O clima de Natal já toma conta das cidades por todo o país. Decorações regadas a muito brilho, músicas típicas e receitas tradicionais da época invadem o comércio e a casa dos brasileiros. A data, de cunho religioso, é apreciada, até mesmo, pelos menos devotos e ainda impulsiona a economia do país. Além disso, é seguida pela celebração do réveillon, que fecha o ano com chave de ouro. Mas, apesar de todo o glamour que cerca o período, uma pesquisa exclusiva, realizada pela Banca do Ramon, um dos empórios mais tradicionais do Mercado Municipal de São Paulo, revela que confraternizações como essas afloram os dotes culinários dos brasileiros, que deixam os buffets e restaurantes de lado para encarar as panelas na hora de preparar a mesa farta das ceias. Quem sai ganhando com isso é o ramo alimentício, que intensifica as vendas de produtos sazonais, mas não para por aí, pois este hábito também é benéfico para o bolso e, segundo especialistas, faz muito à saúde.
Lar, doce lar
A pesquisa “Do essencial ao Gourmet – O que os brasileiros pensam sobre alimentação saudável e produtos premium”, abordou os hábitos de consumo e sua influência sobre a população. Segundo o levantamento, quando se trata de uma ocasião especial, como as comemorações de final de ano, quase 60% dos entrevistados prefere preparar suas receitas em casa, seja para receber os convidados em um local mais aconchegante e intimista, seja para demonstrar seus dons na arte de cozinhar.
O fato é que apenas cerca de 37% prefere jantar fora, devido à praticidade ou, até mesmo, por não se considerar bom o bastante na cozinha; 2,7% opta por comidas prontas, por causa da falta de tempo, e somente 1% decide contratar um profissional para preparar o jantar especial.
O bolso pode influenciar na decisão
A instabilidade econômica que o país atravessa nos últimos anos tem impactado no comportamento da população e gerado algumas mudanças de hábitos. No quesito viagem, por exemplo, dados do Ministério do Turismo revelam que apenas 26,5% dos brasileiros pretende colocar o pé na estrada neste semestre, número baixo se comparado ao período antes da crise. Nem a chegada da alta temporada, marcada pelo início do verão, férias escolares e festas de fim de ano, foi capaz de competir com o bolso na hora da decisão. E, para aqueles que vão comemorar no conforto do lar com seus amigos e familiares, os investimentos ficam concentrados nas ceias, tanto na festa natalina como no réveillon, prova disso é que, segundo o levantamento, essas ocasiões especiais inspiram as pessoas a se concederem alguns “luxos”, como optar por produtos com custos mais elevados na hora de compor o menu.
Maior oportunidade para o comércio de alimentos
Apesar da notícia não ser nada animadora para o mercado de turismo, o ramo alimentício pode comemorar, pois as ceias caseiras são capazes de intensificar as vendas do setor no final do ano. Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o comércio brasileiro poderá registrar variação negativa de preços neste Natal pela primeira vez desde o início do estudo (2001). Isso significa que os varejistas poderão oferecer uma cesta total mais barata para atrair os consumidores e, entre as maiores quedas nos preços registradas, está o setor de alimentos para consumo em domicílio (-5,4%).
Além disso, desde a implementação da Black Friday no Brasil, o comércio vem perdendo público nas vendas de natal e réveillon, pois as pessoas estão antecipando suas compras. No entanto, quando se trata de alimentos e ingredientes perecíveis, esta prática não funciona. De acordo com a nutricionista Juliana Tomandl, consultora da Banca do Ramon, esse hábito pode até colocar a saúde em risco: “todos os ingredientes têm um tempo limite de conservação, até mesmo os não perecíveis têm prazo de validade. No entanto, isso pode ser prolongado dependendo da forma de armazenamento, mesmo assim, boa parte dos nutrientes vão se perdendo com o passar do tempo. Por isso, quanto mais fresco, melhor!”. Este fator, somado à baixa dos preços, contribui ainda mais para impulsionar as promoções e vendas de produtos tradicionais da época, como as aves natalinas, frutas da estação e, até mesmo, os peixes mais nobres.
Proteínas são as protagonistas das ceias
O peru é a proteína animal mais popular nas ceias de Natal, tanto é que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial da ave, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Mas ainda há os que preferem a carne suína, por isso o pernil é outra opção bastante ofertada para a ceia, juntamente com o tender. No entanto, na celebração de réveillon, a tão aclamada ave natalina é deixada totalmente de lado, cedendo mais espaço às carnes de porco e especialmente aos peixes e frutos do mar. Isso acontece por que o fato das aves ciscarem para trás é associado a retrocessos e má sorte.
De acordo com o levantamento da Banca do Ramon, o salmão é o preferido (53,5%) e em segundo lugar está o nobre atum (23,2%). Para a nutricionista, além da crendice popular, outro fator que impulsiona esta escolha mais leve e saudável em ocasiões especiais como o réveillon é a tentativa de compensar os excessos cometidos, especialmente durante a ceia de natal, que reúne receitas mais gordurosas. Além disso a praticidade também contribui a favor dos pescados, pois eles são muito mais fáceis e rápidos de preparar em comparação com as carnes suínas, por exemplo.
Consumo de peixes
Segundo a Embrapa, a demanda por pescado no mercado nacional registrou aumento de mais de 10% ao ano, mas o consumo das famílias brasileiras ainda é limitado. “A proteína oferece uma grande diversidade de sabores, pois cada espécie tem o seu diferencial na culinária, além de ser mais leve e saudável, mas, de acordo com a nossa pesquisa interna, a maioria dos entrevistados não tem o hábito de comer peixe regularmente” – explica Tomandl. O levantamento apontou que: 40,2% consome até duas vezes por mês e 12% não consome a proteína.
O peixe é a proteína animal mais consumida no mercado internacional, e ainda possui mais espaço para crescer, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). E o Brasil possui uma das maiores biodiversidades em pescados do planeta, mas os brasileiros tradicionalmente apreciam peixes de águas frias, como o bacalhau, proveniente da Noruega, e o salmão, nativo especialmente do Chile, da Argentina e da China.
Bacalhau ainda é visto como prato sazonal
Embora o peixe seja bastante apreciado pelos brasileiros, já que 50% afirma consumi-lo cerca de três vezes ao ano, enquanto 39% o faz quatro ou mais vezes no mesmo período, para a maioria o prato ainda está restrito às datas especiais e o principal motivo é o preço elevado do produto. Umas dessas concessões para seu consumo, além da páscoa, é a celebração da virada de ano, que possui diversas receitas com o peixe para deixar a ceia mais saudável e saborosa.
Vinhos e espumantes complementam a tradição
Seja para brindar na confraternização familiar do natal, ou para acompanhar a vista da deslumbrante queima de fogos do réveillon com os amigos, os vinhos e espumantes sempre caem bem. Além de versáteis, com inúmeras opções de tipos e harmonizações, eles trazem requinte e elegância para compor datas especiais como essas. Mas não para por aí, pois o vinho também possui um efeito muito positivo sobre a saúde. Segundo Tomandl há estudos que apontam a bebida como protetora do sistema cardiovascular, capaz de prevenir, inclusive, outras doenças, tudo isso graças à sua matéria-prima principal, a uva.
“A alta concentração de polifenóis presentes na fruta são responsáveis pela maior parte das suas propriedades terapêuticas. A produção dessa substância é estimulada na uva em um processo de auto de defesa que ocorre na videira para se proteger contra agressões externas, como a exposição solar constante, pestes e outras. O resveratrol é o nutriente que mais se destaca dentre os polifenóis desenvolvidos, isso porque alguns estudos apontam que ele ajuda a diminuir o acúmulo de coágulos nos vasos sanguíneos, reduzindo o risco várias doenças cardíacas e, até mesmo, acidentes vasculares” – finaliza a nutricionista.