogo foi reiniciado às 17h05 e, três minutos depois, Barthô cobrou falta lançando a bola para a área, Luizinho dominou-a com o peito, e, puxou um chute de direita, registrou um lindo gol, sem chances para o goleiro. 3 a 0!
Com 11 minutos, tabela entre Zuanella e Friedenreich culminou com o quarto tento são-paulino, após o primeiro cortar o chute do último à frente do goleiro. 4 a 0! Os tricolores não estavam, ainda, satisfeitos e, aos 19 minutos, Fried foi derrubado na área por Raffa. O próprio atacante executou a cobrança e marcou o primeiro gol de pênalti da história do Tricolor. 5 a 0!
O Juventus marcou, com Moacyr, um gol de honra aos 29 minutos, mas ainda houve tempo para mais uma comemoração são-paulina. Nos últimos instantes (as partidas, na época, eram realizadas com dois tempos de 40 minutos), Milton passou para Zuanella, que cruzou para Friedenreich, na área, completar perfeitamente: 6 a 1 para o São Paulo! A primeira vitória do Tricolor, a primeira de milhares.
O time são-paulino, desse jogo em diante, aliás, emplacou um recorde absurdo que perdurou por quase quatro anos: marcou ao menos um gol em todos os jogos que disputou. Foram 355 gols em 104 partidas consecutivas, realizadas entre 23 de março de 1930 e 29 de outubro de 1933. Jogadores daquele elenco também obtiveram marcas importantes. Friedenreich, Clodô e Luizinho emplacaram mais de 60 jogos consecutivos alinhados entre os 11 são-paulinos, desde a estreia.
A FICHA DO JOGO
JUVENTUS-SP 1 X 6 SÃO PAULO
23/03/1930. Domingo, 16:10 (16:10 Brasília);
Campeonato Paulista: Fase Única (Turno). São Paulo (SP), Campo do Juventus – Rua Javari;
SPFC: Nestor; Clodô e Barthô; Sérgio, Bino e Boock; Luizinho, Seixas, Friedenreich, Milton e Zuanella. GOLS: Barthô (falta), 11/1; Friedenreich, 37/1; Luizinho, 5/2; Zuanella, 11/2; Friedenreich (pênalti), 19/2; Friedenreich, 40/2.
CAJ: José; Berthi e Segalla; Romeu, Túlio e Raffa; Moacyr, Luiz, Raul, Pixinim e Euvaldo. TÉCNICO: GOL: Moacyr, 29/2.
ÁRBITRO: Caohuby Reis. RENDA: Desconhecida. PÚBLICO PAGANTE: 2000.
- Obs. O relato aqui descrito toma como base a reportagem de A Gazeta sobre a partida. O Estado de S. Paulo e outros jornais descrevem a partida de forma diferente, relatando, inclusive, que o primeiro gol teria sido marcado de pênalti. Pela relevância de A Gazeta e pelos maiores detalhes apresentados, o Arquivo Histórico do São Paulo considera essa versão mais crível e pertinente.
Michael Serra / Arquivo Histórico do São Paulo FC