Pesquisadores americanos anunciaram ter descoberto como o vírus zika é transmitido da mãe para o bebê durante a gestação. A descoberta abre caminho para compreender e potencialmente evitar as mais devastadoras consequências da infecção pelo zika: as profundas lesões cerebrais no feto em desenvolvimento que levam à microcefalia e outras alterações incapacitantes, algumas delas, letais.
O grupo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, conseguiu reproduzir em laboratório o processo de infecção da células da placenta humana. Publicada na edição desta semana da revista científica “JCI Insight”, a pesquisa lança luz nas armas usadas contra o zika para vencer a chamada barreira materno-fetal, uma camada de células que protege o feto de micro-organismos e substâncias nocivas.
Alguns vírus, como os da rubéola e o citomegalovírus, conseguem atravessar essa barreira. Mas os mecanismos empregados pelo zika permaneciam misteriosos. Liderada por Erol Fikrig, a equipe de Yale trabalhou com três diferentes linhagens de zika, dentre elas a brasileira.
Também realizaram testes em três tipos de células da placenta: fibroblastos, citotrofoblastos e células de Hofbauer. As células foram extraídas de placentas humanas doadas logo após o parto, de gestações sem nenhum tipo de complicação.
Dois tipos de células se mostraram indefesos contra o ataque do zika. Tanto fibroblastos quanto células de Hofbauer foram facilmente infectados em culturas de laboratório. Porém, as células de Hofbauer também são alvo dentro de todo o tecido placentário.
A aposta dos cientistas é que essas células funcionem como usina de replicação do zika. O achado é particularmente alarmante porque essas células podem migrar por toda a placenta e são transportadas para o feto.
— Essas células são específicas da placenta. Vimos que podem funcionar como um reservatório para a produção do zika — disse Kellie Ann Jurado, uma das autoras do estudo.
A suspeita do grupo de pesquisa é que as células de Hofbauer levem o zika diretamente para o cérebro do bebê. Os cientistas agora começam a testar formas de bloquear a produção do vírus dentro dessas células e interromper sua circulação pela placenta. Bloquear somente as células é impossível porque são importantes durante a gestação. O desafio é desativar os mecanismos de ação do vírus sem prejudicar o feto.
Fonte:Oglobo