Até onde a persistência e a perseverança farão do teu sonho uma realidade?
“Paguei minha faculdade vendendo refrigerante no sinal e catando latinha na rua. Nunca desisti. Quando uma pessoa coloca uma coisa na cabeça ela tem que ir até o final. Costumo levar um lema comigo por ter sido fuzileiro naval: a gente só recua para dar impulso.”
Em meio às dificuldades da nossa sociedade e os mais de 12 milhões de desempregados, o ópio do povo brasileiro, o futebol, dá esperanças de um mundo melhor para muitas pessoas e um carioca com cara de argentino tenta alcançar o seu objetivo de vida.
“Meu objetivo é ser técnico profissional da B1 até 2021.”
Fernando Sérgio, de 45 anos, mais conhecido como Fernando Veron, é um desses batalhadores, que tenta ganhar a vida honestamente dia a dia para não apagar a sua aspiração: ser treinador de futebol.
Longe dos salários astronômicos dos grandes técnicos, Veron já foi de tudo um pouco no futebol. Começou como professor de uma escolinha em Maria da Graça, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, virou preparador de goleiros e atualmente é massagista na base do Madureira após rodar por vários clubes de menor investimento no Rio.
Ele vem estagiando no Botafogo nas últimas semanas em busca de conhecimento para trilhar um caminho vitorioso, mas que já rendeu frutos em uma oportunidade marcada na pele, e que entrou para a história da base do São Cristóvão ao receber uma chance para comandar em 2016 o time sub-15 do clube no Estadual.
“Quando eu assumi o São Cristóvão, estávamos indo para oitava rodada. Eu peguei o Audax, logo o líder. Eles vinham como um rolo compressor metendo sete em um, seis em outro…. Pensei: vou assumir logo contra os caras? Falei: quem não tiver o mesmo pensamento que eu continuará sendo meu amigo, mas não precisará vir. Eu vim para ser campeão. Apontei para um menino, o Vinicius ‘Coqueiro’, e disse que ele faria um gol e o outro faria o de pênalti, que nos daria o título. Um diretor me disse que essa passada que estava dando nos faria campeões. Na decisão, enfrentamos o Audax e no primeiro jogo, na Figueira de Mello, empatamos em 0 a 0. No segundo jogo, aos 29 minutos do primeiro tempo, fizemos 1 a 0. Eles empataram aos 31 do segundo tempo. Mas aos 37, o Andreverson fez o gol de pênalti. O árbitro ainda deu mais quatro minutos de acréscimo. Era bola na área, chute na trave… Mas quando acabou, parece que tirei o mundo das costas. É uma sensação ímpar.”
No estilo Alberto Valentim, que é adepto a tatuagens, Fernando Veron tem na panturrilha direita a imagem da conquista que carregará para sempre na sua vida pelo São Cristóvão. Nas costas, a frase: “Tu és o Glorioso”, em alusão ao hino do Botafogo, paixão que vem desde a infância pelo clube, mas que precisa ser colocada de lado pela profissão.
“Tive a oportunidade de vir pra cá por conviver e respirar o meu time de coração, assumo isso. A única coisa que marca essa minha paixão é uma tatuagem nas costas com a frase: ‘Tu és o Glorioso’. Eu queria fazer o escudo, mas um amigo me avisou que se eu estivesse em um clube poderia dar problema. Então fiz apenas essa frase. Se me perguntarem é porque sou devoto de São Jorge (risos). Temos que ter profissionalismo. Aqui só observo e não falo nada. Na arquibancada, fico destacado. No estádio, fico na diagonal do campo na nona cadeira. Sou muito supersticioso. Tenho que discernir essa situação de parte profissional e torcedor. Estou aqui estagiando. Você xinga, Veron? Não. Eu respiro fundo. Não posso e sei como é o dia a dia. Só desejo sorte a eles (jogadores)”
O apelido acabou se tornando algo caricato ao aspirante a treinador Fernando Veron, que se diverte com a história de como a alcunha acabou sendo introduzida ao seu nome em uma passagem pelo Estudiantes, clube que revelou Juan Sebastian Veron e o reencontro com o ídolo argentino, no ano passado, antes do confronto com o Botafogo, pela Libertadores da América.
“Tinha morado na Argentina devido o quartel. Lá, tive a oportunidade de fazer um estágio no Independiente e no Estudiantes. No clube, um senhor me indagou que estava na hora de treinar. Mas, avisei que não era jogador. Ele disse: como não? É o Veron! Afirmei que não era ele. Nem me passou na cabeça que era essa comparação (risos). Depois disso, o próprio Veron começou a me chamar assim. Adotei Fernando Veron. No ano passado, no jogo no Rio, contra o Estudiantes, encontrei, falei e tirei uma foto com o Veron. Muito gente boa”
Em uma trajetória oposta, Alberto Valentim, que encerrou a carreira como jogador em 2009, aos 34 anos, vem sendo uma inspiração ao então estagiário alvinegro. Segundo ele, a dedicação é a chave do sucesso.
“Quando eu era auxiliar tinha aquela coisa guardada que seria treinador. Não é fácil como em qualquer carreira dentro do esporte ou não pela concorrência. A gente vê vários treinadores capacitados que não estão empregados. Isso não acontece somente no Brasil, mas no mundo inteiro. O que eu fiz foi estudar muito e melhorar a cada dia. Esse é o caminho. Nunca achar que sabe tudo. Principalmente eu que estou começando. Minha carreira está acima de tudo. Vivo o futebol 18 horas por dia.”
Longe do cenário de ser ídolo de um clube de expressão ainda, Fernando Veron tenta fincar seu nome no futebol em meio às dificuldades, como no ano passado, quando 53 treinadores foram demitidos entre os times das séries A, B e C.
“Rapaz, pra entrar é complicado. Existem duas maneiras: tendo conhecimento ou se chamar atenção. Tem uma pessoa de um clube tradicional do Rio, que me disse que eu seria um eterno carregador de água como massagista. Hoje, tenho um título que muita gente aí que defende clube de maior expressão não possui”, finalizou.
Fonte: Rádio Globo