Mesmo após ter sido sancionada pela presidente Dilma Rousseff a lei que autoriza o uso da fosfoetanolamina sintética por pacientes diagnosticados com tumores malignos, a forma de obtê-la permanece uma incógnita. Depois que a USP recebeu aval do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) para interromper o fornecimento da substância a pacientes com câncer, os apelos judiciais à universidade para que envie mais pílulas não estão sendo atendidos.
Para quem espera receber as cápsulas, a interrupção no envio significa que o meio mais seguro de obtê-las, o judicial, não tem mais dado resultados. Advogados que antes endereçavam os processos ao laboratório do Instituto de Química em São Carlos agora aguardam a definição das instituições que irão fabricar e encapsular a substância para tentar obtê-la. A expectativa é que o laboratório PDT Pharma, de Cravinhos (SP), a produza, e a Fundação para o Remédio Popular (Furp) a distribua para testes clínicos — mas não para a população em geral.
— Se a medicina convencional não tem o que oferecer, a pessoa ou seu responsável deve poder assinar um termo e receber as cápsulas. A lei já está aí, o que precisa acontecer é que essas cápsulas cheguem às mãos das pessoas que estão necessitadas — pede João Soares, marido de uma vítima de câncer que mora em São Leopoldo.
Entidades médicas e de saúde, como a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), se opõem a que a fosfoetanolamina seja acessível antes de ficar comprovada sua eficácia.
— Pessoas desesperadas tomam decisões ruins. E o que os criadores dessa pílula vêm fazendo é alimentar esses pacientes e suas famílias com uma “solução mágica”, colocando nas mãos deles uma substância não reconhecida como medicamento e sobre a qual pouco se sabe — garante o médico Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Outro risco é o de a esperança de cura pelo uso das pílulas tirar o foco dos doentes de seu tratamento tradicional. Para a oncologista clínica do Hospital Moinhos de Vento Daniela Dornelles Rosa, esse efeito psicológico da fosfoetanolamina nem sempre é benéfico:
— Tem uma questão pública, de histeria coletiva, inclusive levando política a uma história que é científica. Para o paciente, fica essa impressão de que a fosfoetanolamina é algo mágico, que pode salvar todo mundo do problema, mas ainda não temos comprovação disso. É difícil lidar com essa situação. Parece que o oncologista não quer a cura do câncer, o que é uma bobagem.
Fonte: Zero Hora