Em um dia como outro qualquer, André Marques chegou a uma de suas lojas de carnes selecionadas, na Zona Oeste do Rio, para acompanhar o andamento de uma obra. Percebeu que a vista estava embaçada e pensou que era hora de corrigir o grau dos óculos. Mas naquele exato momento uma revolução muito maior aconteceu.
O hoje apresentador do programa É de Casa, que pesava 160 quilos, reconheceu que o sobrepeso cobrou um alto preço: ele desenvolveu diabetes e, se não se cuidasse, perderia a visão. “Quando a saúde ficou ruim, percebi que era preciso melhorar para não morrer. Dizem que existe vida melhor depois desta, mas por enquanto quero curtir aqui”, avalia André. Em janeiro de 2014, ele deixou de lado o medo de ser operado e encarou a cirurgia de redução do estômago.
Hoje, aos 35 anos e com 73 quilos a menos, ele voltou ao mesmo peso que tinha aos 18, quando estreou na TV como Mocotó, em Malhação. “Minha história é de superação. Chegou um momento em que perdi o controle do peso. Agora tenho mais disposição, resgatei a autoestima e o exame de sangue mostra taxas ótimas. O médico queria até me clonar!”, diverte-se.
QUEM: Vida nova, hábitos novos?
ANDRÉ MARQUES: Mesmo operado, se você não adquirir hábitos saudáveis está perdido. Tenho um novo estilo de vida, que é ainda mais saudável que na época de adolescente. Quando se é mais novo, o corpo reclama menos das besteiras que se faz, porque o metabolismo é acelerado como uma Ferrari. Tudo de que você já ouviu falar eu tentei. Remédio, todas as dietas possíveis, umas sete lipoaspirações, spa… Fiz de tudo e nada trazia benefício a longo prazo. Depois que operei o estômago e postei foto sem camisa, começaram a dizer que eu havia feito abdominoplastia. Não. A bariátrica é um método agressivo. O estômago é grampeado, impedindo você de comer muito. Os primeiros quatro meses são ruins. Acho curioso quando falam que operar é mole. Vai encarar para ver! Para mim foi uma experiência que deu certo, mas tem gente que se arrepende.
QUEM: O que o fez dar o passo seguinte?
AM: Descobrir que a vista embaçada era porque havia me tornado diabético em função do peso extra. Na época ainda questionei: “E se eu morrer durante a cirurgia bariátrica?”. O médico disse que eu tinha muito mais chances de morrer de uma complicação associada à obesidade mórbida. Senti que era sério. Operei uns seis meses depois desse episódio.
QUEM: Quanto você pesava?
AM: Cheguei a 160 quilos. Já disseram que eu estava com 162, mas não é verdade. Dois quilos para um gordo são como 50 reais para quem está sem dinheiro. Hoje tenho 87, perdi, portanto, 73 quilos. Já estive com 84, mas engordei um pouquinho nas férias.
QUEM: Quando a balança oscila, acende algum sinal em você?
AM: Crio um teto para não me estressar. O meu é de 90 quilos, um peso maneiro para meu 1,80 metro de altura. Uma vez, quase cheguei a esse ponto e entrei em uma dieta punk. Depois de um ano de operação, fizeram um checkup completo em mim. Queriam até me clonar de tão bonitas que estavam as taxas. Agora me alimento bem.
QUEM: Nessa transformação do corpo, o que mudou em você?
AM: Tenho mais disposição para brincar com meus cinco cachorros, em casa. Consegui coisas simples, como amarrar o cadarço do sapato, o que já não dava mais. Quando se é obeso, você se limita por falta de disposição. Há a parte chata. Como tenho loja de carnes, posto fotos comendo e existe uma patrulha nas redes sociais. As pessoas acham que quem opera para de comer de vez (risos)! Eu me alimento a cada duas horas, não fiquei neurótico.
QUEM: Como está a questão da autoestima?
AM: Essa é a parte mais legal! Quando viajava e encontrava uma camisa XXXL que ficasse boa, comprava 20 ou 30 daquela. Era compra por amostragem. Gosto muito de tênis, mas esses sempre couberam. Poder comprar a roupa de que gosto é legal, embora tenha passado a gastar mais (risos). É um resgate maneiro de coisas que eu fazia. Não ligo para marca, tenho camisas de 10 e de 100 reais. Antes, era uma questão de servir ou não. E há outras coisas favoráveis que você começa a sentir na pele por estar bem de saúde. Quando eu ia para uma locação com muitas escadas, o meu humor acabava, eu ficava cansado.
QUEM: Até o humor mudou?
AM: Mesmo gordo, eu era bem-humorado… Só que me estressava mais. Meu psiquiatra me dizia que não acreditava como eu tinha forças para levantar e ir trabalhar, porque meus exames hormonais mostravam que eu era um cara com depressão profunda. Nesse sentido, mudou.
QUEM: E em relação ao assédio feminino, rolou uma mudança também?
AM: Ah, melhorou, mas nunca tive grandes problemas nessa área. Se eu achasse uma mulher gata, azarava gordo mesmo. Eu cantei a Xuxa! Ela perguntou: “Você está me paquerando?”. Eu disse quesim e que um dia ia contar para os meus netos que vovô paquerou a Xuxa! Sempre tem um chinelo velho para um pé descalço. Claro, você tem mais chances se está mais bem apessoado. Dizer que estou no padrão acho ruim, porque o dito padrão de hoje é muito magrelo. Estou bem e minhas roupas cabem (risos). Mas também já ouvi que estou com cara de doente, que gordo eu era melhor. Nesse meio tempo, me arrumaram um monte de namoros falsos, com a Dani Bananinha, Anitta, Thaila Ayala… São todas minhas amigas. Tem gente que não acredita em amizade entre homem e mulher. Eu acredito. Lógico, no primeiro momento você tenta pegar, mas quando vira muito amigo, já era!
QUEM: Hoje você está namorando?
AM: Ninguém é 100% sozinho, mas se não há foto de beijo provando…
QUEM: A vida sexual mudou ao emagrecer?
AM: Quando eu estava gordinho, me cansava mais, mas também me dedicava em dobro. As melhores mulheres que tive, sexualmente falando, não foram as mais gatas. A disposição física muda, sem dúvida. Com mais disposição, você tem condições de ajudar sua parceira a realizar uma ideia mais mirabolante. Mas, quando existe uma química legal, não precisa fazer um Cirque du Soleil na cama. “Papai e mamãe” maneiro já resolve. Tem gente que quer fazer malabares, mas não tenho mais idade para isso.
QUEM: Sonha em formar uma família?
AM: Quando penso que quero ter filho, pego mais um cachorro (risos). Com 15 anos, eu namorava a (atriz) Fernanda Rodrigues e queria ser pai de qualquer jeito. O filho é seu… Não se pode ser pai só para dizer aos outros que você tem filho, para dar continuidade à sua história apenas ou entregar na mão da babá para criar. Tenho vida sem rotina, então no momento não faz parte dos meus planos.
QUEM: E como tem sido a experiência de fazer o É de Casa? Após as críticas iniciais, o programa já encontrou seu rumo?
AM: Toda novidade gera desconfiança. É um espaço a se conquistar na grade de programação e adorei a ideia, estou amarradão. Mas eu também penso em ter um programa só meu, de auditório, com calouros. Sei que é preciso esperar pelo tempo certo. Não tenho pressa. Os grandes talentos estão escondidos no meio do povo. Faustão, Ana Maria Braga, Silvio Santos para mim são inspiração. Chacrinha ultrapassa qualquer avaliação. Se eu conseguisse ter a loucura do Fausto e o domínio do ao vivo da Ana Maria já seria excelente.
Fonte: Revista quem Globo