A maior virada eleitoral do país mostra voto não se transfere no automático. Em meio à dança de apoios na direita e às indefinições da esquerda, apostar só favoritismo é risco alto demais
Por Omar Caldas
A política brasileira vive um período de instabilidade em que certezas cada vez menos. O cenário para 2026 já se desenha com disputas antecipadas, mas também com profundas dúvidas. De um lado, a direita testa nomes entre Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ratinho Júnior. Do outro, o presidente Lula se reafirma como candidato, deixando claro que fica fora da corrida se tiver algum problema de saúde.
Hegemonias aparentes e apoios declarados não podem ser confundidos com vitórias garantidas. Um exemplo recente confirma essa tese. Em Porto Velho, nas eleições de 2024, a candidata Mariana Carvalho encerrou o primeiro turno como ampla favorita: 44,53% dos votos contra apenas 25,65% de Léo Morais. Ao seu lado, estavam 12 partidos, a máquina pública, Jair e Michelle Bolsonaro, o governador Marcos Rocha, dois senadores, quatro deputados federais, a maioria da bancada estadual, o presidente da Assembleia e o prefeito da cidade com mais de 70% de aprovação. Sua coligação elegeu todos os vereadores e o terceiro colocado Célio Lopes com 11,74% dos votos declarou apoio a candidata logo no início do segundo turno.
Era considerada imbatível.
Vinte dias depois, a realidade foi outra. Léo Morais subiu mais de 30 pontos. Mariana terminou com 43,82% e Léo Morais vence com 56,18%. Foi a maior virada de segundo turno já registrada no Brasil. O que parecia uma transferência automática de votos, turbinada por apoios nacionais e locais, simplesmente não aconteceu. A força se transformou em fraqueza, e a confiança excessiva em estruturas sólidas se revelou um erro estratégico.
Essa virada não foi fruto do acaso. Foi resultado de planejamento, clareza de posicionamento e excelência criativa. Reposicionar um candidato em tão pouco tempo exige método, análise de dados e uma execução diferenciada.
O caso de Porto Velho traz uma lição que deve ser lembrada ao longo de 2026: transferência de votos é um fenômeno incerto e nunca garantido. Apoios ajudam, mas não substituem a construção direta de credibilidade junto ao eleitorado. E, em tempos de volatilidade, confiar apenas na força de máquinas, poder financeiro, pesquisas ou lideranças conhecidas pode ser um erro fatal.
Assim como em Porto Velho, qualquer disputa pode ser virada, inclusive em São Paulo ou no cenário presidencial. É por isso que a política não pode ser tratada como jogo de sorte.
O único caminho sempre é conquistar o coração do eleitor, e para isso é preciso estratégia e execução diferenciada.
Omar Caldas é estrategista criativo chefe da OCA Marketing Político, tem mais de 200 prêmios nacionais e internacionais, e coordenou a campanha vencedora de Léo Morais à Prefeitura de Porto Velho em 2024.