Alguns investidores estrangeiros, temerosos sobre o futuro do governo americano por causa das incertezas ao redor das eleições presidenciais dos Estados Unidos, estão evitando os títulos de dívida e ações de empresas americanas.
Essa cautela tem origem no plebiscito sobre a Brexit, quando pesquisas e corretores de apostas previram que os britânicos votariam pela permanência na União Europeia e os mercados despencaram quando a maioria optou por sair.
Alguns gestores de fundos estrangeiros dizem acreditar que uma vitória do candidato republicano Donald Trump prejudicaria os mercados, considerando o que eles acreditam ser uma falta de clareza nas propostas e da retórica contra o livre comércio.
Na segunda-feira, o PredictWise, projeto de pesquisa da Microsoft, baseado em Nova York, que compila dados de pesquisas de opinião e de apostas nos EUA, deu a Clinton uma chance de 87% de se tornar presidente do país. Mas nova pesquisa da rede de TV ABC e do jornal “Washington Post” coloca Trump na liderança, com 46% das preferências, contra 45% de Clinton.
A notícia divulgada na sexta-feira de que o FBI, a agência federal de investigações dos EUA, está reexaminando os e-mails de Clinton deve ter influenciado o resultado da pesquisa.
Embora muitos agentes de apostas ainda prevejam uma vitória de Clinton, alguns investidores vêm demonstrando cautela.
Os fundos estrangeiros sacaram um total líquido de US$ 577 milhões das ações de empresas americanas na semana encerrada na quarta-feira passada, enquanto os fundos dos EUA adicionaram US$ 607 milhões em investimentos, segundo a provedora de dados EPFR Global. Os gestores de fundos estrangeiros retiraram dinheiro de ações de empresas americanas em sete das últimas oito semanas, segundo os dados.
Os fundos americanos também retiraram dinheiro das ações no mesmo período, mas os dados são menos claros.
Sem dúvida, há outras razões pelas quais os fundos estrangeiros estão evitando os papéis dos EUA, como um pico histórico de valorização das ações e a incerteza quanto ao crescimento econômico e o ritmo do aumento dos juros pelo Federal Reserve, o banco central do país.
“Os investidores estrangeiros estão vendo as eleições americanas de uma perspectiva diferente dos americanos”, diz Kristina Hooper, estrategista de investimentos nos EUA da firma alemã Allianz Global Investors.
“Se a Brexit nos ensinou alguma coisa, é que não podemos confiar nas pesquisas de opinião, sobretudo quando os entrevistados acham que suas opiniões são impopulares”, diz ela, referindo-se ao referendo que provocou a saída do Reino Unido da União Europeia.
Na sequência imediata do referendo de 23 de junho, o S&P 500 perdeu 3,6% e o Stoxx Europe 600 recuou 7%. A libra esterlina caiu ao seu ponto mais baixo em 30 anos em relação ao dólar, e continua até agora mais ou menos nesse nível.
Na América do Sul, os investidores vivenciaram outro exemplo recente de erro nas pesquisas. No início de outubro, os eleitores colombianos rejeitaram um acordo de paz com as FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, embora as pesquisas de opinião sugerissem uma confortável vitória do “sim”. Os mercados do país e o peso colombiano tiveram forte queda após a votação.
Colin Graham, diretor de alocação de ativos do francês BNP Paribas Investment Partners, disse que vai reavaliar sua pequena posição em ações americanas depois que a eleição estiver decidida e houver clareza nas ações do Fed quanto à taxa de juros, em dezembro.
“Para nós, investidores internacionais, a questão é por que agir agora, se daqui duas semanas vamos saber de um jeito ou de outro”, diz ele.
Da mesma forma, alguns investidores asiáticos também dizem que há pouco incentivo para investir dinheiro nos EUA antes da eleição.
“Há tempo de sobra para se envolver após a eleição”, disse Michael Wegener, sócio administrativo do Case Equity Partners, fundo de eventos de Hong Kong.
Se Hillary Clinton vencer as eleições, os mercados de ações dos EUA podem ter uma rápida recuperação, com esses investidores logo voltando a comprar, dizem pessoas do mercado.
É comum haver uma alta após uma eleição.
O mercado de ações do Reino Unido e a libra esterlina subiram após as eleições gerais de 2015, mostrando alívio com a vitória do Partido Conservador.
As ações de firmas americanas subiram depois que George W. Bush venceu o candidato democrata John Kerry e foi reeleito presidente em 2004.
Nas eleições americanas de 2012, as bolsas caíram logo após o presidente Barack Obama vencer Mitt Romney, mas voltaram a subir mais tarde no mesmo mês.
A candidata Hillary Clinton também vem manifestando opiniões contra os acordos de comércio internacional. Mesmo assim, alguns investidores estrangeiros dizem que favorecem a democrata porque creem que ela provavelmente seguirá a mesma direção do seu antecessor, de modo geral, mas não têm tanta certeza sobre o que Trump faria.
“Se Clinton ganhar, o que o mercado considera uma continuação da mesma política, pode haver grandes fluxos por parte de investidores estrangeiros que agora não estão comprando ações de empresas americanas”, diz Andrew Sheets, chefe de estratégia de ativos no Morgan Stanley.
Fonte: The Wall Streed Journal