A delegada Cristiana Bento, responsável pelo caso de estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro (RJ), confirmou a existência de crime em entrevista coletiva nesta segunda-feira (29/5). Ela afirmou que o vídeo divulgado na internet, em que vários homens encostam nas partes íntimas da garota enquanto riem dela, nua, machucada e desacordada, já atesta a prática criminosa, mesmo que o laudo pericial não tenha encontrado indícios de violência.
Os policiais civis do Rio de Janeiro que estiveram no comando do caso causaram polêmica ao questionarem o depoimento e os vídeos da agressão, dizendo duvidar da existência de crime. No entanto, mesmo que não houvesse conjunção carnal, a lei brasileira define, desde 2009, que atos libidinosos também são considerados estupro.
“O vídeo mostra um rapaz manipulando a menina, o estupro está provado”, afirmou a delegada, “O que eu quero provar é a extensão desse crime”. Seis mandados de prisão temporária já foram expedidos, incluindo o do responsável pela divulgação do vídeo, Raí de Souza, do chefe do tráfico na favela onde ocorreu o crime, Sergio da Silva, conhecido como Da Rússia, e de Lucas Perdomo, que seria namorado da vítima. Quatro deles estavam foragidos até o fechamento desta matéria.
O laudo oficial do Instituto Médico Legal, resultado do exame feito quatro dias após o estupro, não encontrou indícios de violência. Segundo ela, o fato de a adolescente ter demorado para ser examinada interferiu na falta de elementos periciais comprovados.
O Chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, já tinha adiantado, no domingo (28), que não havia sangue nas imagens e que, portanto, o laudo não apontaria agressão. Nesta segunda-feira (30), entretanto, ele acrescentou que a ausência de indícios de violência não significa que o crime não ocorreu.
Segundo Cristiana, o laudo pericial não é a determinante em casos de crimes sexuais, porque o resultado pode não dar a noção exata do que ocorreu. “Às vezes há lesão, mas foi consentida pela vítima. E pode acontecer de ter havido estupro mesmo não tendo havido lesão”. Além da demora na realização do exame, o fato de ela estar dopada também pode ter resultado em ausência de indícios de violência. “Como ela estava desacordada, não vai haver lesão porque ela não ofereceu resistência”, ressaltou a delegada.
Crime
O crime ocorreu no último dia 21 de maio em uma favela da zona oeste do Rio de Janeiro. A vítima foi estuprada por cerca de 30 homens e acordou no dia seguinte cercada por indivíduos armados. Depois de voltar pra casa, tomou conhecimento do vídeo que a expunha e foi atrás do chefe do tráfico na favela para falar sobre o caso.
Ela só prestou depoimento e procurou ajuda médica depois que a família foi informada por um vizinho que o vídeo estava circulando na internet. Dois dos suspeitos de participação no estupro falaram com a polícia. Entretanto, em vez de receber apoio, o depoimento da jovem se tornou motivo de polêmica.
Frente aos comentários do delegado responsável pelo caso, Alessandro Thiers, que, além de fazê-la assistir o vídeo mais uma vez, perguntou se ela gostava de sexo grupal, a advogada da jovem, Eloísa Samy, pediu sua saída das investigações. Em entrevista ao Fantástico no domingo (29), a vítima disse que foi tratada por ele como culpada pelo estupro.
Thiers, que não indiciou ninguém porque ainda estaria investigando se houve consentimento e porque ainda não havia indícios contra ninguém, mesmo com o vídeo divulgado, foi afastado. No vídeo, os agressores dizem que ela foi abusada “por mais de 30”, mas o delegado disse que a Policia não poderia comprar a “ideia” de que houve estupro coletivo.
Como a jovem é menor de idade e está sendo ameaçada, a polícia a colocou no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte e Samy deixou o caso. Agora, ela será representada pela Defensoria Pública do Rio. Depois da saída de Thiers, o crime é investigado pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV).
Fonte: Jornal Opção
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