Calçados especiais facilitam caminhada de portadores de hanseníase. (Foto: Márcio Sampaio)
Para muita gente é só mais um calçado, mas para quem o recebe é a possibilidade de caminhar novamente. As pessoas que sofrem com as sequelas da hanseníase precisam, em muitos casos, utilizar palmilhas ou calçados especiais. Em lojas especializadas, os calçados podem custar até R$ 500. O alto valor muitas vezes dificulta o tratamento dos pacientes, principalmente quando se trata de pessoas com baixo poder aquisitivo.
Com o objetivo de garantir calçado gratuito e customizado aos portadores de hanseníase, o Centro de Saúde Genésio Rego, unidade vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (SES), mantém a oficina de produção de palmilhas e sapatos. A unidade de confecção funciona em uma sala do Centro de Saúde e conta com uma estrutura diferenciada. Além do corpo médico que faz a triagem, identificando a necessidade e as especificidades dos pacientes, há um sapateiro que trabalha essencialmente na construção dos calçados especiais.
“Eu descobri que tinha hanseníase ainda na adolescência, mas negligenciei o tratamento e acabei ficando com várias sequelas. Se eu tivesse ido procurar ajuda assim que descobri não estaria cheia de problemas”. O relato é da aposentada Lúcia Martins, 52 anos, que foi diagnosticada com a doença aos 15 anos, mas somente aos 35 se submeteu ao tratamento.
A demora por assistência ocasionou diversos problemas, dentre eles a neuropatia hansênica, condição causada por danos nos nervos que parecem estar em “curto circuito”, gerando sensação de formigamento, entorpecimento, dores nos pés e também nas mãos, o que exige cautela ao caminhar. “Eu sofro de neuropatia, úlceras plantar, osteomielite (infecção óssea), tudo por causa das sequelas. Mas tudo isso porque não procurei ajuda. Graças a esse serviço do Genésio Rego eu posso me locomover sem dor, sem me preocupar em agravar mais as feridas no meu pé”, relatou.
De acordo com a terapeuta ocupacional, Woldaglas Lobão Mendes, a oficina começou a produzir os calçados de maneira autônoma. A partir de 2017, o projeto passou a receber recursos da SES, por meio da Empresa Maranhense de Serviços Hospitalares (EMSERH). “Quando a pessoa sofre desse problema, ela acaba não sentindo pequenas lesões que possam estar ocorrendo nos seus pés, por isso a importância desse serviço que oferecemos no Genésio. Desde o ano passado, a EMSERH garante o custeio para compra do material para a confecção dos calçados especiais”, contou.
Centro Genésio Rego mantém oficina de produção de palmilhas e sapatos para portadores de hanseníase. (Foto: Márcio Sampaio)
O sapateiro José Melo, 47 anos, é o responsável por confeccionar sandálias, palmilhas e outros acessórios para pacientes que sofrem com as sequelas da doença. Sozinho, ele tira as medidas, molda, costura e faz todo o serviço visando sempre o melhor para os pacientes. “É uma sensação única ver as pessoas saindo daqui satisfeitas. Fico feliz em ver que aquilo que faço aqui na oficina proporciona mais qualidade de vida para os outros”, destacou.
Os especialistas do Genésio Rego realizam análise dos pacientes com problemas de locomoção, e assim, definem os pontos nos quais é necessário um maior amortecimento dos impactos do caminhar. “Normalmente, os pacientes que tem sequelas tem anestesia plantar. É importante que se use um calçado especial, que seja macio, confortável e que ele não se preocupe. Os nossos calçados são adaptados para proteger os pés do paciente e são fornecidos para todos os que não têm condição de comprar”, explicou a diretora administrativa Alyne Almeida.
Em 2017, a oficina confeccionou cerca de 30 palmilhas especiais e 119 sandálias, além de 35 suportes para pés – ou seja, aproximadamente 184 pessoas foram assistidas pelo serviço.
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