A balada de Mick
Como foi a festa particular de Mick Jagger em uma casa de um empresário em Porto Alegre
Mick Jagger gosta de dançar. Não é coisa só de show. Ele gosta mesmo. Encomenda baladas particulares pelos lugares que passa com um propósito: mexer as pernas e os braços sem coreografia certa. Na lista nada econômica de pré-requisitos para a festa decretou conforme seu shuffle: nada de house music e techno, só indie e rock alternativo dos anos 90, hip-hop, rap e reggae. Funk brasileiro? Ok. Em contrapartida, alertou em letras garrafais – O DJ NÃO PODE TOCAR NENHUMA MÚSICA DOS ROLLING STONES.
O cerco foi armado na casa do empresário Dody Sirena. Na chegada, os 150 convidados entregavam o celular em troca de uma pulseira VIP para acessar a função e já se inteiravam do rol de “nãos”. Nada de fotos, autógrafos ou movimentos bruscos em direção aos ídolos. E no fim, quem esperava encontrar Keith, Roonie e Charlie ficou na vontade. O trio preferiu banho e cama. Mas do topo dos seus 72 anos, Mick é do agito.
Não interessava o bar com diversos sabores de caipirinha, o serviço do 300 — um dos melhores restaurantes da cidade —, as 120 velas espalhadas pelo ambiente ou os doces com estampa decorativa dos Stones. Ele queria dançar. Não comeu, bebeu três águas sem gás e se jogou no sofá esperando a pista animar. De tempo em tempo, tirava um álcool gel do bolso e esfregava as mãos.
A dona da casa começou a ficar ansiosa: “gente, ninguém dança, ele já foi três vezes espiar a pista, vamos lá”. O problema é que o objetivo dos convidados não era bem aproveitar a balada. Era observar, matar a curiosidade e, com sorte, trocar alguma palavra com o cara – ou um selinho, como comentava uma jovem em bom tom. A turma teve dificuldades para agir naturalmente e administrar o caso. Ficou tensa, com olhos esbugalhados em direção ao artista. Era um exercício de análise em conjunto.
Até que uma loira animada cruzou o caminho do roqueiro ao som de All Night Long, de Lionel Richie, requebrou um pouco e conquistou sua confiança. Mick puxou a guria e os amigos para a frente do DJ e, consequentemente, o resto dos convidados. Nunca se viu uma pista bombar tão rápido. Todos queriam moves like Jagger. Ou melhor, “with” Jagger. Valia ir até o chão, jogar os braços para cima e bater cabelo.
Tudo para conseguir atrair o roqueiro que, ao seu estilo peculiar de bailar, trocava um passo aqui e outro ali com quem lhe chamasse a atenção. Mas sempre concentrado na dança, sem mostrar os dentes, focado no objetivo final. Alguém gritou de lá: vamos pedir Baile de Favela! No que ele rebateu em dúvida, com aquele sotaque britânico: “Baile de Favela?”. Achou melhor não. Seguiu o seu baile ao som de “celebrate good times, come on!”. E nem adiantava pedir para trocar o ritmo, a música batia conforme seu setlist.
Dançou quatro ou cinco músicas e matou a vontade. Abandonou a pista cheia, mas não sem antes pedir para o DJ baixar o volume. Saiu à francesa, deu um tempo em um dos quartos da casa e partiu. Foi aí que a turma relaxou, o som subiu e a festa começou.