Três delatores ligaram o senador mineiro e presidente nacional do PSDB a propinas, mas em dois casos o Supremo não viu indícios contra o tucano. Depoimento de lobista ligado a Dirceu ainda precisa ser analisado
Relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o ministro Teori Zavaski determinou nesta sexta-feira (19) o arquivamento da investigação sobre as acusações por Carlos Alexandre de Souza, o Ceará, entregador de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Teori não viu consistência nas afirmações de Ceará. É a segunda menção ao nome de Aécio que é arquivada. A primeira citação, feita por Youssef há mais de um ano, também não avançou pela mesma avaliação: falta de evidências.
Há uma terceira menção ao tucano no âmbito da Lava Jato que ainda precisa ser analisada. Ela foi feita no início de fevereiro pelo empresário e lobista Fernando de Moura.
Apesar das citações, Aécio não é alvo de um inquérito da Lava Jato. Isso só ocorre após uma análise preliminar das acusações feitas em depoimentos. É o que vem sendo feito pela Procuradoria-Geral da República.
Por ser senador, qualquer inquérito contra ele só pode ser aberta com autorização do Supremo Tribunal Federal.
Abaixo há um resumo sobre quem citou o líder da oposição e em quais circunstâncias as menções ao seu nome ocorreram:
O depoimento de Youssef#
A primeira citação ao nome de Aécio foi feita por Youssef. Em sua delação premiada, o doleiro disse ter ouvido do ex-deputado José Janene (PP) – morto em 2010 – que parte da propina arrecadada em contratos de uma diretoria de Furnas seria dividida com Aécio.
A citação foi feita no início de 2015 e analisada pela Procuradoria-Geral da República antes da divulgação da lista de políticos investigados, que ficou conhecida como a “lista de Janot”. O procurado-geral, Rodrigo Janot, não incluiu Aécio entre os investigados por considerar que faltavam evidências contra o senador.
O depoimento de Ceará#
Carlos Alexandre de Souza Rocha foi o segundo a citar o nome de Aécio. Responsável por entregas de dinheiro de Alberto Youssef, Ceará, como é conhecido, disse que levou R$ 300 mil ao escritório da construtora UTC, no Rio, e ouviu de um diretor da empresa chamado Antônio Carlos D’Agosto Miranda que a propina era para Aécio.
Ceará disse ter estranhado que um nome da oposição estivesse sendo favorecido no esquema de corrupção. “Ceará, aqui a gente dá dinheiro pra todo mundo: situação, oposição, pessoal de cima do muro, pessoal do meio de campo, todo mundo”, teria respondido Miranda.
O depoimento foi prestado em meados de 2015, mas ficou em sigilo por determinação do Supremo Tribunal Federal até dezembro. O delator citou também os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O caso de Randolfe foi arquivado por falta de provas, assim como o de Aécio agora.
O depoimento de Moura#
No início de fevereiro de 2016, o lobista Fernando de Moura disse em depoimento na Justiça que Aécio receberia ⅓ de propina em um esquema em Furnas, que seria semelhante ao montado em outras estatais, inclusive, a Petrobras. Moura disse que ouviu do petista José Dirceu, logo após as eleições de 2002, que o diretor de Furnas era “o único cargo que o Aécio pediu pro Lula”, quando este foi eleito para o Palácio do Planalto.
O escolhido teria sido Dimas Toledo, funcionário de carreira da estatal que já ocupava o cargo de direção no governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo Fernando de Moura, assim que foi confirmado na direção de Furnas, Toledo lhe disse que o esquema de propinas seria semelhante ao de outras empresas estatais. “Ele [Toledo] disse: ‘Não precisa nem aparecer aqui. Vai ficar um terço São Paulo [PT paulista], um terço nacional [PT nacional] e um terço Aécio'”.
Toledo deixou a diretoria em agosto de 2005, depois que Roberto Jefferson denunciou o mensalão e citou um esquema de caixa dois na estatal de energia.
Foram pelo menos três depoimentos de Fernando de Moura. No primeiro, dado ao Ministério Público na delação premiada, em agosto de 2015, ele concentrou suas denúncias no ex-ministro José Dirceu. No segundo, prestado a Sérgio Moro em janeiro, negou ilegalidades envolvendo o petista. Menos de uma semana depois, voltou atrás, pediu desculpas e disse ter mentido porque se sentiu “ameaçado”. Dessa forma, reiterou as acusações contra Dirceu. Foi nesse terceiro depoimento em que o nome de Aécio apareceu.
Durante seu período como governador, entre 2003 e 2010, Aécio, hoje um dos principais líderes da oposição, tinha uma relação amistosa com o governo federal e com Luiz Inácio Lula da Silva, presidente durante a mesma época.
A reação de Aécio#
O presidente do PSDB sempre negou as acusações. Sobre a mais recente, divulgou um vídeo nas redes sociais no dia 4 de fevereiro. Nele, Aécio argumentou que, como governador de oposição, não tinha poder sobre nomeações em estatais do governo federal. “Isso seria como se o técnico do São Paulo escalasse o time do Corinthians em uma decisão”, comparou.
Sobre os arquivamentos, divulgou nota dizendo que a decisão do Supremo “desmascara mais uma torpe tentativa de envolver nomes da oposição no mar de lama que envolve o PT e o governo e que a operação Lava Jato tem mostrado ao país.”
Fonte: Nexo