Eleito presidente do Senado ontem por 61 dos 81 colegas, Eunício Oliveira (PMDB-CE) usou seu discurso de apresentação para enviar recados enfáticos a cada um dos três Poderes. Ao Congresso, assegurou que atuará como uma espécie de embaixador dos políticos. Ao governo Michel Temer, prometeu parceria na aprovação de reformas e unidade para superar a crise. A única mensagem dura foi feita de maneira velada e endereçada ao Judiciário. Sem citar o Supremo Tribunal Federal ou a Operação Lava Jato, Eunício prometeu “ser firme, duro e líder quando um Poder parecer se levantar contra outro Poder”.
O senador cearense foi alçado ao comando do Senado com base em uma aliança com seu antecessor no posto, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que agora será líder do PMDB. “Foi o caminho da tradição que me trouxe até aqui”, afirmou. “Não navegarei sozinho e não deixarei nosso barco à deriva.” Eunício citou o combate à corrupção em apenas uma ocasião durante sua fala. Disse que atuaria para que o Senado “não perca a corrente contemporânea da luta contra a corrupção”. Em seguida, porém, ressaltou a necessidade do respeito à separação entre os Poderes.
Renan foi um crítico do que chamou por vezes de usurpação de prerrogativas do Congresso e abusos do Judiciário. Ao se apresentar ao plenário, Eunício sinalizou que pretende adotar a mesma linha. Tanto ele como Renan foram citados por delatores da Lava Jato. Renan responde a oito inquéritos no esteio da investigação. Eunício não é alvo de abertura de inquérito, mas é acusado de ter recebido dinheiro ilícito para a campanha e de ter negociado mudanças em medidas provisórias com a Odebrecht.
Peso
A proeminência da operação, por exemplo, deu peso à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que tem entre as atribuições a missão de sabatinar tanto nomes indicados ao Supremo como o procurador-geral da República. Com a morte do ministro Teori Zavascki, são fortes as movimentações de bastidor no PMDB para emplacar no STF um nome que não seja “avesso à política”, mas sim “palatável à CCJ e ao Senado”. Nesse cenário, ganhou força dentro da bancada uma articulação para fazer de Edison Lobão (PMDB-MA) o presidente deste colegiado. A indicação não é consenso no partido. Lobão é um dos políticos do PMDB citado por mais de um delator como recebedor de propinas. (Folhapress)
Fonte: Comércio do Jahu