MARIANA, Minas Gerais (Reuters) – Pelo menos duas pessoas morreram e mais de 30 ficaram feridas devido ao rompimento de uma barragem de rejeitos da mineradora Samarco no interior de Minas Gerais, informou o Corpo de Bombeiros do município de Mariana nesta sexta-feira, acrescentando que ainda há dezenas de desaparecidos.
O incidente na tarde de quinta-feira na barragem da joint venture da Vale com a australiana BHP impactou negativamente as ações das empresas e deve influcienciar a cotação do minério de ferro, considerando a importância da Samarco para o mercado global. A companhia, produtora de pelotas de minério de ferro, é uma das maiores exportadoras do Brasil.
As atividades na unidade de Germano da Samarco, próxima ao local do incidente, estão paralisadas.
Com o rompimento da barragem do Fundão, os rejeitos avançaram sobre o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, atingindo 90 por cento da uma comunidade com cerca de 560 habitantes e 170 casas, segundo a prefeitura de Mariana.
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Mais de 100 bombeiros, 20 viaturas e três helicópteros participam da operação em busca de vítimas. Um porta-voz dos bombeiros de Mariana disse por telefone que, até o momento, foram confirmadas duas mortes e 30 pessoas feridas, além de dezenas de desaparecidos.
A Samarco disse em nota, no entanto, que ainda não é possível confirmar o número de vítimas e de desaparecidos.
“Todas as pessoas resgatadas com ferimentos estão sendo encaminhadas para pronto atendimento no hospital do município de Mariana e demais municípios próximos e, os desabrigados, para um ginásio de Mariana onde equipes prestam auxílio a todos”, afirmou a mineradora.
De acordo com a empresa, ainda não há confirmação das causas e da extensão do acidente.
“Investigações e estudos apontarão as reais causas do ocorrido”, afirmou a Samarco, ressaltando que o rejeito que atingiu a comunidade é “inerte”, sendo “composto em sua maior parte por sílica (areia) proveniente do beneficiamento do minério de ferro e não apresenta nenhum elemento químico que seja danoso à saúde”.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, as pessoas resgatadas estão passando por processo de descontaminação.
TERREMOTOS
Monitoramento realizado pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) apontou a ocorrência de terremotos de baixa intensidade em locais próximos ao distrito de Bento Rodrigues na tarde de quinta-feira, mas um especialista da USP disse ainda não ser possível relacionar os dois fatos.
Segundo levantamento publicado no site do centro, foram registrados tremores por volta das 14h e depois por volta das 16h nas áreas dos municípios mineiros de Catas Altas e Ouro Preto, vizinhos ao local do rompimento. Os abalos tiveram magnitude de 2,38 e 2,01 respectivamente.
“Ainda não é possível ter certeza de que há uma relação entre os tremores e o rompimento da barragem”, disse o professor Marcelo Assumpção, do Departamento de Geofísica da USP, em entrevista à Globonews. “As magnitudes são muito pequenas e seria muito difícil que temores pequenos assim provocassem algum dano direto nas barragens”, afirmou.
No comunicado desta sexta-feira, a Samarco informou que as barragens da empresa são compostas por quatro estruturas: Germano, Fundão, Santarém e Cava de Germano, e que todas possuem licenças de operação concedidas pela Superintendência Regional de Regularização Ambiental, órgão que atesta a integridade das estruturas.
A última fiscalização ocorreu em julho de 2015 e indicou que as barragens encontravam-se em totais condições de segurança, segundo a empresa. “A Samarco também realiza inspeções próprias, conforme Lei Federal de Segurança de Barragens, e conta com equipe de operação em turno de 24 horas para manutenção e identificação, de forma imediata, de qualquer anormalidade.”
IMPACTO NO MERCADO
As ações da Vale operavam em queda de mais de 4 por cento nesta sexta-feira, por volta das 12h35, enquanto o Ibovespa caía 1,6 por cento, com o mercado repercutindo o rompimento da barragem. As ações da BHP também sofreram.
A Samarco, com capacidade de produção de proximadamente 30 milhões de toneladas de pelotas por ano, não pôde informar imediatamente nesta sexta-feira o impacto do incidente na sua produção de pelotas.
Também não há estimativa sobre quanto tempo a produção seguirá parada na unidade Germano.
Segundo analistas, dada a relevância da Samarco para o mercado global de minério, o rompimento da barragem deverá frear a queda dos preços das pelotas e um potencial impacto positivo no mercado não deve ser descartado, em função do triste incidente.
(Por Brad Haynes e Roberto Samora, em São Paulo)