O Brasil chegou a um estado caótico em que a supremacia econômica doutrina o poder decisório. Está escrito na Constituição Federal, Art. 1º, parágrafo único. “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Vivenciamos, entretanto, uma ficção da democracia. A classe política mergulha em campanhas cinematográficas para obter o voto do cidadão, mas não assume os compromissos perante este cidadão.
O financiamento empresarial, agora proibido, ultrajava a Carta Magna, que foi aviltada após a descoberta de tantos escândalos envolvendo grandes corporações. O poder passou a emanar do quanto uma entidade estava disposta a gastar – ou roubar – para ver seu espelho topo. A eleição, que deveria ser o pilar de um sistema forte, virou obstáculo a ser trespassado. Meramente isso. Deveria ser uma grande honra obter a investidura. Esse sonho morreu.
Não acredito que a corrupção seja endêmica no Brasil, todavia. “O homem nasce bom e a sociedade o corrompe”, disse Rousseau. O sistema é desprezível. Circunstância semelhante pode ser vista em outras nações. Quanto às grandes empresas, as doações continuarão acontecendo, de um jeito ou de outro. As graves ocorrências do Mensalão e da Petrobras são a ponta do iceberg. É preciso limpar a lama que enseja tanto dinheiro sujo.
A corrupção não é particularidade do PT, como muitos querem ‘vender’. Todos os partidos apresentam episódios em que a legenda foi comprometida, seja em regime municipal, estadual ou federal. Precisamos revisar também o sistema partidário. Impedir as doações de campanha será uma experiência social e antropológica. Nunca se sabe o que virá pela frente. Menos ideologias de ocasião, quem sabe. Uma pitada de coragem por um futuro melhor? O sonho morreu, mas pode renascer.
O povo brasileiro anseia por pessoas e entidades que lutem pela justiça social. A repercussão pelo parecer favorável do STF sobre o fim dos financiamentos de campanha foi bastante positiva. Entretanto, creio que ainda haverá muito trabalho pela frente, sobretudo na moralização da política. O sistema é falho e permite a formação de verdadeiras quadrilhas de terninho. O pior tipo de corja que existe. Onde problemas como esses permanecerem afetando nossa sociedade, o cidadão deve permanecer vigilante. Eis a única saída.
Por Gabriel Bocorny Guidotti
Bacharel em Direito e estudante de Jornalismo
Porto Alegre – RS