A casa no estilo colonial, em frente a praça principal, abriga uma loja de artesanato singular. É lá, que, usando matérias primas como palha de milho, sementes, folhas e flores do Cerrado, a artesã e empresária Maria de Fátima Dutra Bastos – conhecida como Fatinha de Olhos D`Água – dá vida a santos, presépios, orixás, anjos, guirlandas e outras peças. Olhos D`Água, que se tornou o `sobrenome artístico` de Fatinha, é um distrito do município goiano de Alexânia, localizado entre Goiânia (GO) e Brasília (DF). O segundo destino da Expedição #AquiTemSebrae é reconhecido por seu artesanato, que é fonte de renda para muitas famílias.
De brincadeira a ofício Filha e neta de fiandeiras tecelãs, Fatinha cresceu em meio à tradição do artesanato, mantida pelos moradores do pequeno povoado. De família pobre, conta que não tinham dinheiro pra comprar brinquedos quando ela era criança. Sua diversão era recolher as palhas do milho, que era dado aos animais da fazenda, e fazer bonecas. “Eram bem simplesinhas, sem muitos detalhes, amarradas com barbante e vestidas com pedaços de bucha vegetal, destas, de tomar banho”, conta. Com o passar do tempo, aprendeu a fiar e tecer peças de algodão, mas sempre fazia as bonecas para brincar. E, depois, para vender.
Nos anos 70, a chegada à Olhos D`Água da professora e pesquisadora da Universidade de Brasília, Lais Aderne, mudaria os rumos daquela comunidade, especialmente, de artesãos como a Fatinha. “Naquela época, o trabalho artesanal não tinha valor. A gente trabalhava e só dava pra se manter, ninguém imaginava que era possível ganhar dinheiro com artesanato. Ela viu este potencial e incentivou a produção e a comercialização do que a gente fazia”, explica Fatinha. E foi assim que surgiu a Feira de Trocas, realizada até hoje no povoado, que fica a pouco mais de uma hora de carro da capital federal. “Todo mundo achou aquilo o máximo. A gente trocou nossas peças por roupas boas, rádios, relógios, bicicletas. Os artesãos ficaram muito entusiasmados e mais gente passou a trabalhar com o artesanato, porque viu que podia ser um bom negócio. Eu fiquei feliz da vida, porque tinha 15 anos e enchi meu guarda-roupas de peças novas, que minha família não teria como ir à cidade e comprar”, diverte-se ela. Alegria e tristeza, juntasFatinha seguiu trabalhando na tecelagem com a família até que, em 1999, o artesanato em palha a levou a um desafio surpreendente. “O pessoal do Sebrae veio buscar as colchas que a gente tinha tecido para a primeira Rodada de Negócios de Artesanato, que ia acontecer em São Paulo, perto do final do ano. Foi quando a Tânia Bastos, consultora na época, viu um presépio antigo de capim e palha de milho que eu tinha feito, no canto da sala, todo empoeirado. Ela quis levar aquela peça pro evento. Eu fiquei com vergonha, porque ele já estava velho. Mas ela insistiu e levou”. Foi o ponto de partida para um negócio de sucesso.
A surpresa de Fatinha ao saber que aquele velho presépio tinha feito dela a artesã recordista em pedidos naquela rodada de negócios só não foi maior e a comemoração completa porque exatamente no mesmo dia desta boa notícia, ela soube que o irmão estava gravemente doente. “Foi uma diferença de menos de cinco minutos entre um telefonema e outro. Ao mesmo tempo em que eu estava tendo uma oportunidade maravilhosa com o meu trabalho, soube que meu único irmão estava com câncer, em estágio terminal. Foi muito difícil”, relembra.
Como boa empreendedora que é, decidiu encarar o desafio e entregar os pedidos: 50 presépios, totalizando 300 peças, todas cheias de detalhes. Pra dar conta de tudo, passava uma noite com o irmão no hospital e virava a outra trabalhando. “Eu tive que ser muito corajosa pra honrar o compromisso. Negociei com todos os lojistas, expliquei a situação e atendi todo mundo. Sabia que eram portas importantes que se abriam pra mim. Tanto que os que continuam com suas empresas são meus clientes até hoje”, reflete ela, que se emociona ao lembrar que o artesanato foi quem a ajudou a seguir a vida quando o irmão faleceu e a mãe ficou doente, pouco tempo depois da entrega dos presépios. A santa do Papa FranciscoQuase 20 anos depois daquela primeira grande encomenda, Fatinha pode dizer, com orgulho, que construiu uma trajetória de sucesso. “Acredito que o que me move é a inquietação, cada dia quero fazer melhor, quero fazer diferente. Por exemplo, criei uma técnica para que os santos tenham movimento, porque não gostava daqueles santos tipo estátua”, brinca ela. E, pra inovar sempre, a artesã está empenhada na pesquisa do milho que ela mesmo planta, porque quer ter cores diferentes e palha de boa qualidade. “Tenho um banco de sementes e sigo todo o ritual de plantio, respeitando, inclusive a lua certa. Aprendi que faz diferença. No mundo dos negócios é assim, a gente precisa ter humildade para entender que está sempre aprendendo”, afirma.
Se em 1999, ela entregou 50 presépios, com muita dificuldade e sem nenhuma estrutura; as encomendas para o Natal deste ano devem chegar a 1.500 peças. Só que agora, em um ateliê próprio e com 10 colaboradores contratados. As peças produzidas no ateliê Fatinha Fibras e Fios variam de 5 cm, como anjinhos para decorar árvores de Natal; a 2,8m, como o anjo que ela fez, sob encomenda, para um shopping de Brasília. Os valores variam entre R$ 5 e R$ 4 mil. Quando recebeu a visita da Expedição #AquiTemSebrae, em meados de outubro, ela ainda estava sob o impacto de um pedido muito especial. “O arcebispo de Brasília, que visitaria o Papa Francisco, viu uma santa que fiz há mais de 20 anos e a CNBB encomendou uma peça minha para presentar o Papa. Isso teve muita repercussão, foi uma grande responsabilidade pra mim e uma das maiores emoções da minha vida”, conta ela, segurando a foto que mostra o momento da entrega do presente ao pontífice. Em 2018, Fatinha também representou o artesanato brasileiro na Copa do Mundo da Rússia, quando fez esculturas de jogadores em palha de milho, que foram entregues ao presidente russo Vladimir Putin. Para se destacar no mercado, ela acredita que o artesão precisa ter, além de talento, muita responsabilidade e compromisso com os clientes. “Sempre tive muito amor à arte e sabia trabalhar, mas não tinha noção do que era ter um empreendimento. E precisei aprender. O Sebrae foi e é um grande parceiro. Aprendo muito com o Sebrae. Além de me levar para todos os grandes eventos, como a rodada de negócios, contribui sempre com a minha capacitação. O Sebrae elevou muito o artesanato, por exemplo, em eventos como a Casa Cor e o Brasil Original. Agora, para aproveitarmos oportunidades como estas, temos de ter seriedade no nosso trabalho, compromisso com a qualidade e com os prazos”, ensina Fatinha, que, entre outras conquistas, já foi três vezes reconhecida pelo Prêmio Top 100 de Artesanato. Uma jornada pelo BrasilA Expedição #AquiTemSebrae, que começou no último dia 4 de outubro, no Piauí, vai percorrer cidades das cinco regiões do Brasil, até o dia 6 de novembro. Serão contadas histórias de perseverança e dedicação, que mostram como o empreendedorismo transforma vidas, famílias, comunidades e cidades inteiras, de norte a sul do País. Depois de Esperantina (PI) e Olhos D`Água (GO), os próximos destinos serão cidades no interior do Pará, São Paulo e Santa Catarina. Cada região será representada pelo empreendedor de um estado, que compartilhará sua trajetória de dificuldades, superações, tropeços e conquistas. Toda esta jornada poderá ser acompanhada nos canais do Sebrae Nacional nas mídias sociais. Em Goiás, tem SebraeO Estado de Goiás tem 205.681 empresas (Receita Federal / CSE/2015) e cerca de 250 mil microempreendedores individuais – MEI (portal do Empreendedor/2018). O setor econômico predominante é o comércio. São 101,7 mil empresas, seguido de serviços (65.442) e indústria (35.838). Em 2017, o Sebrae em Goiás realizou 408 mil atendimentos a pessoas físicas e jurídicas, teve mais de 51 mil participantes em capacitações e realizou 182 mil orientações a MEI, microempresas e empresas de pequeno porte. Quer saber mais sobre a Expedição #AquiTemSebrae e a história da Fatinha? Acesse os links abaixo: Live com a empresária: https://www.facebook.com/sebrae/videos/317166252206333/
Evento Expedição #AquiTemSebrae: https://www.facebook.com/events/467795933731522/