Ganha força dentro do Ministério da Saúde a ideia, defendida já há alguns anos por um grupo de pesquisadores, de expandir a vacinação de rotina contra a febre amarela para todo o Brasil.
De acordo com o médico infectologista Marcelo Burattini, integrante do Comitê Técnico Assessor de Imunizações (CTAI), grupo que assessora o ministério na identificação de prioridades, o alerta dado na cidade São Paulo após a morte de macacos na região da Serra da Cantareira se soma a outros achados epidemiológicos recentes que reforçam a ideia de recomendar a vacina para todas as unidades da federação.
A própria coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde, Carla Domingues, já defende abertamente essa expansão da imunização. O comitê técnico deve tratar do assunto nas reuniões agendadas para esta semana em Brasília –nesta terça-feira (24) e nesta quarta-feira (25).
“Seguramente a vacina da febre amarela será discutida (no comitê) em função da ocorrência em São Paulo”, diz Burattini. “A extensão da vacina na rotina para todo o território nacional é a melhor medida, a médio e longo prazo, para proteger a população”, afirma.
Doença mais perto do litoral
Segundo o infectologista, houve nos últimos anos uma “mudança de comportamento da doença”, que se aproximou de áreas mais próximas à costa brasileira, onde vive a maior parte da população do país.
“A infestação do (mosquito) Aedes aegypti (transmissor da dengue e também da febre amarela urbana) foi uma alteração dos últimos anos. A grande preocupação é o risco de haver um ciclo urbano da febre amarela”, afirma Burattini.
Como exemplo da mudança do comportamento da febre amarela, o médico cita duas mortes de humanos ocorridas em 2015 perto do Parque das Dunas, no Rio Grande do Norte, e outro óbito humano ocorrido na Paraíba, dois Estados nordestinos que não tinham histórico de circulação do vírus da febre amarela nem recomendação de vacinação.
“As mortes tinham sido notificadas como causadas pela dengue. Exames indicaram a possibilidade de infecção pelo vírus amarílico (da febre amarela). Esses casos chamam a atenção pelo inusitado”, afirma Burattini.
Atualmente, a vacinação permanente contra a febre amarela (também chamada vacinação de rotina) ocorre em 20 unidades da federação: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (Região Norte inteira); Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Região Centro-Oeste inteira); Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Região Sul inteira); Bahia, Maranhão e Piauí (Região Nordeste); Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (Região Sudeste) –o Rio foi incluído neste ano pelo Ministério da Saúde, a pedido das autoridades de saúde do governo fluminense.
Fora das áreas de recomendação, a vacinação não faz parte da rotina do SUS (Sistema Único de Saúde), mas uma pessoa pode ser imunizada contra a febre amarela se declarar que viajará a áreas de mata em que há circulação do vírus ou para países que têm essa vacinação como exigência de entrada.
Na hipótese de uma ampliação para todo o país, o Espírito Santo, que recebeu uma recomendação temporária da vacina de febre amarela após o surto ocorrido em 2016, e seis Estados nordestinos (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe) seriam incluídos na estratégia nacional do programa de imunização à doença.
Marcelo Burattini ressalva que essa ampliação da imunização, se concretizada, será uma estratégia gradual e planejada conjuntamente entre as áreas de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde, dos Estados e também dos municípios: o aumento da quantidade de doses ofertada à população tem que ser alinhado com a capacidade de produção dos laboratórios.
As estatísticas oficiais indicam que as mortes por febre amarela ocorrem, no mínimo, em 20% dos casos notificados. O surto da doença entre o final de 2016 e o primeiro semestre de 2017 foi o maior das últimas três décadas, com 777 casos humanos confirmados e 261 mortes. Todos os casos foram de febre amarela silvestre. A vacinação é a estratégia mais eficaz para combatê-la e basta uma dose para a pessoa ficar imune à doença. O Brasil não tem notificação de febre amarela urbana desde 1942.
Fonte:R7