A Justiça britânica autorizou, nesta terça-feira, os médicos de um hospital de Londres a desligarem os aparelhos que mantinham o bebê recém-nascido Charlie Gard vivo desde outubro do ano passado.
Em uma decisão que gerou polêmica no país — e que desagradou muito aos pais do garoto —, a corte do Reino Unido considerou a alegação do hospital Great Ormond Street de que Charlie tem um “dano irreversível no cérebro” e permitiu que os médicos responsáveis suspendessem o tratamento que o mantinha vivo desde que nasceu.
De acordo com um porta-voz do hospital, o bebê tem uma doença rara, complexa e incurável.
“Charlie estava muito mal quando foi internado no nosso hospital, onde vem recebendo cuidados 24 horas por dia na nossa unidade de terapia intensiva. Mas as condições dele continuaram piorando e agora acreditamos que já exaurimos todos os tratamentos disponíveis”, afirmou.
“Não podemos imaginar o quão angustiante é isso para a família. Continuamos a apoiá-los de todas as maneiras, enquanto defendemos o que acreditamos ser o melhor para Charlie.”
Na decisão, o juiz Francis afirmou que julgou o caso com “um aperto enorme no peito”, mas também com “plena convicção” que era o melhor a fazer pelo bem da criança. Ele também ressaltou o esforço dos pais do bebê por terem feito “uma bela campanha” para arrecadar fundos para o tratamento dele e por sua “total dedicação ao menino desde o dia em que ele nasceu”.
Os pais de Charlie, porém, ficaram arrasados com a notícia. Quando a decisão foi anunciada na Corte, Chris Gard, pai do menino, não se conteve e gritou: “Não”. Logo em seguida, ele e a esposa, Connie Yates, caíram em lágrimas.
Caso
Charlie, filho de Connie Yates e Chris Gard, nasceu saudável em agosto de 2016, mas começou a perder peso e força com seis semanas de vida. A condição piorou rapidamente e ele foi internado em outubro no Hospital Great Ormond Street, em Londres, depois de desenvolver pneumonia por aspiração.
O bebê foi diagnosticado com miopatia mitocondrial — uma doença que causa perda progressiva de força muscular.
Desde a internação, ele vinha recebendo tratamento 24 horas e, como a doença não tem cura, o hospital acredita que Charlie deveria ter o direito de morrer com dignidade.
A advogada de defesa do casal, Laura Hobey-Hamsher, afirmou que os pais não conseguiram entender por que o juiz não deu ao Charlie “pelo menos a chance do tratamento”.
Ela disse ainda que eles vão refletir sobre o passo que darão a seguir — o casal ainda pode apelar da decisão —, mas que a prioridade agora é “passar o maior tempo possível com Charlie”.
Os pais do bebê, que moram em Londres, querem levá-lo para os Estados Unidos, onde acreditavam que ele poderia ter uma chance de sobreviver se recebesse tratamentos pioneiros.
Segundo Kate Gollop, advogada que representa os médicos do Hospital Great Osmond, os especialistas britânicos já consideraram o tipo de tratamento que está disponível nos EUA, mas decidiram não aplicá-lo no bebê.
A mãe lançou uma campanha chamada #CharliesFight (#ALutadeCharlie), que arrecadou mais de 80 mil libras (R$ 320 mil) do total de 1 milhão de libras (R$ 4,6 milhões) que os pais acreditam ser necessário para que o bebê receba o tratamento nos Estados Unidos.
Na primeira audiência do caso, o juiz responsável chegou a dizer que os pais de Charlie são “profundamente dedicados a ele”.
“É uma situação trágica”, afirmou.
Decisão
Durante cinco dias de análise das provas, o juiz Francis ouviu argumentos opostos sobre o que deveria acontecer a Charlie.
Debra Powell, representante dos chefes de hospitais, disse ao tribunal que vários especialistas de renome internacional concordaram que a criança não deveria seguir com o apoio dos aparelhos por muito tempo, porque sua “qualidade de vida já é muito precária”.
A advogada Victoria Butler-Cole, que foi nomeada para representar o bebê de oito meses de idade, disse que o tratamento proposto nos Estados Unidos era “puramente experimental” e que continuar seu tratamento com aparelhos só “prolongaria o processo de morte” pelo qual ele estava passando.
Mas a advogada dos pais, Sophia Roper, argumentou que Charlie não sofreria danos significativos se fosse levado para os Estados Unidos e que ele deveria ao menos ter uma chance de melhorar.
Ela também alegou que os desejos de seus pais deveriam ter “grande peso” na decisão.
Fonte: R7