A alta do dólar registrada nos últimos dias tem encarecido ainda mais as viagens dos brasileiros para o exterior. Nesta terça-feira, a moeda americana chegou a ser encontrada por 4,40 reais nas casas de câmbio.
Ao chegar a esse valor, o dólar turismo passou a valer mais até que o euro comercial, negociado por 4,17 reais, e praticamente igualou-se ao euro turismo, encontrado por 4,41 reais. A cotação de 4,40 reais, encontrada na Fair Corretora, era para moeda no cartão pré-pago (o valor inclui IOF de 6,38%). Em espécie, a moeda saía por 3,82 reais.
Na Ourominas, a moeda americana era encontrada por 3,91 reais nas vendas em espécie (valor que já inclui 0,38% de IOF) e 4,14 reais no cartão. O valor no pré-pago também era de 4,14 reais na Confidence Câmbio, que negociava o dólar por 3,89 reais para compras em espécie.
Na AGK Corretora, as cotações para compras em dinheiro foram de 3,87 reais e 4,05 reais, respectivamente. Ao longo da tarde, a Treviso Corretora oferecia dólar por 3,91 reais em dinheiro e 4,05 reais no pré-pago. As consultas foram feitas por volta de 16h, quando o dólar comercial chegou a 3,70 reais.
Nesta terça-feira, a moeda encerrou a 3,68 reais, em alta de 1,68%. É a maior cotação de fechamento da moeda americana desde 13 de dezembro de 2002. Em agosto, a valorização acumulada é de 5,91% e, no ano, de mais de 36%.
A alta dos últimos dias ocorre como desdobramento de dados decepcionantes da economia chinesa e, sobretudo, da deterioração fiscal do Brasil, ainda mais evidente depois da entrega da proposta orçamentária ao Congresso feita pelo governo.
“Imbróglio político”
O economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos, afirmou que o mercado tem se guiado muito pelo que chama de “imbróglio político” no noticiário econômico.
Segundo ele, pesam as notícias de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ficou insatisfeito com o anúncio do Orçamento deficitário, o que teria criado mais uma rusga entre ele e o governo.
Nos bastidores, Levy teria defendido uma tesourada maior nos gastos públicos para tentar evitar contas no vermelho no próximo ano. “Além disso, a sinalização é de que o Congresso não ajudará a achar receitas que compensem esse déficit nem terá disposição para cortar os gastos”, disse Santos.
Para o analista, o mercado também não viu com bons olhos o anúncio de elevação de impostos e a recomposição de alíquotas tributárias para diversos setores, como o de bebidas alcoólicas e produtos de informática. “O que as pessoas querem saber é de corte de gastos e não de aumento de impostos”, afirmou.
O economista da Gradual Investimentos André Perfeito disse que, com a dificuldade de o governo pagar os juros da dívida pública, aumentou o risco de o país perder o selo de bom pagador.
Após o envio do texto do Orçamento com um rombo de 30 bilhões de reais, a analista da agência Fitch Shelly Shetty afirmou que a “dinâmica fiscal e de dívida vão determinar o futuro dos ratings do Brasil”. Segundo Perfeito, o mercado interpretou essa mensagem como uma possibilidade real de rebaixamento.
Para o analista, os investidores também estão apreensivos com a relação conturbada entre Planalto e Congresso, sobretudo após saída do vice-presidente Michel Temer da articulação política.
“A gente sabe que a presidente Dilma deu carta branca para o Levy. Só que tudo o que ele mandou para a Câmara, o Eduardo Cunha (presidente da Casa) barrou ou transformou em pauta-bomba. A gente não sabe agora quem está no comando da lojinha. Essa é a insegurança do mercado”, disse.
Os investidores também estão de olho na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A expectativa é de que o Copom mantenha a taxa básica de juros (Selic) em 14,25%. Mas, com a disparada do dólar, já há no mercado previsões de aumento de 0,25 ponto porcentual.