O que começou como uma promissora parceria entre uma estrela em ascensão e um investidor ousado, transformou-se em uma batalha jurídica intensa que agora movimenta os tribunais e os bastidores da música sertaneja. Na última terça-feira (13), o Fórum de Londrina (PR) foi o cenário de uma audiência de mais de sete horas envolvendo a cantora Ana Castela e o empresário Agesner Monteiro — responsável por injetar o capital inicial na carreira da artista. O processo, de número 0040793-15.2023.8.16.0014, gira em torno de cifras milionárias, quebra de contratos e a disputa pela narrativa oficial de uma das carreiras mais meteóricas da nova geração.
Logo nas primeiras horas da audiência, a tensão ficou evidente. A defesa de Ana solicitou que a cantora participasse remotamente, alegando assédio da imprensa. O pedido foi acatado pela juíza Kléia Bortolotti, que também negou o sigilo processual. Enquanto Ana prestava depoimento por vídeo, Agesner compareceu presencialmente, demonstrando indignação com a ausência física da artista. “Ela preferiu se esconder. Só aparecia uma parte da cabeça na tela. Eu vim encará-la”, disse o investidor em vídeo divulgado após a audiência.
Durante os depoimentos, Ana Castela admitiu que, em dezembro de 2022, notificou extrajudicialmente Agesner e os empresários Raphael e Rodolfo — os três responsáveis por lançá-la nacionalmente. A notificação foi feita pelo mesmo advogado que hoje representa dois desses empresários na atual ação. Ana, porém, alegou ter “surtado” na época e cogitado abandonar a carreira, embora nunca tenha de fato parado de se apresentar. A polêmica aumentou quando ela afirmou ser sócia da empresa Agroplay desde o início — algo que documentos apresentados desmentem, pois seu nome sequer constava no contrato social quando Agesner foi afastado.
Agesner, que detém 20% da sociedade, acusa Ana e os outros empresários de manobra para excluí-lo do negócio. “Ela disse que meu percentual era injusto, mas manteve os 50% dos outros dois sócios. Por que só eu fui tirado? Foi uma fraude calculada para me apagar da história”, disparou. Para ele, a atitude da cantora demonstra ingratidão e estratégia: “Ela cresceu com meu investimento. Agora quer reescrever o começo da própria carreira sem mim.”
Questionada sobre contradições e nomes de profissionais que trabalharam com ela por meses, Ana se mostrou despreparada ou relutante em responder. Em determinado momento, minimizou uma pergunta dizendo: “isso é coisa de adulto”, o que irritou ainda mais o investidor. “Ela tem 21 anos. É maior de idade. Precisa arcar com as consequências do que assina.”
A ação trata não apenas da divisão de lucros — que, segundo o contrato firmado em 2021, garante 20% a Agesner até 2027 — como também da titularidade de fonogramas e ausência de prestação de contas. Os direitos sobre os fonogramas, inclusive, seriam vitalícios para o investidor, conforme cláusulas contratuais. A indenização pedida pode ultrapassar R$ 150 milhões.
A decisão final da juíza Kléia Bortolotti deve sair nas próximas semanas. Enquanto isso, os fãs de Ana Castela e os profissionais do mercado acompanham atentamente um dos casos mais controversos da história recente do show business brasileiro — um duelo entre fama, contratos e os limites do poder nos bastidores do estrelato.