Wilson Lima e Bruna Borges – Fato Online
Em entrevista concedida ao jornalista Kennedy Alencar, SBT, na noite desta quinta-feira (5), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não tem medo de ser preso e criticou a política de incentivos fiscais instituídas pela presidente Dilma Rousseff no final do segundo mandato mas admitiu que a correligionária foi “vítima do próprio sucesso”. Além disso, o petista ainda alfinetou o ex-presidente FHC (Fernando Henrique Cardoso): “Ele sofre com o meu sucesso”, afirmou.
“Talvez o governo tenha descoberto que desonerou tanto quanto ultrapassou o limite”, comentou Lula. E acrescentou: “Eu não vejo uma propaganda na televisão agradecendo pela desoneração”. O ex-presidente também criticou o represamento do preço da gasolina: “Houve equivoco quando não se aumentou a gasolina, acumulamos a inflação no segundo semestre [do ano passado]”.
Durante a entrevista, o ex-presidente disse que tinha a consciência tranquila e que não temia ser preso em um eventual desdobramento da Operação Lava-Jato ou da Operação Zelotes. Na Lava-Jato, o operador do PMDB no esquema, o empresário Fernando Soares (o Baiano) disse que o amigo do ex-presidente, o empresário José Carlos Bumlai, pediu propina para pagar dívidas de uma nora de Lula. Na Lava Jato, o filho do petista, Luís Cláudio Lula, é tido como beneficiário de um esquema de compra de MPs (Medidas Provisórias).
Lula negou que qualquer amigo ou pessoa próxima teve conversas ilícitas ou relacionadas a eventuais pedidos de pagamento de propina. “Eu não tenho medo [de ser preso]”, disse o ex-presidente. “O melhor patrimônio que a minha mãe deixou pra mim foi a andar de cabeça erguida”, complementou Lula.
“Eu duvido que tenha alguém nesse país, do pior inimigo meu, ao melhor amigo meu, qualquer empresário, pequeno ou grande, que diga que um dia teve uma conversa comigo ilícita. Duvido”, pontuou o ex-presidente.
Lula classificou qualquer tipo de procedimento investigatório como “normal” e disse que isso é fruto de investimentos na Polícia Federal e no MPF (Ministério Público Federal) nos últimos anos, algo que não ocorreu “há 15 anos atrás”, em referência ao governo FHC. “Isso a gente faz porque combater a corrupção é obrigação, não é mérito”, pontuou.
Segurança Alimentar
Na cerimonia de encerramento da 5ª Consea (Conferência Nacianal de Segurança Alimentar e Nutricional), também na noite desta quinta-feira, Lula afirmou que pode se lançar na campanha eleitoral em 2018 se na corrida presidencial surgirem candidatos com projetos conservadores que proponham retrocessos sociais.
“Eu não estou candidato e faltam três anos para eleições. […] Mas se estiver concorrendo contra nós um projeto conservador para acabar com o que fizemos, pode estar certo, eu estarei na campanha de 2018”, discursou Lula na cerimonia de encerramento da 5ª Consea (Conferência Nacianal de Segurança Alimentar e Nutricional). Em outro momento da fala o ex-presidente disse que “esse tal desse Lula pode voltar em 2018”.
Apesar de rumores de que Lula queira se lançar candidato em 2018, ele reconheceu que já tem 70 anos. E ao comentar a idade brincou: “mas estou com aparência de 30.”
Lula reconheceu que a presidente Dilma Rousseff “não está vivendo um bom momento” e que ele e seus aliados não irão “admitir o impeachment”. Ele também convocou as mulheres presentes na conferência a dar apoio à petista nesse período de grave crise política.
Cadu Gomes/ObritoNews/Fato Online
“Vocês viram que lá na frente do Congresso tem um acampamento da turma que quer o impeachment da Dilma. Eles tem o direito de querer isso, mas, se eles querem ter um presidente, aprendam a respeitar a democracia”, declarou.
Para o ex-presidente, está “aparecendo mais corrupção” atualmente porque o governo federal está apurando mais. Essa é uma estratégia bastante usada pelo PT de afirmar que governo anteriores “engavetavam” as investigações de irregularidades cometidas por seus dirigentes.
“Não vou mais admitir que corrupto me chame de corrupto. Todos esses que estão nos acusando, se colocar um dentro do outro não dá 10% da minha honestidade”, bradou Lula.
O petista também criticou a proposta do relator do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), de cortar R$ 10 bilhões do Bolsa Família. Segundo Lula, a iniciativa na verdade faz parte da “maré conservadora” presente hoje.