No dia 2 de julho, o Acre celebra não apenas o Dia do Bombeiro Brasileiro, mas também a honra e a dedicação daqueles que, por 50 anos, têm sido guardiões corajosos da vida e do patrimônio, em meio aos desafios da Amazônia. Em cada missão de resgate, combate a incêndios ou auxílio em desastres naturais, os bombeiros acreanos personificam a bravura e o compromisso inabalável com a segurança da comunidade, transformando cada chamada de emergência em uma oportunidade de heroísmo cotidiano.
Fundado em abril de 1974, o Corpo de Bombeiros do Estado do Acre (CBMAC) enfrenta hoje um momento crucial num estado marcado por desafios climáticos extremos, como enchentes históricas e secas severas, na condição de ser uma instituição moldada pela evolução e adaptação, para melhor atender a população.
Uma trajetória marcada por avanços
Desde sua criação, o CBMAC passou por uma ascensão significativa. Inicialmente com recursos e equipamentos limitados, contando com apenas dois veículos em sua fundação, a corporação enfrentou dificuldades para realizar suas operações. Com o passar dos anos, houve uma ampliação na estrutura, no número de profissionais e na qualificação dos bombeiros. A separação administrativa da Polícia Militar, realizada em 1991, foi um marco que permitiu ao Corpo de Bombeiros um desenvolvimento independente e focado em suas necessidades específicas.
Nos dias atuais, o CBMAC se encontra bem equipado para enfrentar uma vasta gama de situações de emergência. A modernização trouxe novos equipamentos de proteção individual, veículos modernos e ferramentas de resgate precisas, com estruturas de peso e hoje referências nacionais, como a Torre de Treinamento e o Tanque de Mergulho, estruturas anteriormente inéditas na Região Norte. Além disso, um dos investimentos mais notáveis foi a aquisição de uma aeronave, custando R$ 32 milhões, que chegará no ano que vem e revolucionará a mobilidade e a eficácia em operações de resgate e transferência de pacientes dentro do estado.
“Nossa principal missão vai ser sempre salvar vidas, o que requer muitas ações para que aconteça. O bombeiro trabalha em diversas áreas, desde salvamento e resgate de pessoas, até atividades técnicas de prevenção, garantindo a segurança da população. Hoje temos um Corpo de Bombeiros altamente preparado, não só em termos de conhecimento, mas também em preparo emocional, psicológico, físico e tecnológico”, conta o subcomandante do CBMAC, coronel Éden Santos.
A sinergia que resulta em crescimento
Nessas conquistas, o governo do Acre tem sido um parceiro essencial na modernização e fortalecimento do CBMAC. Em fevereiro, o governador Gladson Cameli participou de uma solenidade no Quartel do Comando-Geral em Rio Branco, onde entregou um veículo com plataforma elevada, novos equipamentos de salvamento e anunciou a reforma do canil da instituição, totalizando investimentos de R$ 5,1 milhões. Esses recursos têm sido fundamentais para melhorar as condições de trabalho e aumentar a capacidade de resposta dos bombeiros.
A entrega em fevereiro foi apenas um exemplo do fortalecimento do CBMAC pelo governo do Estado ao longo da última gestão. Com o governador Gladson Cameli, fã declarado da instituição e do papel dos bombeiros na valorização e preservação da vida humana, a corporação tem recebido investimentos históricos, com superestruturas de treinamento, novos veículos e um concurso público marcante, que somente no último ano colocou quase 250 novos profissionais em atuação como soldados.
“Neste Dia dos Bombeiros, celebramos com orgulho os 50 anos do Corpo de Bombeiros do Acre. Honramos a bravura e a dedicação de nossos bombeiros, verdadeiros guardiões da vida e do patrimônio. Reconhecemos a importância de investimentos contínuos para manter a corporação equipada e preparada, garantindo a segurança e a proteção de todos os acreanos, porque cuidar de vidas é nossa prioridade”, destacou o governador Gladson Cameli.
Construir e capacitar
A capacitação contínua dos bombeiros é uma prioridade. Em junho, 17 militares se formaram no 7º Curso de Mergulhadores Autônomos (Cmaut 2024), realizado em um período de 60 dias, com 320 horas-aulas.
O curso só foi possível após o governo ter inaugurado seu próprio tanque de mergulho. Com 12 metros de altura, será utilizado em treinamentos e instruções aos militares. Por causa da turbidez e, consequentemente, da baixa visibilidade na água, as condições de mergulho nos rios e lagos acreanos estão entre as mais difíceis e desafiadoras do país.
“O tanque homenageia o cabo Celso Aleme, um dos bombeiros pioneiros na área de mergulho do nosso Corpo de Bombeiros e que nos deixou em 2000. Com esse equipamento estamos dando mais qualificação aos nossos militares em um ambiente muito mais seguro para a realização das atividades. Os treinamentos sempre foram feitos em piscinas, e posteriormente eram levados para os meios naturais, como rios e açudes. No entanto, ficavam muito precários porque havia muitos riscos à vida do bombeiro militar. Com a aquisição desses novos espaços, temos a oportunidade de profissionalizar ainda mais esse mergulhador, aumentando inclusive o tempo de mergulho, evitando possíveis acidentes e ganhando mais vidas”, explicou o coronel Charles Santos, comandante-geral do CBMAC.
Também a torre de treinamento é uma superestrutura utilizada pelo Corpo de Bombeiros para treinamento de resgate em altura, de combate a incêndios em edifícios altos, de evacuação predial, de utilização dos preventivos ou para outras situações que exijam habilidades específicas em ambientes elevados. O equipamento é fruto de um investimento de R$ 11 milhões na Segurança Pública. Com 21 metros de altura, a torre é a primeira construída no Acre e a mais alta da Região Norte.
Apoio onde for preciso
A atuação do CBMAC não se limita ao território acreano. Em maio, a corporação enviou uma equipe ao Rio Grande do Sul para prestar socorro às vítimas das enchentes que devastaram o estado.
Liderada pelo capitão Marcos Corrêa, a missão foi bem-sucedida, resgatando 57 pessoas e 9 animais, além de fornecer apoio humanitário. Esse tipo de operação reflete o compromisso do CBMAC com a solidariedade e a assistência a outros estados em momentos de crise.
“Chegamos ao Rio Grande do Sul por volta das 23 horas do dia 13 e permanecemos no estado por dez dias, durante os quais conseguimos resgatar 57 pessoas e também nove animais, como também atendemos algumas ocorrências, além de prestar apoio humanitário, levando remédios, comida e água para as pessoas que não saíram de suas casas”, contou o capitão Marcos Corrêa.
A batalha em meio às mudanças climáticas
O Acre, um estado conhecido por sua vasta Floresta Amazônica, enfrenta atualmente desafios climáticos extremos. De enchentes devastadoras a secas severas, os bombeiros do estado têm se adaptado e se preparado continuamente para essas adversidades. O capitão Francisco Freitas é um exemplo de dedicação e resiliência, refletindo a transformação do Corpo de Bombeiros do Acre em resposta a essas mudanças climáticas intensas.
O capitão Freitas ingressou no Corpo de Bombeiros em 2007, inicialmente sem o sonho infantil de ser bombeiro, mas impulsionado pelo desejo de estabilidade e inspirado por pessoas próximas que o incentivaram a estudar para concursos públicos. Desde então, sua trajetória dentro da corporação tem sido marcada por escolhas difíceis e pelo desenvolvimento de um profundo compromisso com a profissão.
“Ser bombeiro militar vira um verdadeiro sacerdócio na vida da gente. Meu primeiro nome é Francisco, mas sou o ‘capitão Freitas’ agora”, afirma o militar, destacando como a profissão transforma a identidade de quem a exerce.
Ao longo dos anos, Freitas se especializou e ascendeu dentro da corporação, tornando-se o coordenador das operações de combate a incêndios florestais desde 2021. Esse papel é particularmente crucial em um estado que vive extremos climáticos. Este ano o Acre enfrentou uma das maiores enchentes em fevereiro e uma das maiores secas em junho. “Precisamos estar preparados, porque a resposta que é necessária é imediata”, enfatiza.
O Corpo de Bombeiros do Acre tem trabalhado intensamente para se adaptar a essas condições extremas. Durante as enchentes, o efetivo foi mobilizado quase em sua totalidade para atuar em 19 dos 22 municípios afetados. Já nas épocas de seca, os incêndios florestais representam uma ameaça contínua e silenciosa a toda a população. “Ocorre uma agressão silenciosa a todos nós por meio do ar, mesmo em quem não tem contato direto com as queimadas”, destaca o capitão.
Para enfrentar esses desafios, a corporação não apenas investe em treinamento e preparação constante, mas também trabalha em estreita colaboração com a comunidade. Freitas defende a importância de conscientizar e educar as pessoas, especialmente crianças e jovens, sobre práticas sustentáveis e prevenção de incêndios, uma parte intrínseca da cultura amazônica. “Precisamos estar caminhando com a comunidade nessa luta”, reitera.
Uma jornada de coragem e inovação
Entre as histórias de vida que compõem o Corpo de Bombeiros do Acre, encontramos ainda a capitã Ruana Casas, uma mulher que não apenas desbravou caminhos em um ambiente tradicionalmente masculino, mas também inovou e deixou sua marca registrada na corporação.
Desde jovem, Ruana admirava a profissão de bombeiro. Estudando engenharia agronômica, ingressou em 2013 no Corpo de Bombeiros por meio de um concurso para soldado. Desde o início, Ruana sentiu uma profunda paixão pela profissão e decidiu que ali era seu lugar, dedicando-se inteiramente à missão de salvar vidas e proteger a comunidade.
Enfrentou os desafios do curso de formação com determinação, adaptando-se facilmente aos valores militares de hierarquia e disciplina, valores que já havia aprendido com a mãe. Sua entrada no Corpo de Bombeiros foi marcada por um sentimento de união e camaradagem, especialmente em sua turma, a segunda a incluir mulheres na corporação.
Ao longo de sua carreira, Ruana desafiou as barreiras de gênero, assumindo cargos que antes eram ocupados apenas por homens. E se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de diretora de Logística, Patrimônio e Finanças do Corpo de Bombeiros do Acre.
“No Corpo de Bombeiros do Estado do Acre, acredito que seria injusta se dissesse que não há igualdade em nossos comandos. Eles valorizam muito a competência profissional, independentemente de ser homem ou mulher. Tanto que nós, mulheres da corporação, ocupamos cargos que antes eram exclusivos dos homens. Hoje, a própria cultura que nosso comandante estabeleceu é de respeito a nós, mulheres, e graças a Deus por isso”, reforça Ruana.
Além de sua atuação administrativa e operacional, Ruanna também se destacou como inventora, obtendo patentes importantes. Durante seu curso de formação de oficiais em Goiás, desenvolveu um equipamento de salvamento inicialmente destinado a animais, mas que também pode ser utilizado para salvar pessoas. O invento resultou em sua primeira patente. Posteriormente, colaborou na criação de uma viatura de salvamento, consolidando outra patente inovadora e que está em atuação no estado, sendo inclusive enviada para salvamento no Rio Grande do Sul.
Melhorias visando ao futuro
A reforma do 4º Batalhão de Educação, Proteção e Combate a Incêndio Florestal (BEPCIF), em Cruzeiro do Sul, é outro exemplo do investimento contínuo no CBMAC. Com melhorias que incluem a substituição de pisos, paredes, instalações elétricas e a ampliação do pátio, a reforma, que custou cerca de R$ 1,7 milhão, proporcionou melhores condições de trabalho para mais de 90 militares que atuam na unidade e deve ser entregue ainda este ano.
A trajetória de 50 anos do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre é marcada por avanços tecnológicos, melhorias estruturais e um compromisso contínuo com a missão de salvar vidas. A Operação Fogo Controlado, que se inicia em julho, exemplifica a dedicação e a eficácia da corporação em responder às emergências causadas pelas condições climáticas extremas da região.
O apoio do governo estadual e federal tem sido fundamental para o crescimento e fortalecimento do CBMAC, garantindo que a corporação esteja sempre preparada para enfrentar os desafios e servir a comunidade com excelência.