DO MARECHAL CÂNDIDO MARIANO DA SILVA RONDON PARA O EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL, DIMIS DA COSTA BRAGA, EM 08 DE NOVEMBRO DE 2015. ASSUNTO: O FALECIMENTO DE DOUTOR HERCULANO MARTINS NACIF.
Meu caro magistrado, Dimis da Costa Braga. Escrevo-lhe desde os Céus de Rondônia. Vejo a sua dor lancinante. Receba minhas sinceras condolências pelo passamento do seu colega, Juiz Federal Herculano Martins Nacif, que muito cedo veio se juntar a nós. São os desígnios do Criador, que eu aprendi a compreender nesses anos todos.
Mas, para seu conforto, saiba que ao chegar aqui, eu o aplaudi de pé, por tudo que ele fez desde 2001, em favor do Estado que leva o meu nome, com muita honra, e que cresce com o trabalho e o suor de milhares de pessoas de todos os cantos do Brasil, País que eu ajudei a construir, em mais de 70 anos de serviço público ininterruptos. Todos sabem que sou formal, positivista, e sigo regras com temperança militar. Não bateria palmas para quem não merecesse.
Quando Vossa Excelência foi homenageado este ano com o digno título de cidadão rondoniense, concedido pela Assembleia Legislativa de Rondônia, vi que Doutor Herculano o saudou da tribuna com uma linguagem rica, voz forte e gestual correto. Fiquei bem impressionado. Um tribuno nato. Em determinado instante, ele passou a ler um artigo do Procurador Federal Ricardo Leite, que inclusive me citou. No texto, lembrou que eu fui árbitro num litígio envolvendo a Madeira-Mamoré Railway Company e a União Federal. Doutor Herculano estava inspirado e feliz. Deu uma verdadeira aula de oratória. Vocês devem revê-lo, acessando a internet, essa maravilha que não existia quando eu estava aí. Sigam o caminho: http://www.al.ro.leg.br/institucional/videos/ale-tv-sessao-solene-19-05-15
Eu visitei essa estrada de ferro extraordinária, que Vossa Excelência e Doutor Herculano gostam tanto. Vi de perto o esforço de milhares de trabalhadores para vencer a selva brutal. Com consciência de servir ao meu País, dei ganho de causa à Companhia. Ela queria só o justo. Ninguém sabia – somente Deus onisciente –, que um pântano de muitos quilômetros tinha que ser lastreado para receber dormentes e trilhos. Um gasto extra, muito além do contratado. E calote, eu não aceito.
Transmita também à família, e aos muitos admiradores dele, que pedirei aos meus amigos índios uma pajelança de acolhida fraternal do Doutor Herculano. Servirá para tranquilizá-lo. Tudo ficará bem. A paz sempre reina. Sei que, infelizmente, mais de 50 mil pessoas morrem pelas estradas brasileiras todos os anos. Se tivéssemos mais trens de passageiros não haveria tantas mortes prematuras.
Antes de terminar esta epístola, saiba, Doutor Dimis Braga. Os índios e pajés já fizeram a recepção adequada ao Doutor Herculano, que eu pedi dando referências abonadoras dele. Prepararam os rituais com esmero. Foi bonito. Eles já sabiam de quem se tratava. Viram todos esses anos o quanto o magistrado fez na defesa do meio ambiente, em harmonia com o progresso.
Mas fique ciente também, meu caro magistrado Dimis Braga, que foi o gabinete de trabalho de Doutor Herculano, na Justiça Federal em Porto Velho, com aqueles belos e significantes cocares, arcos e flechas indígenas na parede, o passaporte especial para ele viver em alegria também entre as tribos daqui. Viva o Brasil! Viva Rondônia! Selva!!!!.
Ricardo Leite é jornalista e procurador federal