Testemunhando diante de vítimas de abuso em um quarto de hotel de Roma, Pell afirmou à Real Comissão da Austrália sobre a Resposta Institucional ao Abuso Sexual Infantil que muitas vezes não se acreditou nas crianças e que os padres violadores eram transferidos de uma paróquia a outra.
“A Igreja cometeu erros enormes e está trabalhando para remediá-los, mas a Igreja, em muitos lugares, certamente na Austrália, fez besteira, decepcionou as pessoas”, disse Pell por videoconferência à comissão em Sydney. “Não estou aqui para defender o indefensável”.
O inquérito australiano sobre casos de abuso sexual ocorridos décadas atrás está tendo implicações mais amplas no tocante à responsabilização de líderes da Igreja por causa da posição destacada de Pell no Vaticano, onde hoje ele atua como ministro das Finanças.
Pell, de 74 anos, se tornou o alvo da frustração das vítimas pelo que elas classificam como uma reação inadequada da Igreja Católica. O cardeal não foi acusado de abusos sexuais e já se desculpou duas vezes pela resposta lenta do Vaticano.
Pell afirmou várias vezes que estava ciente dos boatos e das queixas contra clérigos pedófilos nos anos 1970, quando ainda era um padre jovem, mas que as autoridades da Igreja tendiam a dar o benefício da dúvida aos padres, algo que ele admite ter sido equivocado.
Os abusos sexuais cometidos por membros da Igreja vieram à tona em 2002, quando se descobriu que bispos da área da cidade norte-americana de Boston transferiam os estupradores de uma paróquia a outra em vez de expulsá-los. Desde então foram revelados escândalos semelhantes em todo o mundo, e dezenas de milhões de dólares já foram gastos em indenizações.
Ironicamente, a audiência em Roma começou poucas horas antes da cerimônia do Oscar em Hollywood, na qual “Spotlight”, filme que mostra o acobertamento sistemático de abusos sexuais na Igreja de Boston, venceu o prêmio de melhor filme do ano.