Pedro do Coutto
Efetivamente, a presidente Dilma Rousseff não pode aceitar em silêncio, sem pelo menos exigir uma explicação sobre o veto do presidente Nicolás Maduro à presença do ex-ministro do STF Nelson Jobim como observador da União das Nações Sulamericanas (Unasul) nas eleições legislativas venezuelanas marcadas – até agora – para dezembro deste ano. Não pode deixar de reagir a mais esta bofetada da democracia no continente, principalmente porque foi ela, Dilma Rousseff, quem assinou a indicação de Jobim para integrar a comissão observadora em questão.
Não pode aceitar a exclusão passivamente, porque, em tal hipótese estará sendo conduzida e concordando com uma posição de inferioridade que lhe está sendo atribuída tacitamente. Dilma Rousseff, inclusive, pode se inspirar na moção de repúdio aprovada pelo Senado Federal, objeto de reportagem de Catarina Alencastro e Cristiane Jungblut, O Globo de quinta-feira. Afinal porque Nelson Jobim não serva para observador? Há situações na política para as quais se exigem explicações. Não se pode aceitar um veto sem razões plausíveis. Vetar por vetar abre a cortina da desconfiança de que, atrás do gesto, oculta-se uma intenção antidemocrática de fraudar a vontade popular.
A posição brasileira, no caso, é das mais importantes e expressivas. Afinal Nelson Jobim é um ex-ministro da Justiça e também ministro aposentado do STF. Não lhe faltam, portanto, características para exercer a tarefa que lhe foi atribuída, não apenas pelo Brasil, mas por um grupo de países, sem receber qualquer restrição. Isso de um lado. De outro, sobram sintomas antidemocráticos revelados ao mundo pelo governo de Caracas. As prisões de opositores são exemplos concretos.
SUSPEITAS
Reforçam-se as suspeitas de que o presidente, que se diz seguidor de Simon Bolívar, deseja influir sem limites na campanha eleitoral e nas próprias eleições de dezembro. Não pode haver outra tradução para sua atitude. Pois se o comportamento do governo estivesse projetado para dentro da normalidade, não haveria razão alguma para o veto, uma bofetada diplomática na face da democracia.
Nicolás Maduro revela, assim, ser prisioneiro de si mesmo, prisioneiro do próprio poder que o sustenta na presidência. Com sua atitude de agora, lembra a ditadura político militar que vigorou no Brasil de 64 a 85. Ela não podia perder as eleições. Foi derrotada amplamente no pleito de 74, e o que aconteceu? Restringiu ao máximo a propaganda eleitoral nas emissoras de televisão e rádio, criou, em 78, governo Ernesto Geisel, as eleições biônicas, indiretas, pelas Assembleias Legislativas dominadas pelo poder central.
O poder se distanciava do voto popular, porque sabia que nele perderia as eleições. O que Nicolás Maduro tenta repetir na Venezuela, na verdade, é apenas isso. Vencer no tapete da atemporização, fraudando a revelação livre as urnas. Portanto, o veto a Nelson Jobim não é somente um veto ao Brasil, que ele impõe excluir da condição de observador, substituindo por outro representante, porém de sua confiança pessoal. São razões suficientes para que se forme ainda mais nitidamente à sua volta a sombra da desconfiança, para dizer o mínimo.
Por todos esses motivos, a presidente Dilma Rousseff tem obrigação de reagir com altivez e independência. Não importam outras razões, quaisquer que sejam. Está em foco a soberania brasileira. O veto foi de desconfiança à presidente do Brasil e ao país. Fonte: Tribuna da Internet